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A Alemanha decidiu que seu ouro está a salvo em mãos americanas.
A crescente desconfiança em relação ao euro durante a crise da dívida na Europa alimentou uma campanha para levar para casa toda a reserva de ouro de US$ 141 bilhões da Alemanha, hoje armazenada em Nova York e Londres. Agora, após uma mudança política na coalizão da chanceler Angela Merkel, o governo concluiu, afinal, que guardar metade de seu ouro no exterior é prudente.
“Os americanos estão cuidando bem do nosso ouro”, disse Norbert Barthle, porta-voz para assuntos orçamentários do bloco Democrata Cristão de Merkel no Parlamento, em entrevista. “Objetivamente, não há absolutamente nenhum motivo para desconfiança”.
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O fim da negociação para repatriar a segunda maior reserva mundial de ouro remove um potencial fator de atrito nas relações EUA-Alemanha. É, também, um revés para críticos como o partido antieuro Alternativa para Alemanha, que diz que todo o ouro deveria retornar para Frankfurt para que não possa ser confiscado para chantagear a Alemanha em relação a manter a união monetária.
O Bundesbank, o Banco Central da Alemanha, enviou uma delegação ao cofre do Fed de Nova York em 2012 para verificações pontuais ao tesouro. Como guardião do ouro, o Bundesbank, que tem sede em Frankfurt, é obrigado a garantir sua segurança. A instituição diz que é sensato guardar parte das reservas fora do país para que elas possam ser trocadas mais facilmente por moeda estrangeira em uma emergência.
A eleição na Alemanha, em setembro, apressou a mudança quando o Partido Democrático Liberal, que flertou com a ideia de levar o ouro de volta ao país, deixou a coalizão de Merkel e foi substituído pelos social-democratas. Entre outras pessoas que apoiavam estava Philipp Missfelder, membro da União Democrata-Cristã de Merkel, que deixou o cargo de emissário do governo para relações com os EUA em abril. Jürgen Hardt, seu sucessor, sinalizou com uma mudança de posição.
A reserva de ouro alemã, a segunda maior do mundo, depois da dos EUA, totalizou 3.386,4 toneladas em 31 de março, segundo dados do Conselho Mundial do Ouro. Devido à história alemã de pós-guerra, a maior parte está armazenada na Reserva Federal de Nova York; o resto, em Londres, Paris e Frankfurt.
Após a Segunda Guerra Mundial e o renascimento das exportações do “milagre econômico” da Alemanha Ocidental nos anos 1950, o Banco Central acumulou dólares que trocou por ouro na Reserva Federal. Com a Alemanha dividida entre o ocidente capitalista e o estado alemão comunista no leste até 1990, guardar a maior parte do ouro no exterior era uma forma de mantê-lo longe do alcance soviético durante a Guerra Fria.
Estoque de ouro
Parlamentares como Klaus-Peter Willsch, membro da União Democrata-Cristã que se opôs a resgates financeiros durante a crise da dívida, pediram opinião de auditores federais. Seu relatório, em outubro de 2012, aumentou a pressão sobre o Bundesbank, exortando o banco a fazer um inventário e “verificar fisicamente” os estoques alemães de ouro no exterior.
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O Banco Central concordou parcialmente com os críticos. No ano passado, a instituição começou a transferir o ouro de Paris para Frankfurt, destacando que a Alemanha e a França agora têm a mesma moeda, o euro. Um montante suficiente do ouro que está em Nova York e Londres será levado de volta para casa para que metade das reservas esteja na Alemanha até 2020.
O Partido Social-Democrata, pequeno aliado da coalizão de Merkel, sinalizou estar de acordo com a posição do Bundesbank. Os defensores do “Repatriem nosso ouro” também não veem o Bundesbank indo além dessa medida tão cedo.
“No momento, nossa campanha está em compasso de espera”, disse Peter Böhringer, de Munique, um crítico do euro que ajudou a fundar uma iniciativa para levar todo o ouro da Alemanha de volta ao país em 2012, em entrevista.