Perigo iminente nos EUA deve deixar Ibovespa lateralizado na semana

Sem acordo sobre abismo fiscal nos EUA e com agenda escassa, mercado não deve ter forças para movimentos mais robustos até final do ano, apontam especialistas

Paula Barra

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SÃO PAULO – As discussões quanto ao impasse fiscal dos Estados Unidos seguiram no holofote do mercado. O plano republicano que deixava as isenções fiscais para os norte-americanos expirarem fracassou na noite da última quinta-feira (20) por não contar com apoio partidário suficiente, deixando as negociações ainda pendentes para a próxima semana. Mas mesmo nesse cenário de incertezas, o Ibovespa conseguiu fechar a semana no campo positivo, com alta de 2,35%, aos 61.007 pontos, embora tenha terminado a sexta-feira com queda de 0,44%.

O mercado, com isso, permanece em clima de cautela, diante do bloqueio das negociações do orçamento dos EUA no Congresso, que se não alcançar um acordo antes de terminar o fim do ano para evitar o “fiscal cliff” – um drástico aumento de impostos e corte de gastos com o objetivo de reduzir o déficit público – pode fazer o país entrar num novo período de recessão. 

Mas algumas correntes apontam que mesmo se Washington chegar a um acordo sobre o abismo fiscal, o crescimento econômico dos EUA no próximo ano está longe de estar garantido, e o país pode passar por um longo período de lenta expansão, acredita Mohamed El-Erian, CEO (Chief Executive Officer) da Pimco, a maior gestora de renda fixa do mundo.

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Mais incertezas para próxima semana
E é inserido nesse ambiente de incertezas que o mercado vai iniciar a próxima semana. Há uma expectativa em torno do próximo passo nas negociações sobre o chamado abismo fiscal norte-americano, e isso deve ser o principal foco dos investidores na semana, que conta com uma agenda escassa de indicadores econômicos.

Sem acordo sobre abismo fiscal nos EUA e com agenda escassa, o mercado não deve ter forças para movimentos mais robustos até final do ano, aponta o analista João Pedro Brugger, da Leme Investimentos. “O cenário para o Ibovespa vai depender muito de como será o desenrolar das discussões sobre o fiscal cliff nos Estados Unidos. Mas, por conta do final do ano, o mercado deve seguir com um volume enfraquecido, e não deve conseguir engatar variações mais fortes nesse final de 2012, contribuindo para um movimento lateral do Ibovespa”, disse.

Vale lembrar que a semana inicia sem negociações na bolsa brasileira em função do Natal, enquanto nos Estados Unidos o mercado fechará mais cedo, às 16h (horário de Brasília).

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Principais referências econômicas no Brasil e EUA
Apesar do feriado, a agenda da próxima segunda-feira (24) conta com a divulgação do relatório semanal Focus, que compila as projeções do mercado para a economia brasileira, além dos dados da balança comercial por aqui.

A partir de terça-feira, o noticiário econômico toma mais fôlego, mas o destaque será a economia norte-americana, com foco para os indicadores semanais de emprego (Initial Claims) e imobiliário (vendas de novas moradias e preços residenciais). 

Apesar desses dados, a economista Natássia Leite de Castro, da Omar Camargo, aponta que a principal referência será ainda o desenrolar do abismo fiscal, e a expectativa é que os líderes norte-americanos cheguem a algum acordo na próxima semana. 

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Abismo fiscal: democratas x republicanos
Mas as divergências entre as propostas continuam: o presidente dos EUA, Barack Obama, pretende priorizar a prorrogação dos atuais níveis de tributação para os que ganham até US$ 250 mil por ano (ou evitar aumento de impostos para 98% dos norte-americanos), enquanto o líder republicano da Câmara, John Boehner, propõe US$ 1 milhão por ano como teto para isenção, ou o chamado “Plano B”, o qual já foi rejeitado pela maioria partidária. 

Até as preocupações com a economia europeia devem ser colocadas um pouco de lado, diante do iminente perigo norte-americano. Dentre elas, a situação da Itália, uma vez que o primeiro-ministro do país, Mario Monti, renunciou nesta sexta-feira, após o parlamento aprovar o orçamento nacional para 2013.

Monti já havia anunciado que sairia do poder assim que o orçamento fosse aprovado. Há agora expectativas sobre quem assumirá o cargo de premiê na Itália, terceira maior economia da região, o que pode contar com a candidatura de Silvio Berlusconi, antigo líder do país. Diversos líderes europeus já demonstraram seu apoio à Mario Monti caso ele se candidate.