Para onde foi a fatia da Americanas (AMER3) no mercado? Este pode ser um bom indicador de qual ação comprar

Morgan Stanley revisou suas estimativas e vê Mercado Livre como principal beneficiário, enquanto aponta maior cautela com Magalu e Via

Equipe InfoMoney

Loja da Americanas (AMER3) no shopping Market Place, na zona sul de São Paulo (Lucas Sampaio/InfoMoney)

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Enquanto a Americanas (AMER3), que entrou em recuperação judicial no fim de janeiro deste ano, não divulga seus resultados trimestrais, analistas buscam outros números para entender a situação da empresa e o reflexo em outras do setor.

Em relatório, a Levante destaca que dados do último monitoramento mensal produzido pelo administrador judicial da Americanas mostram que a varejista encerrou o mês de abril com aproximadamente metade de sua área inativa e caixa suportado pelos acionistas de referência. Além disso, houve uma forte redução dos postos de trabalho, ao comparar os 43.123 funcionários que a empresa tinha em janeiro, quando anunciou o rombo contábil, com os 38.098 funcionários registrados em 21 de maio, levando a uma redução de 5.000 funcionários em um período de menos de 4 meses.

A companhia registrou 1.851 unidades em abril (sem considerar as lojas do HortiFruti Natural da Terra), o que corresponde a uma redução de 36 lojas em relação a abril de 2022 e 29 lojas amenos em relação a janeiro deste ano.

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O relatório também mostra R$ 1,4 bilhão em abril (incluindo o R$ 1 bilhão da linha de financiamento fornecida pelos acionistas controladores), e representa 38% do caixa que a Americanas tinha em abril de 2022, de R$ 3,7 bilhões. Buscando reforçar caixa, a Americanas divulgou, na semana passada, um edital para participação em uma nova linha de financiamento de até R$ 1 bilhão em debêntures não conversíveis, destaca a casa.

Já o ciclo de caixa, que mede a relação entre estoques, prazo de recebimento das vendas e pagamento dos fornecedores, piorou muito após janeiro alcançando 140 dias em abril versus 91 dias no ano anterior. Ou seja, se um ano antes eram três meses entre a entrada de mercadoria no estoque até a venda, agora são mais de quatro meses. “Para as varejistas, o ideal é que o recebimento ocorra em prazos curtos e que o pagamento de fornecedores ocorra em prazos longos, para que consiga se financiar na indústria”, aponta a casa.

A Americanas busca agora reforçar seu caixa e deve colocar em votação até o final de junho, o plano de recuperação judicial, que já foi apresentado e tem sido discutido com credores.

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Passados quatro meses da recuperação judicial, o Morgan Stanley aponta que seu rastreamento de dados para Americanas mostra uma deterioração contínua nas tendências de tráfego online (e provável GMV, ou  volume bruto de mercadorias) nos últimos meses.

O banco usa os dados do relatório de administração judicial de março, que mostram que o valor médio bruto da mercadoria online de janeiro/fevereiro caiu 55% em relação à média mensal do 4T22 – bem abaixo da sazonalidade média trimestral de -20% ao longo do 5 anos anteriores. A partir do segundo relatório mensal, os números de GMV não são mais divulgados, enquanto métricas operacionais selecionadas apontam pressões nos negócios até março: a ocupação dos estoques do centro de distribuição estava em 43% em março de 2023, abaixo da média de 66% entre abril 2022 e dezembro de 2022.

“Embora observemos a pressão online, notamos que a base de lojas da Americanas parece mais resiliente, com 1.855 lojas no final de março, queda de apenas -1,4% em relação aos níveis do final de 2022. Olhando para o 2T, nosso rastreamento de tráfego do site mostra visitantes únicos diários nos sites da Americanas com uma média de 1,21 milhão em maio até o momento, continuando a atingir novas baixas contra 1,35 milhão em abril e 1,58 milhão em fevereiro/março. Cada um desses números representa uma redução da média diária de 3,30 milhões registrada em 2022”, destacam os analistas.

Os dados diários também mostram um declínio de 64% na base anual na base de uso dos aplicativos da Americanas durante maio até o momento, com deterioração sequencial desde que surgiram as inconsistências contábeis que culminaram no pedido de recuperação judicial.

Para os analistas, uma vez que o processo de recuperação judicial da empresa continua em curso, estando prevista uma injeção de capital e alienação de ativos, as indicações são de um foco na gestão do fluxo de caixa. Para o processo de recuperação judicial/reestruturação financeira, as discussões continuam em torno de descontos para as dívidas totais e aporte de capital (R$ 10 bilhões do grupo controlador estão em estudo); esses relatórios sugerem julho como um cronograma para um possível acordo, embora os analistas apontem terem visibilidade limitada sobre o estado das negociações.

