O tão sonhado selo de bom pagador que colocou o mercado de ações brasileiro em outro patamar

O Ibovespa disparou em 30/04/2008 após a S&P ter dado o investment grade ao país, gerando uma série de altas com a vinda de novos investidores estrangeiros

Anderson Figo

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SÃO PAULO — No dia 30 de abril de 2008, o Ibovespa subiu 6,33% após a Standard & Poor’s ter anunciado o aumento da nota de risco do Brasil para grau de investimento — ou seja, concedeu um selo de bom pagador ao país. A decisão colocou o mercado de ações brasileiro em outro patamar, abrindo as portas do país para novos investidores estrangeiros.

O rating brasileiro passou de BB+ para BBB-, com perspectiva estável. Vinte dias depois, o Ibovespa já tinha batido seu recorde de pontuação 10 vezes, chegando a 73.516 pontos em 20 de maio.

Poucos dias depois da S&P, foi a vez da Fitch elevar o rating do Brasil de BB+ para BBB-, também concedendo o selo de bom pagador ao país. A Moody’s só foi elevar o Brasil a grau de investimento no ano seguinte, em 2009.

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A concessão do tão esperado investment grade ao Brasil é o tema do segundo episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo Spotify, Google PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

O mercado já esperava que o reconhecimento das agências de risco internacionais fosse ocorrer em algum momento naquele ano, e já tinha começado a ajustar suas posições considerando isso, mas o timing do primeiro anúncio pegou muitos investidores de surpresa — e por isso a reação tão forte nas cotações.

“Aquele dia não tinha ninguém esperando o investment grade. Era uma coisa que estava sendo esperada ao longo do ano. E no dia mesmo foi uma grande surpresa. E veio a notícia: pisca na Bloomberg. (…) O cliente tinha acabado de mandar vender 50 lotes. Ele falou assim: vende 50. E a gente mandou vender 50 a bola. Aí ele: cancela! Não deu tempo. Na hora que ele falou cancela, já tomaram e ele zera a mercado”, conta Gilberto Coelho, o Giba, analista da Rico que na época trabalhava na mesa de operações da BGC Liquidez.

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“O mercado compra no boato e vende no fato, mas dessa vez ainda precisava de mais um fato, ou seja, a segunda chancela. Vai aumentar a pressão para uma próxima agência fazer o mesmo com o rating brasileiro. Então, a gente já pensava assim: opa, vai liberar uma grana que nunca antes a gente tinha visto na história do Brasil”, completou.

Fabio Akira, economista-chefe da BlueLine e foi por 17 anos economista-chefe do JP Morgan no Brasil, cargo que ocupava em 2008, explica que o contexto macroeconômico brasileiro era bastante diferente naquela época, com indicadores econômicos que “geram inveja” em comparação com os atuais — com exceção da taxa de juros. Segundo ele, os países emergentes como um todo eram beneficiados pelo cenário internacional.

“Lá em 2005, a gente no JP Morgan já tinha soltado um relatório dizendo que o Brasil iria se tornar investment grade nos próximos anos e qual era o caminho que o país tinha que seguir para conquistar isso. Os fatores mais definidores são performance fiscal e contas externas”, disse. “O país, de 2004 a 2008, quando a gente conquistou o investment grade, entregou uma média de superávit primário, de 3,5% do PIB a cada ano. Hoje, por conta da pandemia, o déficit primário vai ser de cerca de 10% do PIB.”

Giba e Akira são os convidados desta semana em “Os Pregões que Fizeram História” e eles contam o que fez o país ganhar o selo de bom pagador, a reação dos investidores e os impactos no mercado, até o dia em que o Brasil perdeu essa chancela das agências de risco, em 2015. Hoje, o Brasil continua sem o grau de investimento e o aumento de gastos públicos gerados pela crise do coronavírus vai prejudicar o quadro fiscal do país.

Com isso, a chance de elevação da nota de crédito brasileira diminui — o que torna a retomada do investment grade uma possibilidade cada vez mais distante. Mas isso vai depender de uma outra retomada, que é a da agenda de reformas no pós-pandemia.

Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o novo podcast do InfoMoney e conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.