Os “dois Brasis” que se evidenciaram durante a pandemia – e o impacto nas ações de empresas de saúde

Conforme destaca a equipe de análise do Bradesco BBI, pandemia precisa ser entendido a nível regional, assim como o impacto nas empresas

Lara Rizério

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Um país de proporções continentais e com grandes desigualdades sociais também está enfrentando realidades diferentes quando o assunto é o ritmo de infecções e mortes pelo coronavírus, conforme destaca o Bradesco BBI.

Em relatório, a equipe de analistas, liderada por Fred Mendes, aponta que, entre os “dois Brasis”, um é similar à Espanha (com um ritmo maior de infecções e mortes), enquanto o outro Brasil é parecido com de países asiáticos (com uma transmissão mais controlada).

Desta forma, a pandemia precisa ser entendido a nível regional, de modo a obter melhores entendimentos sobre os impactos e a fase atual de isolamento. Conforme destaca a equipe, contudo, medidas diferentes foram usadas por governadores e prefeitos com o poder de definir diretrizes, reduzindo os riscos.

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Para tanto, Mendes e a equipe de análise analisaram dados como mortes diárias por milhões de habitantes e a taxa de transmissão efetiva (R), que revelou que a região Sul do Brasil está em uma melhor posição. Por outro lado, estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Amazonas enfrentam situações mais desafiadoras.

Assim, as políticas ótimas de reabertura devem levar em conta os diferentes ritmos de contágio e também os diversos estágios de reabertura econômica.

Os analistas também apontam que, apesar dos números ainda estarem subindo, algumas regiões estão mostrando claramente um número bastante baixo de casos por 100 mil casos, o que é uma vantagem para empresas com atividades diversificadas e com o sistema como um todo. Isso cria uma margem de manobra para alguns administradores públicos mudarem de rumo durante a pandemia.

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Impacto nas empresas

Desta forma, o impacto para as empresas nacionais também varia de acordo com a região e o segmento. De acordo com os analistas, as empresas que são menos impactadas são as de farmácias de varejo, como Panvel (PNVL3) e RD (RADL3), juntamente com os players verticais, como a Notre Dame Intermédica (GNDI3) e a Hapvida (HAPV3).

Entre as que vão sofrer maior impacto, mas não tão impactadas, estão Hypera (HYPE3) e Qualicorp (QUAL3); já as mais atingidas são as empresas de diagnóstico, como a Hermes Pardini (PARD3) e Fleury (FLRY3).

No grupo das menos impactadas, de farmácias de varejo, os analistas reforçam a resiliência do segmento, mas avaliam que cerca de 3% a 5% das lojas foram fechadas porque estão localizadas em shoppings. Além disso, houve um outro impacto, uma vez que a queda significativa nas vendas de produtos com prescrição médica, que em muitos casos não estão fornecendo consultas durante esse período.

Nesse cenário, as diferenças regionais são sentidas. O Rio Grande do Sul é um exemplo positivo, onde a curva de novas mortes por milhões de habitantes permaneceu em cerca de 0,5 e começou em uma tendência de baixa, versus cerca de 10 no Rio de Janeiro e cerca de 5 em São Paulo, indicando que já há condições para menores restrições de isolamento social. Com isso, deve haver benefícios locais para o segmento, especialmente para a Panvel, que possui cerca de 75% das lojas no estado gaúcho.

Já no caso da RD, que possui cerca de metade de suas lojas no território paulista, as mortes ainda estão altas, em 5 por milhão de habitantes por dia. Assim, embora a curva tenha estabilizado, já haja um plano de flexibilização e o número seja baixo em relação ao Rio de Janeiro, o número ainda é alto em comparação com Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e vários estados – com taxas abaixo de 1 óbito por milhão de habitantes por dia. Desta forma, deve demorar mais para haver um afrouxamento significativo das restrições da quarentena em São Paulo.

As empresas de plano de saúde Hapvida e Notre Dame têm também impacto relativamente limitado no setor. Os principais impactos vêm do: i) equilíbrio entre menos cirurgias eletivas (entre 50% e 80% do total de procedimentos) e aumento da ocupação da Covid-19 e ii) elevação do nível de desemprego devido ao período prolongado de distanciamento social, afetando o segmento corporativo – isso representa cerca de 75% do portfólio geral no caso da Hapvida e cerca de 86% no caso da Notre Dame.

Os analistas apontam que cerca de 60% dos clientes da Hapvida estão nas regiões Norte e Nordeste e cerca de 97% da Notre Dame estão no Sul e no Sudeste. Desta forma, uma vez que a maioria dos estados do Sudeste têm taxas de mortalidade acima de 5 por milhão de habitantes, enquanto as regiões Norte/Nordeste a taxa é maior, de 10 por milhão de habitantes, os analistas apontam que o Notre Dame deve estar melhor posicionado do que a Hapvida para uma recuperação estrutural. A expectativa é de que o Sul e o Sudeste devam ter quarentenas mais curtas do que o Norte o Nordeste.

Por fim, as empresas mais impactadas são o Fleury e o Hermes Pardini, com uma queda acentuada nas visitas aos centros de diagnósticos. No início da crise, houve uma baixa de 80% na comparação anual, embora a queda esteja mais próxima de 50% a 60%.

Assim, uma vez que os centros de diagnósticos representam cerca de 85% da receita da Fleury e 45% da receita da Pardini e o Fleury tem grande exposição em São Paulo e Rio, enquanto a Pardini tem maior exposição em Minas, a Pardini está melhor posicionada entre as duas companhias.

Dentro do segmento de saúde, os analistas do BBI possuem recomendação de compra para as ações da Panvel, Hapvida e Notre Dame, enquanto Fleury, Pardini e RD têm recomendação neutra.

Recomendações recentes

Nesta quarta-feira, o Credit Suisse iniciou a cobertura para as ações do setor, destacando que as operadoras devem perder 3,7 milhões de clientes devido aos efeitos da crise econômica decorrente da pandemia do coronavírus. Isso porque os planos corporativos respondem por 68% dos beneficiários do setor.

A preferida é a Qualicorp. A empresa está com recomendação de “outperform” e preço-alvo de R$ 33. “Ela consegue uma boa geração de caixa mesmo em um ambiente de menor crescimento”, avaliaram os analistas do banco suíço.

A Hapvida também recebeu recomendação de “outperform” e preço-alvo de R$ 63, baseado na expectativa de ganho de mercado em regiões de maior renda. A NotreDame Intermédica (R$ 63), Odontoprev (R$ 14) e Fleury (R$ 25) receberam classificação neutra.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.