Os 6 principais desvios do investidor: para ganhar mais no mercado, erre menos

Prévia de novo livro dos best-sellers Malkiel e Ellis coloca a teoria clássica ao lado dos traços comportamentais do investidor

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SÃO PAULO – ‘A Random Walk Down Wall Street’ tornou o economista Burton Malkiel um autor de best-seller. O passeio aleatório de Malkiel pelas estratégias de investimento revelou sua inclinação à hipótese de mercados eficientes – na obra, discorre sobre a aleatoriedade dos movimentos de preço dos ativos e acena para a dificuldade de um investidor comum bater o mercado de maneira consistente.

Trinta e sete anos após a famosa publicação, Malkiel juntou-se a Charles Ellis, outro autor consagrado1, para escrever ‘The Elements of Investing’ 2. Ambos, na casa dos 70 anos, recorrem aos sucessos de alguns investidores nos últimos anos para trazer um discurso aparentemente mais flexível em relação à citação inicial. O passar dos anos também acompanhou o desenvolvimento de abordagens alternativas à HME, como a das finanças comportamentais.

Após o livro de 1973, Malkiel trabalhou durante 28 anos como diretor do grupo Vanguard, de John Bogle – a parceria com Bogle consolidou Malkiel como ferrenho defensor da estratégia de buy and hold.

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Errar menos
O recente lançamento de Malkiel e Ellis teve alguns trechos expostos pela Money Magazine, publicação de investimentos da CNN. A conclusão aparente é que a melhor tentativa de bater o mercado é, na visão dos autores, “ganhar não perdendo”. Ou seja, combatendo desvios comuns de comportamento e estratégia que acabam pesando sobre os resultados do investidor.

No saldo dos “seis principais erros de investimento” retirados do livro pela Money Magazine, nota-se grande participação de objetos de estudo das finanças comportamentais, sugerindo que a abordagem, para muitos alternativa, é tratada pelos autores como complementar à hipótese de racionalidade dos mercados.


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Overconfidence

“Nos anos recentes, um grupo de psicólogos e financistas criou o importante campo das finanças comportamentais. Sua pesquisa mostra que não somos sempre racionais. Tendemos ao excesso de confiança. Se conseguimos um investimento de sucesso, confundimos sorte com habilidade”.

Overconfidence, assim como casos de aversão mais extrema ao risco, são as situações em que o contexto acaba deturpando a percepção individual. Geralmente, cada investidor responde de diferentes maneiras quando exposto à possibilidade de lucro ou à ameaça de perda. Grosso modo, a tendência é dos movimentos de alta tornarem o indivíduo confiante demais, enquanto os momentos de baixa geralmente acarretam em cautela exacerbada.

Para errar menos
Os autores recorrem à estratégia “prudente” do buy and hold – de comprar e segurar visando retornos de longo prazo – com um portfólio diversificado. Como argumento, utilizam o tênis amador: em partidas que envolvem dois praticantes não-profissionais, geralmente aquele que apenas devolve a bola tende a ganhar, uma vez que o jogador que tenta jogadas elaboradas por diversas vezes corre muito mais risco e costuma errar bem mais.

Efeito Manada

“As pessoas sentem segurança em números”. Recorrendo ao tópico anterior, os momentos de maior confiança do mercado acabam fomentando euforia. Neste contexto, os autores citam casos de um “investimento da moda”, aquele que está em evidência no momento. Este tipo de investimento inevitavelmente costuma obter sucesso à primeira vista, porque faz parte do caráter do ser humano se sentir mais confortável seguindo as decisões de um grupo, o que aumenta a procura pelo ativo em evidência.

Fora da realidade dos mercados, um bom exemplo são os protestos ou mesmo as torcidas de futebol. Sem companhia, é difícil encontrar um indivíduo disposto a sair pintado pela rua, ou com megafone defendendo algum ideal. Como também é difícil encontrar alguém, sozinho, vestido completamente com trajes de seu time cantando alto pela rua ou na frente de um estádio. No entanto, quando aglomerados, os indivíduos costumam perder a vergonha em fazer este tipo de coisa; se sentem confortáveis a seguir o que um grupo de pessoas está fazendo.

Traços comportamentais como este são evidentes no movimento dos mercados, em que é mais difícil para um investidor ir contra a corrente. O fluxo elevado em alguma direção também é argumento para seguí-la. No entanto, quando potencializados, estes movimentos costumam acarretar exageros, desvios de precificação que podem culminar na formação de bolhas.

