Pessoas físicas vencem Wall Street e ação da GameStop dispara 300% no ano, mas futuro é incerto; entenda o caso

Posições vendidas dos grandes fundos de NY tiveram que ser liquidadas após o desempenho impressionante dos papéis da varejista

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A tradicional varejista de videogames americana GameStop acumula uma alta de 300% este ano apesar de problemas financeiros e de avaliações sobre seu modelo de negócios ser ultrapassado.

Empresa que ganhou força com o crescimento no mercado global de games e que chegou a ter suas ações negociadas a US$ 56,53 em 2013, os papéis da GameStop na NYSE (a Bolsa de Valores de Nova York) vivenciaram uma desvalorização bem incômoda depois de atingir essa marca.

A queda chegou a 93% desde então, com cada ação batendo US$ 4 na metade de 2020 conforme a pandemia de coronavírus acelerou uma tendência que já vinha ameaçando o modelo de negócios da companhia: a venda de jogos de videogame se tornou cada vez mais digital.

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Hoje, em qualquer plataforma atual que o usuário jogue seja PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X, Nintendo Switch ou smartphone é possível comprar jogos nas lojas online próprias de cada plataforma e os dados são descarregados imediatamente sem que seja necessário se locomover até uma loja física como a GameStop.

Com a mudança de hábito dos gamers, que passaram a comprar cada vez mais cópias digitais dos jogos pela praticidade, e também por serem usualmente mais baratas que as mídias físicas, a varejista americana começou a registrar prejuízos.

Em 2019, por exemplo, a companhia divulgou um prejuízo líquido de US$ 470 milhões. Além disso, logo no início da pandemia, a GameStop anunciou que fecharia permanentemente 300 lojas.

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No entanto, embora a tendência das vendas de jogos não tenha se revertido e lojas digitais como Steam, PSN, Xbox Live e Nintendo eShop estejam cada vez mais fortes, a ação da GameStop tem tido uma valorização de dar inveja a qualquer negócio digital disruptivo e revolucionário.

Só nesta terça-feira (26), os papéis da GameStop registram uma alta de 89,54% a US$ 145,55, acumulando mais de 300% de avanço no ano. Conforme comentou no canal gratuito do Telegram do InfoMoney, Guilherme Giserman, estrategista global da XP, o desempenho positivo começou com a notícia de que o co-fundador do pet-commerce Chewy, Ryan Cohen, passará a integrar o conselho de administração da empresa.

Cohen é dono de 13% das ações da GameStop e no ano passado escreveu uma carta criticando duramente a administração da companhia por não se atualizar diante da transição da mídia vendida fisicamente para os downloads digitais e o streaming.

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Quando Cohen foi anunciado como novo membro do conselho da empresa, as expectativas de que ele lideraria um turnaround, inserindo a GameStop no meio digital, fez com que as ações disparassem 55,8%.

O problema é que os grandes investidores de Wall Street, descrentes dessa revolução por conta de uma só mudança no conselho, começaram a tomar posições vendidas gigantescas nas ações da empresa,  apostando na desvalorização dos papéis.

Hoje, a disparada é resultada do fenômeno conhecido no mercado financeiro como short squeeze, que ocorre por conta dessas apostas na derrocada dos papéis. Para operar vendido em uma ação, o investidor precisa alugar o papel de alguém que o tenha comprado.

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Quem cede a ação ganha um pequeno valor de aluguel, enquanto quem paga para alugar pode vender a ação a descoberto, esperar que o preço caia e recomprar a um valor menor, ganhando com a diferença entre o preço com que vendeu o preço com que recomprou.

No caso da GameStop, a grande queda que os fundos de investimento de Wall Street estavam esperando não veio. Ao contrário, o papel continuou a subir até o ponto em que os grandes players foram obrigados a recomprar as ações antes do fim do prazo do aluguel para minimizar os prejuízos.

Juntaram-se, nessa situação, os investidores pessoas físicas extremamente otimistas com a GameStop e os “bancões” da elite financeira de Nova York querendo comprar as ações por motivos bem diferentes. Quando todos querem comprar, mas ninguém quer vender um ativo, a consequência pela lei da oferta e da demanda é sempre a mesma: os preços disparam.

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Como lembra Giserman, a tese de investimento na Gamestop é controversa e é difícil apontar quem está certo, os investidores pessoas físicas, que apostam em uma reestruturação da empresa, ou os grandes fundos de investimento, que não enxergam luz no fim do túnel para a decadência da companhia.

O certo é que com o prejuízo recente vai ser difícil os executivos de Wall Street se arriscarem tanto em suas apostas nessa decadência tão cedo.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.