Personagens: Eike Batista, de garimpeiro de oportunidades a homem mais rico do Brasil

Visionário, ousado e supersticioso: a trajetória do recém-formado que tomou emprestado R$ 500 mil e transformou-os em US$ 27 bi

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SÃO PAULO – Visionário, megalomaníaco, brilhante, exibicionista, ousado, supersticioso. Não são poucas as características capazes de descrever Eike Fuhrken Batista, o homem mais rico do Brasil e oitavo na listagem mundial segundo a revista Forbes, ao ser detentor de uma fortuna de aproximadamente US$ 27 bilhões.

Personagens do Mercado vai à procura da história atrás do mito, ao revelar como o minero de Governador Valadares conseguiu multiplicar 45 vezes seu patrimônio em 28 anos, entre reviravoltas, turbulências e algumas pitadas de sorte.

Primeiros passos
Nascido em Minas Gerais e criado no Rio de Janeiro, Eike deixa a cidade maravilhosa aos 12 anos e, com sua família, vai morar em Frankfurt, como decorrência a missão de seu pai, Eliezer Batista, incumbido de desenvolver a divisão europeia da Vale, empresa da qual foi presidente por dez anos.

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Aos 18, o mineiro decide cursar engenharia metalúrgica na Universidade de Aachen, considerada como uma das melhores da Europa na área. Durante sua estadia universitária, aperfeiçoou o inglês e aprendeu francês, além de praticar o alemão, o qual já falava em casa – fruto de sua descendência germânica, explicitada pela nacionalidade de sua mãe, Jetta Batista.

Por lá, com a renda apertada de um universitário, Eike começou a trabalhar como corretor de seguros, vendendo-os de porta em porta na pequena Aachen, de 260 mil habitantes. Depois, montou uma espécie de trading, ao negociar produtos brasileiros com comerciantes na Europa e na África.

De volta ao Brasil em 1980, inicia sua escalada empreendedora, a qual pode ser dividida em três fases: as aventuras na Amazônia e no Mato Grosso, a fundação da TVX e a expansão gigantesca e exponencial de sua holding, a EBX.

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Da Alemanha para o Mato Grosso
A primeira fase, também a mais arriscada, começa com um rumor de uma corrida do ouro na região de Alta Floresta, no Mato Grosso. Aos 23 anos e recém-formado, Eike entra de cabeça no comércio aurífero, atuando como intermediário de garimpeiros na venda do metal para os grandes centros do País, viajando pela Amazônia e pelo Centro-Oeste.

Em 1981, com 24 anos completos, Eike obtém R$ 500 mil emprestados por joalheiros de Rio e São Paulo e adquire a mina de Zetão, conhecido garimpeiro de Alta Floresta. Um ano após, já tinha um patrimônio próximo a US$ 6 milhões, com o qual decidiu mecanizar a produção mato-grossense.

A aposta de modernizar a produção, em meio a entraves logísticos, foi certa e o mineiro – em todos os sentidos – propôs sociedade à Paranapanema, que comprou 50% da mina e se comprometeu a quintuplicar a produção. Estabelecida a parceria, Eike compra uma mina no Amapá, vende-a logo depois e compra outra em Minas Gerais, através da qual consegue firmar parceria com a Rio Tinto, o que lhe rendeu mais e mais dinheiro.

A estratégia de se tornar o homem mais rico do Brasil já estava traçada desde os primeiros investimentos: encontrar bons ativos – com a ajuda de garimpeiros ou procurando projetos abandonados por falta de capital -, criar um projeto de exploração, atrair sócios para financiá-lo e, por um preço atrativo, se desfazer do negócio.

Flerte canadense
A segunda etapa da história de sucesso tem como ponto de partida um aporte canadense. De mina em mina, a história empreendedora de Eike desperta o interesse da Treasure Valley, mineradora do Canadá. Como decorrência, entre o final da década de 1980 e o início da subsequente, há uma fusão de ativos, da qual nasceram a TVX e a superstição pela letra “X” em suas empresas, como símbolo de multiplicação de riqueza.

Com participação de 11% na mineradora, Eike se tornou o principal acionista e presidente da mineradora listada nas bolsas de Nova York e de Toronto. Entre 1991 e 1996, o valor de mercado da companhia mais que triplicou, e a parte detida pelo mineiro inflava junto. Após desavenças com os sócios, vende a parcela na mina canadense e obtém seu primeiro bilhão, que serviu de base para sua terceira – e mais decisiva – escalada.   

Nos anos que seguem ao fim da sociedade com os canadenses, o Eike Batista passou por alguns tropeços, com o insucesso das seguintes empresas: a fábrica de jipes JPX, a EBX Express e uma franquia de cosméticos que levava o nome de sua ex-mulher, Luma de Oliveira, sex simbol brasileira na década de 1980. Contudo, um sucesso bastou para Eike conseguir sair de R$ 1 bilhão para R$ 27 bilhões: a prosperidade da EBX.

