O que explica a queda do rendimento dos Treasuries nos EUA? Economistas têm visões divergentes

Analistas apontam uma série de motivos para a maior demanda sobre os treasuries, mas projeções não são todas pessimistas

Ricardo Bomfim

(Spencer Platt/Getty Images)

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SÃO PAULO – O rendimento (yield) dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento em 10 anos teve sua sétima queda consecutiva na quarta-feira (7), chegando a 1,319%, seu menor patamar desde fevereiro.

Esse movimento ocorre na contramão das expectativas de gradual remoção dos estímulos do Federal Reserve e recuperação da economia americana depois dos impactos do coronavírus.

É importante ressaltar que quando o preço de um título do Tesouro dos EUA sobe por conta da maior procura por ele, seu rendimento cai, refletindo a Lei de Oferta e Demanda. Assim, os treasuries, considerados os ativos mais seguros do mundo devido ao gigantesco Orçamento americano e o histórico do país jamais ter dado calote na dívida, costumam ter quedas nos seus yields em momentos de aversão a risco, quando os investidores buscam mais segurança e menos retorno.

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Segundo Markus Allenspach, estrategista de renda fixa da Julius Baer, o impasse sobre teto da dívida nos EUA é o fator que está provocando essa queda nos rendimentos dos títulos da dívida americana. “O declínio dos yields dos treasuries ocorre em um momento em que o mercado debate a próxima escassez de títulos do Tesouro. Isso pode soar bizarro, dado o enorme déficit orçamentário que o governo Biden almeja. O problema é que a suspensão do teto legal da dívida termina em 31 de julho de 2021″, escreve.

Allenspach explica que, em tese, o Tesouro dos EUA deveria reduzir sua liquidez para o nível de quando a suspensão foi implementada pela primeira vez, ou seja, para US$ 133 bilhões, bem abaixo do patamar de US$ 746 bilhões no final do mês passado.

“Mesmo para o governo dos Estados Unidos, não é fácil gastar US$ 613 bilhões extras em um mês. Isso significa que o Tesouro terá que reduzir o montante da dívida pendente já antes do prazo final de julho. E se o teto da dívida não for suspenso ou levantado, ela não poderá emitir mais dívidas a partir de então.”

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A suspensão do teto da dívida depende de um acordo bipartidário ou de uma maioria simples no Senado para ser aprovada, mas a ala voltada a pautas de sustentabilidade no Partido Democrata vincula seu apoio a mais gastos para a transição energética, proteção ambiental e moradias populares, algo que pode tirar o apoio dos republicanos ao acordo bipartidário para o pacote de investimento em infraestrutura tradicional.

Por outro lado, há quem credite a queda mais à preocupação com uma possível desaceleração da retomada econômica dos EUA. O Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços do país caiu de 64 pontos em maio para 60,1 pontos em junho. A projeção mediana dos economistas era de uma queda menor, para 63,3 pontos.

Conquanto a leitura, por estar acima de 50, ainda mostrar um crescimento na atividade, depois do choque que a economia americana sofreu em 2020 qualquer tipo de desaceleração acaba gerando temores.

Outro ponto citado por analistas para explicar o desempenho dos treasuries é a volatilidade no mercado do petróleo desde o cancelamento da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e Aliados (grupo chamado de Opep+) que definiria uma retomada na produção depois dos cortes realizados por conta da pandemia.

Para completar o ambiente de aversão a risco, a variante delta do coronavírus continua fazendo vítimas no mundo todo. Na última terça (6), a Rússia teve 737 mortes por Covid-19 em 24 horas, o recorde desde o início da pandemia.

A agência de notícias Reuters também trouxe uma explicação mais técnica para a queda nos rendimentos dos treasuries: um desmonte de amplas posições vendidas em papel (preço) e ao rompimento pelo yield de dez anos de um suporte técnico na terça-feira.

De todo modo, à mesma Reuters Eric Souza, gestor sênior de portfólio da SVB Asset Management, disse que era essa combinação de fatores que levava aos rendimentos mais baixos dos títulos.

Já à CNBC, Jason Brady, da Thornburg Investment Management, afirmou ver o movimento como de ajuste e projetou que os rendimentos dos títulos deve subir no futuro, uma vez que o Federal Reserve não será agressivo no aperto monetário, mas com certeza irá retirar paulatinamente estímulos como a compra de US$ 120 bilhões mensais em ativos.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.