Para onde vai o petróleo? Veja três cenários para a commodity em meio ao conflito Israel-Hamas, segundo Julius Baer

Banco suíço trabalha com cenários nos quais os países vizinhos integrariam o conflito ou alternativa na qual a guerra ficaria restrita a Israel-Hamas

Camille Bocanegra

(Crédito: Shutterstock)

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Desde a escalada do conflito entre Israel e o Hamas, que já deixou mais de 3 mil mortos em 10 dias de duração, os mercado acompanham com apreensão cada movimento dos dois lados. Desde o bombardeio inicial, em 7 de outubro, o ativo mais sensível aos movimentos e tensões no Oriente Médio tem sido o petróleo.

Produzido em larga escala por países como Arábia Saudita e Irã, dois países ligados ao conflito, a commodity figura entre as principais preocupações do mercado financeiro em relação ao conflito. Mas para onde, de fato, o preço do barril pode ir de acordo com os desdobramentos possíveis?

“O foco agora está no petróleo, que é o elo que poderia transformar esse conflito militar regional em um desafio econômico global. Surgiram temores de uma escalada e de interrupções no fornecimento de petróleo, o que levou os preços de volta acima de US$ 90 por barril”, considera o banco suíço Julius Baer. A visão é que o choque seria temporário pois a geopolítica “tende a ser um elemento de ruído sem implicações fundamentais duradouras”, considera.

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Por isso, instituição realizou estudo considerando os três principais cenários possíveis tanto para o conflito quanto as consequências para a commodity.

Choque temporário: o cenário mais provável

A conjuntura considerada mais provável pelo Julius Baer é justamente a de um “choque temporário” e a consultoria entende que há 65% de probabilidade de se concretizar. Nesse cenário, o conflito militar continuaria em torno de Israel e o Hamas, sem maiores impactos na região, para além da “retórica tensa”. Assim, os rumores e as incertezas desapareceriam em questão de semanas, normalizando os preços do petróleo.

Para embasar a análise, a Julius Baer considera o ocorrido com a Guerra do Líbano e os conflitos anteriores envolvendo Gaza, ainda que reconheça que o conflito atual se apresenta como mais intenso. Mesmo assim, esforços da diplomacia dos EUA e as posições dos países árabes vizinhos sustentam o cenário.

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Crise do petróleo: cenário menos provável

Na alternativa seguinte, a Julius Baer considera o pior cenário, chamado de “crise de petróleo”, que se sustentaria justamente com uma mudança de posição de países árabes. A análise destaca que há menos de 5% de probabilidade, em sua visão, de que a possibilidade se concretize.

“Nesse cenário, o conflito militar se espalha mais longe na região, Irã e outros se envolvem diretamente e ações políticas e ataques interrompem negociações e fluxo de petróleo. Os preços do petróleo disparariam acima de US$ 150, a inflação retornaria e a economia sofreria um revés. A geopolítica se tornaria um enorme choque exógeno que resetaria a economia e os mercados financeiros até meados de 2024”, considera a consultoria.

Contudo, o relatório reforça que não há nenhuma indicação de envolvimento significativo de outros países nos ataques, o que seria o ponto central para que o conflito escalasse da forma projetada. A referência da crise do petróleo em 1970 seria errônea, considera, porque o mercado de petróleo e a situação política são muito diferentes hoje.

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O cenário se assemelha ao considerado por Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), que considerou, na semana passada, que o envolvimento de outros países poderia projetar o barril ao preço mencionado pela Julius Baer.

Reversão política: cenário intermediário

O cenário intermediário entre os dois extremos apresentados seria, justamente, a intensificação do conflito militar em direção ao Líbano e à Síria. A Julius Baer considera que há possibilidade de 30% de se apresentar. Assim, haveria uma piora nas relações de estados árabes e as consequências seriam mais políticas do que bélicas.

Entre elas, a instituição considera possível que sejam decretadas sanções mais rígidas ao Irã e que as relações entre EUA e Arábia Saudita se tornem ainda mais deterioradas.

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“O fluxo de petróleo poderia ser parcialmente interrompido, ou as atuais políticas excessivamente restritivas de nações petrolíferas poderiam durar mais do que o esperado. No entanto, o governo dos EUA teme a inflação dos combustíveis, a China está frágil e o mercado de petróleo desenvolveu uma maneira de negociar petróleo sancionado fora do alcance do Ocidente ao longo do último ano, o que limita o impacto”, considera.

Na hipótese, o choque poderia ser mais duradouro e os preços da commodity apenas se arrefeceriam no final do ano. Contudo, a Julius Baer não aposta na alternativa e considera que os preços do petróleo devam cair no próximo ano.