Personagens do Mercado: Julian Robertson, a lenda do tigre entre ursos e touros

A história do norte-americano que transformou US$ 8 milhões em US$ 22 bilhões e previu a crise do subprime depois de aposentar-se

Publicidade

SÃO PAULO – O tigre, apesar de todo seu peso e tamanho, consegue se locomover com extrema graça e elegância, sem fazer o menor ruído. Em uma terra cercada de ursos e touros, em meio a um habitat hostil como o dos mercados financeiros, aparentemente o tigre é quem, com paciência e dedicação, consegue ir à caça em qualquer circunstância.

Da natureza predatória a um mundo parecido (dos investimentos), Personagens do Mercado revela a história de Julian Hart Robertson Junior, lenda dos hedge funds conhecida por transformar US$ 8 milhões no alvorecer da década de 1980 em US$ 22 bilhões no entardecer da década conseguinte.

Nascimento de um tigre
A história de Robertson começa na pequena Salisbury, cidade com aproximadamente 27 mil habitantes no estado de Carolina do Norte, onde nasceu em 1932, duas semanas antes da mínima histórica do índice Dow Jones e na efervescência da Grande Depressão dos EUA.

Não perca a oportunidade!

Para um tigre nascer, outro tigre precisa ser o antecessor. Seu pai, Julian Robertson, era um empresário do ramo têxtil com passagens memoráveis pelo setor bancário, além de exímio investidor.

Como marco, fundou o banco North Carolina National Bank – predecessor do NationsBank, que em 1998 adquiriu o BankAmerica para criar nada menos que o gigantesco Bank of America, com valor de mercado próximo a US$ 180 bilhões atualmente.

Enquanto outras famílias norte-americanas colocavam a conversa em dia após os jantares, a família de Robertson sentava na sala de estar e comparava balanços contábeis da Esso (atual ExxonMobil) e Texaco para avaliar quem tinha auferido mais receitas por dólar investido. Desde cedo, Robertson já vivia nos ares de Wall Street.

Continua depois da publicidade

Após passar da infância à adolescência entre balanços contábeis, inicia sua vida universitária na University of North Carolina, na qual se forma em administração de empresas. Durante sua jornada na academia, o gestor de hedge funds assume que nunca foi um aluno brilhante, por não concordar com o rigor da educação, através da percepção de que provas não avaliam a capacidade do aprendizado.

De uma academia a outra, serve a marinha norte-americana por dois anos e aprende o significado da disciplina. Saindo dos mares, a lenda inicia sua trajetória no mercado financeiro, quando é contratado para a mesa de operações do Kidder, Peabody & Co, onde ficou até decidir viajar para a Nova Zelândia, dado seu interesse pelos recursos naturais do país e o empenho para criar um livro, o qual ainda não está terminado.

US$ 8 milhões em US$ 22 bilhões
Em 1980, volta para Nova York e funda a gestora de fundos Tiger Investment, com investimentos iniciais de sua família e de seus amigos. A estratégia é simples: depois de um olhar macro sobre a economia, encontra uma ideia, pesquisa-a intensamente e aloca posições gigantescas.

Robertson teria declarado que sua “missão é encontrar as 200 melhores companhias do mundo e investir nelas, e achar as 200 piores companhias do mundo e operar vendido nas mesmas. Se as 200 melhores não revelarem desempenho melhor que as 200 piores, você provavelmente deveria estar em outro negócio”.

Com muita pesquisa, análise e estudo, Robertson começa a se transformar em mito. Apoiado em fundamentos, o fundo da Tiger parte de US$ 8 milhões para chegar a US$ 22 bilhões em 1998 – pico de acumulação de capital do fundo.

Contudo, a combinação de um stock picking desfavorável em 1998 e a perda da oportunidade de explorar o boom tecnológico na Nasdaq no fim dos anos 1990 fizeram com que os fundos de Tiger perdessem dinheiro, à medida que os investidores foram tornando suas posições cada vez mais líquidas. Em 1999, enquanto o índice S&P subiu 21%, os fundos do tigre despencaram 19%.

Continua depois da publicidade

Robertson se aposenta no ano 2000, sob o pretexto de evitar o “investimento irracional”. No final, poderia ter recuperado seu dinheiro com o estouro da bolha tecnológica.

Filantropia, consultoria e sem medo
Com a extinção da Tiger, Robertson atualmente dá suporte financeiro e de análise a cerca de 38 gestoras de fundos. Órfãos, os filhotes de Robertson – antigos trabalhadores da Tiger Funds – criam novos fundos conhecidos como “Tiger Cubs”, os quais recebem apoio da lenda.

Apesar de aposentado, o gestor continua ativo. De 2000 a 2008, obteve valorização de 400% em seus investimentos. Em 2003, possuía cerca de US$ 400 milhões – em setembro de 2009, já possuía nada menos que US$ 2,2 bilhões.

Continua depois da publicidade

A lenda previu a crise do subprime em 2008 e avisou que operaria com posições vendidas em títulos lastreados em hipotecas e faria dinheiro através de CDS (Credit Default Swaps). No ano conseguinte, a revista Forbes revelou que o retorno sobre sua conta pessoal de US$ 200 milhões foi nada menos que 150%.

Dos investimentos para a vida, Robertson é considerado um filantropo ativo, ao financiar bolsas de estudo para alunos universitários. Além disso, a lenda é conhecida por ser difícil de ser convencido. Como dito por um ex-executivo da Tiger Funds, “quando Robertson está convencido de que está certo, ele investe tudo o que tiver sem medo”.