Oi avança na venda de ativos após operação bilionária: alívio de curto prazo ou virada para as ações?

Analistas destacam momento positivo com desinvestimentos da operadora de telefonia, mas se mostram divididos sobre o que esperar para os ativos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em processo de recuperação judicial desde 2016, a Oi (OIBR3;OIBR4) vê as suas ações sendo negociadas perto de R$ 1 na bolsa brasileira em meio às dificuldades para sair de dívidas e gerar caixa. Contudo, nos últimos dias, a venda de parte de suas operações progrediu e aumentou as expectativas de haja uma “luz no fim do túnel” para a operadora de telefonia.

No final da última semana, a companhia vendeu sua participação de 25% na angolana Unitel para a companhia petrolífera angolana Sonangol por cerca de US$ 1 bilhão, trazendo um alívio considerável para os problemas urgentes enfrentados por ela.

De acordo com análise do Bradesco BBI, a notícia é altamente positiva. Após receber cerca de R$ 4 bilhões com a operação, os próximos passos serão transformar o esperado empréstimo-ponte de aproximadamente R$ 2,5 bilhões em uma emissão de títulos com condições mais favoráveis, uma vez que o dinheiro do acordo com a Unitel será colocado no balanço.

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Depois disso, os analistas apontam para a venda de data centers, torres e potencialmente imóveis que poderiam arrecadar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão.

“Nesse cenário, a Oi entraria em um estágio diferente, considerando que estaria em uma confortável posição de caixa pelos próximos dois anos”, avaliam. Além disso, a administração da companhia poderá focar totalmente em suas operações que estão atualmente em recuperação.

“A partir de então, a administração terá um papel importante no futuro da Oi, considerando todos os desafios envolvidos nas operações da empresa”, avalia a equipe de análise, reforçando o alto grau de confiança na equipe liderada por Rodrigo Abreu, que assume o cargo de presidente da empresa no final do mês.

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O Itaú BBA também apontou a venda como positiva, uma vez que o montante beneficiará a empresa operacional e financeiramente no curto e no médio prazo, garantindo uma parcela significativa dos recursos para seu plano estratégico, fortalecendo o caixa e melhorando o seu perfil de dívida.

“Garantindo o financiamento de seu plano estratégico, a Oi agora pode iniciar sua recuperação operacional”, avalia Susana Salaru, analista do banco, ao lembrar que, dos US$ 1 bilhão que receberá, US$ 760 milhões já foram pagos e agora compõem o caixa da Oi, sendo o restante pago em seis parcelas mensais de US$ 40 milhões.

A analista reforça que, no plano estratégico, fibra e infraestrutura são os principais focos da Oi, além da venda de ativos não essenciais (com expectativa de captação entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7,5 bilhões), sendo a Unitel o desinvestimento mais importante.

Vale destacar que mais vendas de ativos podem estar no radar. O jornal Valor Econômico apontou que a companhia espera concluir até o fim de março a venda de um novo lote de torres de telefonia celular. A operação envolveria a alienação de pelo menos 700 torres, o que renderia aproximadamente R$ 700 milhões à companhia, segundo cálculos de um gestor de fundos de investimento ouvido pela publicação. A venda faz parte do plano estratégico divulgado pela empresa em julho de 2019, mas a previsão era de que o negócio só ocorresse no quarto trimestre deste ano.

“A venda potencial das torres deve impulsionar o plano da empresa de investir em fibra, que, especialmente em 2021, deve aumentar as receitas e melhorar as margens. Após a venda da Unitel, vemos a Oi em uma posição financeira muito melhor, que, juntamente com outras iniciativas, levará a empresa a outro patamar, permitindo que a gestão se concentre inteiramente na recuperação de suas operações”, avalia o Bradesco BBI.

Além disso, conforme apontou a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, a Oi estima vender a sua unidade móvel por R$ 15 bilhões.

Para o Credit Suisse, a consolidação do mercado de telefonia móvel deve ser chave para determinar os rumos do setor, sendo muito provável que haja uma definição com relação à companhia.

“A estrutura do negócio ainda parece incerta, mas acreditamos que o mais provável seja a absorção dos ativos da Oi por uma combinação dos players atuais. A TIM (TIMP3) deve exercer um papel interessante, principalmente quanto consideramos as limitações da Claro e da Vivo (TIMP3) com relação à concentração”, afirmam os analistas do banco suíço.

Para eles, o valor de R$ 16 bilhões – R$ 1 bilhão acima do valor noticiado pelo O Globo – pela operação seria razoável e positivo tanto para compradores quanto para vendedores.

O que esperar para as ações?

Todas essas notícias no radar dão alívio para a Oi no curto prazo. Contudo, a visão dos analistas para os papéis da companhia são bem diferentes.

O Itaú BBA e o Bradesco BBI possuem recomendação equivalente à compra para os ativos OIBR3, com preços-alvo respectivos de R$ 1,07 (potencial de valorização de 9,18% frente o fechamento de segunda-feira) e R$ 1,80 (com um expressivo potencial de valorização de 84% – mas vale atentar para o baixo valor das ações).

Já o Credit Suisse possui recomendação underperform (desempenho abaixo da média) para os ativos ordinários, enxergando o case como pouco atrativo mesmo considerando uma venda no segmento móvel. “Mesmo no cenário onde o comprador deixa boa parte das sinergias para a Oi e uma criação de valor de R$ 9 bilhões com a venda de outros ativos, não parece óbvio o potencial de valorização. A Oi não deve passar a ter caixa líquido mesmo após a venda de ativos”, afirmam os analistas do banco suíço. O preço-alvo para os ativos é de R$ 0,70, o que representaria uma queda de 28,57% frente o fechamento da véspera.

No geral, os analistas estão bem divididos, conforme aponta compilação da Bloomberg com oito casas de análise: 4 recomendam compra para os ativos OIBR3, enquanto outros quatro recomendam venda.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.