Oi e BrT: relação de troca é apenas o começo da volatilidade

No futuro, ações devem ser pressionados por dúvidas quanto à aprovação de minoritários; questão divide analistas

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Mais uma polêmica em relação à fusão entre Oi e Brasil Telecom repercute no mercado acionário brasileiro nesta sessão. Em comunicado enviado nesta manhã, as empresas anunciaram as novas relações de troca entre os papéis da Telemar (TMAR5) e BrT (BRTO3, BRTO4), seguindo a apresentação preparada pelo advisor da questão, o banco Credit Suisse.

A proporção foi aprovada pelo Conselho de Administração da Telemar Norte Leste da seguinte maneira: cada ação ordinária da BrT equivalerá a 0,3955 ação ordinária da Telemar; e cada papel preferencial da BrT será substituído por 0,2191 papel preferencial classe C da Telemar.

“Com base nas cotações de fechamento de ontem, a BRTO4 deveria sofrer uma queda relativa de 10,4% ante TMAR5, o já está sendo ajustado pelo mercado hoje”, afirma em relatório Luciana Leocadio, analista da Ativa Corretora.

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É redundante dizer que a mudança foi mal recebida pelo mercado. As ações ordinárias da Brasil Telecom recuaram 17,63%, cotadas a R$ 16,26, enquanto as preferenciais caíram 5,46%, para R$ 11,61. Também em queda, os papéis preferenciais classe A da Telemar (TMAR5) e os PN da Telemar Norte Leste (TNLP4) sofreram desvalorização de 1,39%, para R$ 49,50, e 1,82%, a R$ 31,32, respectivamente.

“As novas relações representam descontos de 10% e 21%, respectivamente, quando comparadas às proporções inicialmente propostas”, ressaltou o analista Michael Morin, do Barclays Capital. A diferença, de acordo com ele, pode reduzir a diluição para os papéis da Telemar.

Em outra análise, a analista Kelly Trentin, em relatório da Spinelli, explica a forte queda das ações ordinárias da BrT, apesar da maior diferença entre a relação de troca proposta ter se dado nas ações preferenciais. “Atribuímos esse fato à saída de investidores das ações ON da BRTO para evitar receberem ações ON da TMAR, que têm pouca liquidez. As ações PN da BRTO caíram menos que a relação de troca sugeria, uma vez que os acionistas de BRTO3 podem ter migrado para BRTO4 e para TMAR5”.

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Justa ou não?
“O valor foi bem honesto”, afirmou Daniella Maier, da Votorantim Corretora, em entrevista à InfoMoney logo após a publicação do fato relevante. A analista faz referência ao estudo feito pelo Credit Suisse para chegar à relação de troca, o qual calculou todos os impactos dos contingentes.

Porém, há discordâncias. “Dá uma olhada no mercado, o quanto as ações da Oi estão caindo, e ai já dá para perceber se a relação de troca é justa ou não”, afirmou um analista de um banco internacional que não pôde se identificar.

Mas será aceita?
Apesar da relação de troca ser o principal peso sobre as ações nesta sessão, para o futuro são outros pontos que devem ser observados. A decisão ainda deve passar pelo Conselho de Administração da Brasil Telecom, sob a condição de que sejam posteriormente aprovadas pelos acionistas minoritários da empresa.

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Para a Ativa Corretora, há grandes chances de que a decisão não seja aceita, já que “as novas relações de troca propostas, na medida em que as mesmas estão sendo reduzidas com base na avaliação da Telemar de provisões para perdas em processos judiciais ainda não concluídos, e que não necessariamente resultarão em perda de fato para a companhia, abrindo espaço para contestações”.

Caso isso aconteça, a proposta pode ser cancelada e as ações da Brasil Telecom continuarão listadas em bolsa o que, na opinião da analista da corretora, “poderá gerar uma pressão adicional nas ações do grupo, em particular da Brasil Telecom, uma vez que o cenário de unificação da liquidez desses papéis não se concretizará”.

Por outro lado, o Citigroup acredita que a nova relação de substituição será aceita, apesar de projetar novas tensões devido à diferença de tratamento entre acionistas detentores de ações preferenciais e ordinárias. “Nossa análise sugere que há poucos investidores ativistas na base acionária da Brasil Telecom atualmente”, justifica o analista James Rivett, que assina o relatório do Citi.

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Histórico
A Brasil Telecom foi comprada pela Oi por um valor total de R$ 12,9 bilhões em 2008, sendo que R$ 5,4 bilhões foram para os acionistas controladores.

Em janeiro deste ano, a Oi solicitou adiamento da fase final da fusão e pediu para mudar os termos do acordo. Os auditores da empresa constataram que a provisão das dívidas judiciais da Brasil Telecom, que giravam em torno de R$ 1,3 bilhão, deveriam ser de aproximadamente R$ 2,5 bilhões.

Fonte: Barclays

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Recomendações
Assim como as opiniões são bastante divergentes entre si, as recomendações dos analistas também guardam diferenças substanciais. A analista da Ativa Corretora não recomenda exposição às ações do grupo Telemar, diante da expectativa de notícias negativas em relação ao processo de fusão. Da mesma forma, o Barclays recomenda underweight (peso abaixo da média do portfólio) para os papéis da Telemar Norte Leste (TNLP4).

Já o Citigroup reitera a recomendação de top pick do setor para TNLP4, sugerindo compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 40,00 em 12 meses.