Para errar menos
“Não são os preços de hoje e nem os preços daqui a um ano que importam; é o preço que você consegue no momento que você vende. Para alguns investidores, este momento é na aposentadoria. Não deixe as multidões te enganarem pela exuberância ou pela agonia. Lembre do velho conselho, ‘isto tudo deve passar’”.

Timing de mercado

Ter o timing exato do mercado costuma fazer grande diferença nos investimentos. No entanto, a tentativa de adivinhar picos e fundos do poço costuma ser viesada. Ou seja, características como as citadas nos dois tópicos anteriores acabam penalizando o investidor que tenta projetar o momento certo de entrada e saída em uma ação ou na bolsa como um todo.

Isto porque o excesso de confiança, por exemplo, pode alimentar desvios de precificação e estender alguma tendência de alta. Ou então uma situação de manada abreviar um movimento ascendente pelo estouro de uma bolha, e assim por diante. No livro, Ellis e Malkiel citam que um investidor buy and holder ganhou em média 9,6% ao ano. No entanto, as estimativas costumam pegar um momento aleatório de tempo (no caso, o começo e o fim do ano).

Segundo estudos apresentados no livro, a busca pelo timing exato de mercado acaba deturpando em 2 pontos percentuais, no mínimo, a média deste retornos. Isto porque as entradas costumam ser observadas com maior frequência próximas dos topos, enquanto as saídas de capital se revelam em maior ocorrência em períodos próximos dos fundos.

Para errar menos
Outro argumento utilizado pelos autores em prol da estratégia de buy and hold.

Acreditar que tem mais controle do que realmente tem

O caso de overconfidence evidencia o excesso de otimismo que as tendências de alta acabam alimentando. Há também os casos de excesso de confiança no julgamento, em que o investidor acredita que não há ninguém melhor do que ele mesmo para administrar determinada situação.

“Isto pode levar o investidor a supervalorizar (ou se apegar a) uma ação de seu portfólio. Também pode levá-lo a imaginar uma tendência que não existe ou que pode identificar um padrão em um gráfico e prever o movimento futuro.”

Qualquer padrão de comportamento é questionado pelos autores, que utilizam o tradicional rali de final de ano das ações como argumento. Historicamente, as bolsas apresentam maior fôlego nas viradas de ano, seja pela busca dos gestores para melhorar a rentabilidade de seus portfólios, por um sentimento de maior otimismo, ou por ser um período que costuma movimentar mais dinheiro na economia (no caso brasileiro, pelo pagamento do décimo terceiro salário, por exemplo).

Para errar menos
No entanto, Malkiel e Ellis argumentam que “qualquer padrão aparente no mercado não deve durar enquanto tiver gente que tentará explorá-lo”. Assim, se a tendência é de rali a partir do Natal, os investidores tentarão entrar um pouco antes para se aproveitar dele. No ano seguinte, a tentativa é de um grande número de participantes antecipar um pouco mais estes dois dias, e assim por diante. Neste caso, a tendência é do padrão de comportamento se espalhar, ser cada vez mais antecipado, e se dissipar com o tempo.

Custos muito altos

Neste tópico, a ideia levantada pelos autores é bem simples. Como a mídia passa o ano inteiro fazendo levantamentos e premiações para “o” gestor, ou aquele que obteve os melhores rendimentos em determinado período, a tendência é de ele cobrar mais para administrar seu portfólio após resultados acima da média.

Sendo assim, se hipoteticamente ele obteve um retorno 3 pontos percentuais acima da média de seus concorrentes e passa a cobrar taxa de administração de 5% ao ano, enquanto os outros cobram por volta de 2,5%, sempre há que se ponderar esta diferença. E ainda, performance passada não é garantia de desempenho futuro.

Para errar menos
O livro recomenda algo sempre defendido pelo chefe de Malkiel no Vanguard Group, John Bogle: Não passe uma vida pesquisando qual fundo ‘daquele’ gestor. Compre um de baixo custo.

Confiar nos corretores

“O verdadeiro trabalho de um corretor de ações não é ganhar dinheiro para você, mas ganhar dinheiro com você”.

Para errar menos
“Não pule de ação em ação ou de fundo em fundo como se estivesse escolhendo e descartando cartas em um jogo. Você estará impulsionando seus gastos com comissão.”


Autor de ‘Winning the Loser’s Game’
Burton G. Malkiel, Charles D. Ellis, Wiley, dezembro 2009