O risco de racionamento de energia “apagou” o rali eleitoral da Bolsa?

Os especialistas hoje estão mais cautelosos para avaliar se a Bovespa deve retomar o rali das últimas três semanas, interrompido por uma série de 4 quedas em 5 pregões

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A quarta queda em 5 pregões registrada pelo Ibovespa nesta quarta-feira (9) começa a semear dúvidas nas cabeças dos investidores sobre se a bolsa ainda tem fôlego para retomar o rali das últimas 3 semanas. O fato de a segunda queda seguida do índice ter, para os especialistas, mais fundamentos que o recente rali passa a ser um importante balizador a ser usado pelos investidores na tomada de decisões sobre futuras compras na Bovespa. As pechinchas parecem não ser mais tão abundantes como algumas semanas atrás.

Para o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, o atual movimento altista da bolsa brasileira preocupa, na medida em que se mostra bastante dependente das pesquisas de intenção de voto e da piora da percepção dos investidores estrangeiros com a situação vivida na Rússia, após a anexação da Crimeia e os subsequentes conflitos civis que eclodiram em solo ucraniano. “O movimento do Ibovespa tem sido de subidas rápidas e devoluções graduais. O mercado brasileiro está à mercê de novas pesquisas sem data para sair”, afirma.

Vale lembrar que, nas últimas semanas, o benchmark da bolsa brasileira teve fortes ganhos, puxados por especulações – e a posterior confirmação vinda com dados do Datafolha – de que a presidente Dilma Rousseff havia perdido espaço na corrida eleitoral, apesar de ainda se manter disparada na liderança quando comparada com os prováveis candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). O agravamento da crise russa também ajudou: com a piora do cenário e o forte desconto das ações brasileiras antes do rali, os investidores “gringos” começaram a olhara a Bovespa com maior interesse – fator que alavancou fluxos em direção ao Brasil.

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No entanto, o fato do antes descontado Ibovespa ter se equiparado aos principais índices acionários de seus pares emergentes México e China trouxe maior cautela ao mercado. Aliado a este fator de redução no ímpeto da bolsa brasileira, a queda do índice nesta quarta-feira mostra que o risco de haver um racionamento de energia no País em 2014 continua assustando os investidores. A divulgação de uma aceleração acima do esperado da inflação em março apresenta outro elemento a se ponderar, lembrando que o cenário macroeconômico brasileiro pouco mudou do fim do ano passado para cá.

Quem já percebeu o movimento e se preparou para possíveis descontos foi o Fundo Verde, um dos maiores fundos de hedge do mundo, que anunciou nesta quarta-feira que vai reduzir exposição nas ações brasileiras, aproveitando o período de “bonança artificial” vista no Ibovespa no último mês para embolsar os ganhos conquistados. Com o posicionamento mais cético do fundo gerido por Luis Stuhlberger, outros investidores podem começar a repensar suas posições na bolsa brasileira – o que pode sentenciar uma nova toada para o Ibovespa nos próximos dias.

“Mais fundamentos para novas altas”
Os especialistas hoje estão mais cautelosos para avaliar se a Bovespa deve retomar o rali das últimas três semanas, interrompido por uma série de 4 quedas em 5 pregões. Para William Alves, analista da XP Investimentos, o desempenho empolgante de boa parte das ações brasileiras não deve ser como foi há poucos dias. “O rali não deve voltar. Ele veio por conta do fluxo [de capital estrangeiro saindo da Rússia e entretanto no Brasil] e do mercado considerar possíveis mudanças de governo. Precisamos de mais notícias de fundamentos para novas altas”, observa.

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No entanto, Alves pondera que o fato de o risco de racionamento existir há um certo tempo – e não ter sofrido grandes alterações nos últimos dias – faz com que pouca coisa tenha sofrido efetiva mudança. Desta forma, assim como é difícil prenunciar novos ralis, o retorno de uma tendência de queda no curto-prazo ainda é tão incerta quanto. O momento do mercado brasileiro é de poucas definições; um verdadeiro teste sobre a resistência e habilidade do investidor em controlar seus instintos.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.