Para possíveis vendas de ativos, a Americanas iniciou um processo de sondagem em torno de sua participação de 70% no Grupo Uni.co e na propriedade do Hortifruti Natural da Terra, e está avaliando alternativas estratégicas em torno da fintech Ame.

Mercado Livre: preferido do Morgan

Olhando para o atual cenário, os analistas do Morgan Stanley veem o Mercado Livre (MELI34) emergindo como o principal beneficiário das mudanças impulsionadas pela Americanas, com a análise sobre o 1T23 da empresa mostrando uma maior captura de vendas no marketplace.

Os resultados do primeiro trimestre de 2023 forneceram os primeiros dados concretos sobre o impacto da mudança da atuação da Americanas, destaca o banco. Neste período, o GMV online do Brasil para o Mercado Livre registrou uma alta de 28% na base de comparação anual (+6 pontos percentuais ante o 4T22), com Magazine Luiza (MGLU3) crescendo 10% (queda de 5 pontos na base trimestral) e Via (VIIA3) caindo 4% ao ano (quase estável frente o 4T22).

Enquanto os volumes de vendas no marketplace (3P) aceleraram sequencialmente no Magalu (para +19%) e Via (para +26%), a pressão persistiu para as vendas de estoque próprio (1P). No Mercado Livre, Magalu e Via, o GMV do 3P aumentou R$ 5,8 bilhões ao ano no 1T23, enquanto o GMV  agregado no 1P caiu (em R$ 200 milhões).

“Acreditamos que isso demonstra o poder dos mercados e a mudança de compartilhamento mais contínua dentro do modelo 3P (particularmente quando o estoque do vendedor é listado em várias plataformas). Para 1P, inversamente, há complexidades em relação a estoques, preços e gerenciamento de capital de giro”, avaliam, enquanto o estoque próprio conta também com uma fatia maior de eletrônicos (com vendas em dificuldades em meio a uma desaceleração macroeconômica cíclica).

Embora a participação 1P possa aumentar nos próximos trimestres, à medida que os fornecedores realocam o estoque da Americanas, os analistas esperam que o crescimento do 3P de forma bem mais forte persista – favorecendo o Mercado Livre devido à sua participação de aproximadamente 60% no mercado 3P do Brasil (entre as 5 principais operadoras).

“Também destacamos as operações da Amazon no Brasil como um provável beneficiário da [maior fraqueza da] Americanas, com os dados mostrando a Amazon Brasil liderando entre as principais plataformas na média diária de usuários. No entanto, vemos o Mercado Livre como o maior beneficiário absoluto, dada sua ampla vantagem de escala mesmo após o crescimento da Amazon Brasil (usuários ativos diários do Mercado Livre do Brasil são 4,5 vezes maiores do que a Amazon Brasil em maio até o momento)”, avaliam os analistas.

O banco também destaca que os esforços de controle de custos têm sido um destaque entre as empresas de comércio eletrônico e, neste cenário, veem flexibilidade limitada para uma captura mais agressiva da participação da Americanas.

“Apoiando nossa tese de maior retomada de participação no 3P do que no 1P, o Magalu destacou as iniciativas de marketplace como as principais áreas de foco da administração para 2023, enquanto para o 1P o objetivo declarado da empresa é recuperar as margens históricas. Os resultados operacionais apontam para um foco semelhante na lucratividade das operações da Shopee no Brasil”, apontam os analistas. Já para o Mercado Livre, veem uma postura em torno do reinvestimento racional.

Com uma visão mais cautelosa sobre o potencial aumento de mercado impulsionado pela Americanas, os analistas do Morgan mantiveram sua recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para as ações da Via e recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para Magazine Luiza.

Além disso, fizeram atualizações nos seus modelos para as companhias de modo a refletir resultados trimestrais mais fracos do que o esperado no 1T23 e que marcam uma reversão de seu otimismo inicial sobre análise de impacto da Americanas de janeiro.

Para o Magalu, a projeção para a receita esperada para 2024 caiu 6%, com projeção de margem líquida de 0,5% (1,3% antes). Para a Via, a receita esperada para 2024 diminui em 7% semelhantes, enquanto agora preveem uma perda líquida para o ano (-0,5% de margem líquida, contra +0,5% antes).

“Apesar de incorporar o benefício dos cortes nas taxas de juros (Selic) em 2024, não vemos suporte de múltiplos de preço sobre o lucro [P/L]” para o ano futuro para nenhuma das empresas”, avaliam. Ao mesmo tempo, destacam o Mercado Livre como preferido, com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para o ativo negociado na Nasdaq. O preço-alvo para as ações é de US$ 1.770, ou um potencial de valorização de 38% frente o fechamento de sexta-feira (26).

Já para o Magalu, o preço-alvo é de R$ 3,50, 8,4% abaixo do fechamento de sexta; para Via, o preço-alvo é de R$ 2, ou 15,6% abaixo do fechamento de sexta.