Para Joaquim Levy, com carinho

O ministro da Fazenda deixará rastros de racionalidade entre os tresloucados do petismo e dos partidos políticos

Francisco Petros

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O filme britânico “Ao Mestre com Carinho” (To Sir, With Love) de 1967 conta a estória de um professor, Mark Thackeray, estrelado pelo ator Sidney Poitier, que converte alunos que agressivamente subvertem as mínimas regras de convivência social o que os impede ingressar em uma “nova era” de aprendizado. O filme consagrou Poitier como grande ator e legou a lição de que diante daqueles turbulentos anos 1960 era preciso compreensão, compostura e respeito para lidar com o novo cenário de rebeldia. Aquela turma de alunos apenas precisava de uma referência vez que estavam apenas experimentando “o novo” que não levava a muitos lugares.

A política brasileira é, em larga medida, arena de partidos políticos sem ideologia e cuja representatividade é traída por práticas, no mínimo, duvidosas. Na maioria dos casos, o tal do “interesse público” passa longe das casas legislativas do país. O PT, neste contexto, foi um partido construído organicamente ao longo de mais de trinta anos e formado por parcelas substantivas de vários segmentos sociais, inclusa a vasta maioria proletária.A agremiação política foi, para os que o admiravam ou não, uma referência em termos de representação. Contudo, tendo chegado ao poder o seu positivo aggiornamento ideológico combinou-se com uma vontade incontrolável de participar do grande esporte da política nacional: a roubalheira da coisa pública. Parece impressionante que figuras históricas do partido, incluso a sua figura maiúscula, Lula, estejam metidos, como atores principais ou coadjuvantes, em histórias escabrosas de corrupção, nepotismo, pilantragem, tráfico de influência e tudo o mais. Descobrimos que José Dirceu, para citar caso emblemático, não passa de um criminoso comum, um ladrão do Erário. Simples assim.

O primeiro governo de Dilma Rousseff agregou ao cenário do país um retrocesso e tanto: o analfabetismo em matéria econômica, propositado ou não. Pensava-se que o ex-metalúrgico tivesse deixado legado mais sábio nesta disciplina, mas a presidente resolveu “inovar” em temas básicos. Foi como se ela quisesse construir um romance em português utilizando o javanês como língua. Aí a coisa pegou: combinou vultosos déficits fiscais e cambiais, com artificialismo na administração das tarifas públicas, câmbio valorizado e salários relativamente indexados. Resultado: caiu a produtividade da economia, as contas públicas mudaram de sinal e aumentaram o risco-país, o déficit de conta corrente galopou e deu no que deu: queda da atividade econômica, da popularidade e do apoio no Congresso neste segundo mandato.

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O Ministro Joaquim Levy veio à cena na posse do governo em 1º de janeiro deste ano como uma espécie de Mark Thackeray, o mestre interpretado por Sidney Poitier no filme de 1967. Mostrou para a tigrada rebelde do PT e da presidente que com analfabetismo econômico não há começo possível. Assim, foi abandonado o javanês na economia e as identidades contábeis mais básicas da economia foram novamente ensinadas para o PT, os outros partidos que fazem parte da aliança política faminta por favorecimentos e à “nova academia” que pintou as cores da “nova ciência econômica” que fracassou. Este papel pedagógico de Levy foi fundamental e exercido com elegância intelectual e pessoal em meio aos trogloditas da política brasileira.

Agora, o Ministro Joaquim Levy será apeado da esplanada do Ministério porque, segundo a “turma de Lula”, “ele não dá futuro”. Sinceramente, o argumento poderia até ter fundamento, mas está claro que a coisa tem outro e mais profundo fundamento.

Levy está sendo vítima da ausência de acordo político mínimo que possa fazer o equivalente benefíciomínimo pelo país. O Congresso não vai sair do lugar enquanto não souber qual é o horizonte de poder, não propriamente o econômico, relacionado ao interesse público. Assim, “sentou em cima das reformas e das medidas fiscais” e está negociando o espaço possível nos pactos de exercício do poder futuro. Lula et caterva é uma dessas fontes. O ex-presidente sabe que a sua ex-pupila Dilma Rousseff precisa ser materialmente expulsa do poder, mesmo que formalmente permaneça lá até 2018. Para isso, já retirou os principais nacos de poder da mão da presidente eleita pelo voto popular há apenas um ano e entregou para a sua turma, aquela que pode estar com ele em 2018. Agora Lula vai pegar o último esteio na mão de Dilma: a economia. Levy vai junto.

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O paradoxo é que a presidente há de conviver provavelmente com Henrique Meirelles a quem ela detesta. O banqueiro fará provavelmente o que Levy faria. Não teremos propriamente novidades. Esta estória de “reativação do consumo e do crédito” é “papo para político dormir”. Meirelles provavelmente vai adotar um aumento de tributos, enquadrar alguns gastos públicos e pavimentar o caminho para que a taxa de inflação caia mais à frente. A aposta de Meirelles, um ex-deputado federal que não assumiu o mandato para assumir o BC no primeiro mandato de Lula, é que a estabilização da economia possibilitará que ele consolide a sua carreira política. É ambicioso e sabe frequentar os corredores do poder econômico e também do poder político. A cadeira que já foi de Lula e hoje é de Dilma é a que o futuro ministro da Fazenda mais quer. Não tenhamos dúvidas disso.

Joaquim Levy, ao contrário do ocorre no filme “Ao Mestre com Carinho” não deixará saudades. Apenas rastros de racionalidade entre os tresloucados e políticos do petismo e dos partidos políticos que tomam conta do Congresso e do país. Levy converteu a todos para a racionalidade mais básica, aquela que Guido Mantega e Arno Augustin deixavam na geladeira de casa quando iam trabalhar. Foi uma tarefa e tanto que realizou, mesmo sem resultados longevos.

É uma pena Levy. Como dizia o Ministro da Economia de Café Filho ,o professor Eugênio Gudin, “o Brasil é a esposa que nós amamos, mas que sempre nos trai”.

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