Pacote de US$ 3 tri de Biden será ajuda ou risco? Confira o que esperar do plano que será anunciado nesta quarta nos EUA

Investidores estão preocupados que novo pacote possa elevar muito os gastos e a dívida e pressionar a inflação para cima

Rodrigo Tolotti

Patrick Semansky/UPI/Shutterstock

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SÃO PAULO – Aprovado o pacote de combate ao coronavírus no valor de US$ 1,9 trilhão, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden deve anunciar nesta quarta-feira (31) um novo plano. Desta vez, focado em estimular a economia, com foco em infraestrutura e saúde, com um valor que pode superar os US$ 3 trilhões.

Mas, o que a princípio parece ser uma boa notícia para ajudar a maior economia do mundo a se recuperar da pandemia, tem levantado muitas preocupações por parte de economistas, analistas e investidores, principalmente na questão de que um aumento de gastos desse nível deve pressionar a inflação do país.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, confirmou que o anúncio deve acontecer nesta quarta, assim como alguns detalhes de como será feito para financiar o projeto. Sem confirmar como o governo pretende pagar pelo pacote, ela disse que a proposta traz a “oportunidade de rebalancear” o sistema tributário do país, que está defasado.

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Mesmo com a grande expectativa, já se sabe que o governo vai revelar apenas a primeira parte do pacote nesta semana, sendo que a parte voltada para investimentos em serviços essenciais como o sistema de saúde e cuidados infantis serão lançados “em algumas semanas”.

Mais do que o plano em si, o foco do mercado estará para a questão do financiamento do projeto. Economistas alertam que esse gasto excessivo pode levar os EUA a acumularem muitas dívidas, levar a um “superestímulo” da economia e pressionar a inflação para cima.

Neste cenário, a visão é que o Federal Reserve (como é chamado o Banco Central americano) acabará subindo as taxas de juros, atualmente próximas de 0%. E essa visão já tem impactado o mercado, com alta dos títulos do Tesouro dos EUA, os Treasuries, de longo prazo, pressionando ações e refletindo nas bolsas ao redor do mundo.

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Os Treasuries são considerados os ativos mais seguros do mundo, e quanto maior for seu rendimento, menos os investidores estrangeiros se arriscam em investir em outros países, como o Brasil. Mesmo assim, analistas acreditam que o mercado ainda não precificou todo esse cenário, preferindo aguardar a definição do governo americano sobre seu novo pacote.

“O mercado ainda não precificou como será o pacote porque provavelmente os republicanos vão ter que participar da aprovação. Dificilmente ele será aprovado sem ajuda dos republicanos”, explica Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP. Segundo ele, haverá grande dificuldade na aprovação de um pacote tão grande e até mesmo parte dos democratas está preocupada com o aumento de gastos fiscais.

Ferreira aponta que os investidores seguem cautelosos sobre essa questão e, por conta disso, ainda não houve um grande estresse no lado dos juros. “O mercado leu que dificilmente o pacote vai passar dessa forma. Vai ter que haver uma contrapartida, então talvez viria um aumento de impostos para pagar. Se isso acontecer, não teria um impacto fiscal de aumento de dívida tão grande porque você teria aumento de receita também”, explica ele.

Economistas ainda apontam também que, com as taxas de juros atualmente próximas de zero e a inflação também baixa, é possível que os assessores econômicos da Casa Branca entendam que o governo tem espaço fiscal para realizar estes investimentos de longo prazo sem causar tantos problemas.

Como destacou a The Economist há algumas semanas: “o pacote de estímulos de Biden é uma grande aposta. Se for vencedora, os EUA evitarão a triste armadilha da baixa inflação com juros baixos em que o Japão e a Europa parecem empacados […] O risco, porém, é que os EUA acabem com dívidas crescentes, problemas com a inflação e um banco central submetido a um teste de credibilidade”.

Nesta quarta, as atenções do mercado estarão voltadas para este anúncio de Biden, e mais do que a proposta em si, o democrata terá que convencer em como fará o financiamento do pacote, não só para evitar a tensão nas bolsas pelo risco de inflação, mas para conseguir apoio suficiente no Congresso para avançar o plano. E, mesmo assim, os investidores podem acabar não recebendo todos os detalhes que precisam.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.