O céu é o limite
Criada em 1983, a EBX serviu como base para todas as investidas de Eike, das bem-sucedidas às que faliram. Em 1998, a holding inicia sua diversificação, ao investir em diversos setores, sempre com o olhar em projetos que foquem a infraestrutura e recursos naturais. Nasce assim diversas empresas, tais como a MMX (mineração), a MPX (energia), a LLX (logística), a OGX (óleo e gás) e a OSX (serviços em petróleo).

Dessa lista, a primeira a ser criada foi a MPX, cuja certidão de nascimento passa pelo Ceará. Após a crise brasileira de energia vivenciada em 2001, a MPX construiu a usina termelétrica denominada Termoceará, projeto que englobou investimento de US$150 milhões. Com prazo recorde de construção, a usina, com capacidade instalada de 220 MW, começou a operar no segundo semestre de 2002 e, em 2005, foi vendida à Petrobras.

Em 2005, a partir da descoberta de um depósito de minério de ferro de qualidade considerada na classe mundial, a EBX iniciou a construção de um novo projeto de mineração, embrião da MMX. A MMX foi criada em 2006, com três sistemas integrados (Corumbá, Minas-Rio e Amapá), aliando minas de minério de ferro e logística independente, além de plantas para a produção de metálicos.

Com as duas empresas na manga, Eike vai ao mercado de capitais conseguir financiamento. Favorecido pelo boom das commodities e pela prosperidade da economia brasileira à época, realiza o IPO (Initial Public Offer) da mineradora e, sem produzir um grama de minério de ferro, consegue captar R$ 1,18 bilhão – levantamento recorde do ano e o décimo segundo dentre os maiores da história do mercado brasileiro.

Um ano e meio após a estreia da MMX na bolsa, a Anglo American – única entre as grandes do mundo que não possuía ativos no Brasil – enxergou em Eike sua porta de entrada, ao oferecer US$ 5,5 bilhões por 49% dos sistemas Minas-Rio e Amapá. Fato curioso desta negociação foi o tempo da novela: quatro meses para a conclusão. Enquanto isso, Eike se aproveitava do interesse da Anglo American para fazer fama no mercado e ver suas ações subirem.  

Depois do sucesso da MMX, vieram ainda dois IPOs, o da OGX Petróleo, de R$ 6,711 bilhões – maior da história da Bovespa à época do lançamento –, e o mais recente, da OSX, que captou R$ 2,82 bilhões. Lista atualizada das dez maiores ofertas públicas iniciais da história brasileira carrega o nome de Eike em três: OGX (terceira), OSX (sétima) e MPX (nona, com captação de R$ 2,2 bilhões).

Com o acumulo de sucesso em suas investidas, Eike assumiu o posto de homem mais rico do Brasil, de acordo com a revista Forbes. Somada a captação da OSX, o mineiro ficaria entre a sétima e a quarta posição no ranking.

Mimos e superstições
Negócios a parte, Eike é conhecido por suas extravagâncias e superstição. Dentre os mimos, destacam-se o jato Legacy 600, de US$ 26 milhões; a lancha Spirit of Brazil, de US$ 1 milhão – coma a qual obteve o recorde da travessia Rio-Santos; o iate Pershing, de US$ 19 milhões; e os diversos automóveis, como dois Porche Cayenne e um Mercedes SL-R, avaliado em US$ 1,2 milhão e estacionado em sua sala de estar. O automóvel, que chega à velocidade de 334 km/h, é o hibrido que mais se aproxima de um Fórmula 1.

Quanto à superstição, Eike seguiu os conselhos de uma cartomante carioca e foi ao Peru, para Cusco – capital do Império Inca. Por lá, deitou-se de barriga para cima em um campo de futebol e mirou o céu por cinco minutos, apara reajustar a linha da vida. Ainda em Cusco, um guia apresentou-o a uma índia bruxa, a qual pediu que Eike comprasse um saquinho de folhas de coca. A feiticeira soprou-as e pontificou sobre o pai do visitante saúde e outros assuntos.

Suas superstições incluem também o logo de sua empresa, o qual está descrito no website da EBX da seguinte forma:

  1. O sol – elemento gráfico presente em todas as marcas do Grupo EBX, representa uma das principais divindades na cultura inca. Para nós, transmite força, poder, liderança e otimismo.
  2. O ouro – nossa vocação para investir em bons negócios, com geração de riquezas progressiva.
  3. Iniciais de Eike Batista.
  4. X – simboliza o potencial de gerar e multiplicar negócios, que acompanha as empresas do grupo EBX há 23 anos.
  5. O verde – respeito ao meio ambiente em todas as áreas que atuamos.
  6. Para o I-Ching, filosofia milenar da cultura chinesa, os três traços contínuos e paralelos carregam um forte significado, onde a aplicação da força criativa é o que torna uma grande ideia realidade e o sucesso só é conquistado através da perseverança.