Para evitar “apocalipse”, Marc Faber diz preferir comprar ações de emergentes

"Eu acho que consigo fazer mais dinheiro para daqui a 5 ou 10 anos comprando agora em economias emergentes do que em ativos nos Estados Unidos", diz o investidor

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Talvez seja tarde demais para investir nos Estados Unidos, afirmou o investidor Marc Faber, conhecido pelo mercado como “Dr. Apocalipse” por seu patente pessimismo, em entrevista à CNBC esta terça-feira (18). Para Faber, o momento pode ser bem mais favorável à compra de ativos nos países emergentes, de olho nos resultados de longo prazo, apesar das perspectivas em geral negativas quanto ao desempenho das nações em desenvolvimento.

“Eu acho que consigo fazer mais dinheiro para daqui a 5 ou 10 anos comprando agora em economias emergentes do que em ativos nos Estados Unidos”, aponta. Com isso, países em momentos mais turbulentos, como é o caso de Brasil, Índia, China e Turquia, por exemplo, podem ter uma nova chance no mercado, após decepcionarem ao não mostrarem condições de entregarem o que lhes foi confiado. A deterioração fiscal e descontrole das políticas monetárias, além da forte volatilidade do câmbio, parecem não assustar o polêmico investidor.

Para Faber, as ações americanas têm se mantido resistentes a quedas expressivas já há 5 anos, o que pode aumentar o estresse sobre o mercado local e impulsionar um movimento negativo. “Ao final de março, estaremos no segundo rali mais longo dos últimos oito anos. Normalmente, esses momentos acabam mal, então não acho que seja um momento muito oportuno para comprar ações americanas”, afirma Faber, lembrando do crash visto em 1987 e dos tropeços de 2000 e 2007.

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Há duas semanas, Dr. Apocalipse alertou para os riscos de uma bolha de crédito global com o crescimento do endividamento do consumidor e a pressão econômica gerada pela desaceleração chinesa, na medida em que “não há praticamente nenhum crescimento que é mais significativo, que os estrategistas parecem pensar e que as estatísticas chinesas sugerem”.

Naquela ocasião, Faber havia aconselhado o mercado a comprar títulos de dez anos o Tesouro dos EUA, já sinalizando uma espera pela piora para o quadro de renda variável na maior economia do mundo, o que inevitavelmente faz com que os investidores procurem por um porto seguro em medidas mais conservadoras.

Errar é humano
Também vale lembrar que, a poucos dias da reunião do Fomc (Federal Open Market Committee) de dezembro, que resultou no primeiro corte no QE3 (Quantitative Easing 3) – política de afrouxamento monetário na qual o Federal Reserve hoje injeta mensalmente até US$ 65 bilhões no mercado local, ante antigos estímulos de US$ 85 bilhões -, Faber disse que tal medida de estímulos jamais acabaria. Hoje, as sinalizações do Fed de que o QE3 deve chegar ao fim ainda nesse ano provam que o Dr. Apocalipse nunca esteve tão errado.

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Deixar de investir em ações americanas para se expor aos emergentes poderia representar mais um equívoco de um dos mais polêmicos investidores da atualidade. Se depender do feeling de grande parte dos atores do mercado, a ideia não parece tão boa, tendo em vista o turbulento momento vivido atualmente. No entanto, a resposta demorará um pouco para aparecer.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.