O que esperar das estatais Sabesp (SBSP3) e Cemig (CMIG4) após as eleições?

Sabesp e Banrisul têm horizonte de privatização mais possível enquanto elétricas e companhias de saneamento de Minas e do Paraná enfrentam maior resistência

Vitor Azevedo

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Em meio à campanha para as eleições, boa parte da atenção dos investidores fica concentrada no noticiário político, com destaque para as movimentações relacionadas à disputa pelo cargo de presidente da República. No entanto, a corrida nos estados, por conta das estatais controladas pelos governadores, como Sabesp (SBSP3) e Cemig (CMIG4), também merece um olhar atento, já que se pode abrir oportunidades de investimentos.

Algumas estatais estaduais ganharam destaque no noticiário de mercados, muito pelo fato de estarem apresentando boas gestões ou avançando em iniciativas de privatização.

As ações ordinárias da Sabesp, por exemplo, acumulam alta de quase 40% desde 2017. As preferenciais da Cemig (CMIG4) acumulam um avanço de 216,30%. Já as preferenciais série B da Copel (CPLE6) subiram mais de 133%.

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Não há dúvidas, então, de que algumas estatais ligadas a governos estaduais ofereceram bons retornos a quem aportou nelas.

Estatais: Copasa e Banrisul não andam na bolsa

Do outro lado, a Copasa (CSMG3) viu suas ações ordinárias ficarem praticamente estagnadas em todo esse período, com leve queda de 4,4%. Já o Banrisul (BRSR6) teve suas ações preferenciais série B retrocedendo mais de 30% no mesmo intervalo.

“A verdade é que os governos atuais de Minas Gerais e do Paraná vêm implementando, principalmente no caso da Cemig e da Copel, um trabalho interessante de ganho de eficiência”, comenta Guto Leite, gestor da Western Asset.

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“Apesar de os dois governadores manterem as companhias como estatais, eles estão procurando realizar gestões melhores”, completa.

O gestor, no entanto, defende que, apesar da melhora, essas companhias continuam enfrentando entraves quando o assunto é ganho de eficiência.

“Mesmo com os avanços, elas não conseguem chegar ao ‘estado da arte’ de uma empresa privada. Possuem amarras, tendo de fazer licitações ou sendo impedidas de fazer alocações em recursos humanos ou de capital”, explica.

Como exemplo para isso, Leite cita o caso da Eletrobras (ELET3;ELET6), que mesmo com a boa gestão implementada nos últimos anos, enquanto Wilson Ferreira Jr. e Rodrigo Limp foram diretores executivos, conseguiu destravar ainda mais valor após seu processo de capitalização, com muita gordura “a ser queimada”.

No entanto, a Western não vê a Cemig, companhia de energia de Minas Gerais, ou a Copel, de energia do Paraná, avançando, por enquanto, em seus processos de privatização.

Segundo ele, isso acontece mesmo com o caso de reeleição dos governadores dos dois estados – o que há chances de ocorrer, uma vez que os chefes do Executivo de ambos os estados, Romeu Zema (MG) e Ratinho Junior (PR), lideram as últimas pesquisas eleitorais.

“A constituição de Minas Gerais cobra passar a privatização na assembleia legislativa, onde não é garantido que o Zema conseguirá maioria. No Paraná, aparentemente há uma visão contrária da população à privatização. Há arcabouços institucionais e políticos”, contextualiza o especialista.

O JP Morgan, em relatório, destaca que, no Paraná, Ratinho Junior já se posicionou contra a privatização da Copel, ainda que, durante o seu governo, tenha havido melhora da atuação operacional e financeira da estatal.

Sabesp tem chance de ser privatizada

Para o gestor da Western, a Sabesp, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, é um caso de estatal que tem espaço para melhora operacional e que possui chances de apresentar um trigger [catalisador] de privatização – principalmente no caso de o candidato Tarcísio de Freitas (ex-ministro da Infraestrutura), hoje em segundo lugar, ganhar a corrida eleitoral.

“É difícil falar em privatização no primeiro momento porque temos em primeiro lugar o Fernando Haddad [PT]. Acredito que o PT, se eleito, buscaria fazer um processo de reposicionamento da empresa”, debate. “Mas no caso de o Tarcísio ganhar, dado tudo que ele fez no governo Bolsonaro, o mercado precificaria uma chance maior de privatização”.

Pedro Queiroz, especialista em renda variável da SVN Investimentos, tem uma visão similar. “Nós acreditamos que pode ocorrer algo parecido na Sabesp ao que ocorreu na Eletrobras. Tarcísio não está na primeira posição da pesquisa, mas pode ir para um segundo turno e pode levar a uma reprecificação”, defende Queiroz. “É uma empresa com operacional interessante, existe um desconto nos ativos regulatórios, mas por conta da ineficiência da empresa pública”.

Segundo ele, o marco legal de saneamento trouxe segurança jurídica e também aumentou o interesse de investidores que antes não olhavam para o setor. As estatais de saneamento têm dificuldades em realizar novos investimentos, devido as suas situações econômicas, e a nova legislação disponibiliza formas para que o capital seja buscado na iniciativa privada.

O JPMorgan, apesar de ter a Sabesp como sua favorita entre as companhias de saneamento, vê a privatização como improvável. “Isso não se dá apenas pela incerteza de quem será o próximo governador, mas também por nossa visão cética sobre os desafios legais e regulatórios do processo”, pontua o banco.

O Credit Suisse, em relatório, enxerga que a probabilidade de um candidato “market friendly” ganhar força em São Paulo é alta, destacando que Tarcisio de Freitas e Rodrigo Garcia já ganharam, respectivamente, 8,8 pontos percentuais e 2,2 pontos nas pesquisas nos últimos dois meses.

Minas Gerais e Paraná enfrentam resistências quando o assunto é privatização

O banco suíço ressalta que os estados de Minas Gerais e Paraná são os que têm pesquisas apontando mais claramente para a reeleição de seus atuais governadores, o que parece indicar uma “alta probabilidade de manutenção do status quo”. 

“Romeu Zema é o candidato considerado mais favorável ao mercado em relação aos concorrentes e mais de uma vez mencionou a privatização como uma possibilidade real para a Copasa. Ainda assim, como a constituição de Minas Gerais atualmente exige um referendo para permitir a privatização, acreditamos que a reeleição de Zema não necessariamente garantiria a conclusão desse processo”, explica o banco.

No caso do Paraná, os especialistas do Credit afirmam que Ratinho Jr não defendeu, até então, nenhuma privatização. “Durante seu mandato, o marco regulatório paranaense não atendeu às expectativas e, consequentemente, acreditamos que a percepção de risco continuará alta até que uma nova base de ativos regulatórios seja definido para a empresa”, dizem.

Queiroz, da SVN, define como importante olhar para as estatais mineiras, mas destaca que, por lá, é mais difícil haver avanços em temas como a privatização, uma vez que há, como mencionado pelo Credit, a necessidade de plebiscito para decidir algo do tipo, estipulada pela lei do estado.

“Em Minas Gerais, pesquisas eleitorais indicam que Romeu Zema (Partido NOVO) pode ser reeleito, mas a possibilidade de privatização da Cemig e da Copasa continua desafiadora”, complementa o JPMorgan.

“Durante a corrida de 2018, Zema falou abertamente sobre privatizar a Cemig e a Copasa se eleito, o que provocou uma alta de ambas as ações. No entanto, ele não conseguiu realizar as alienações ao se deparar com a Constituição de Minas Gerais”.

O JP Morgan, por fim, calculou quanto as possíveis privatizações já estão precificadas nas ações das estatais estaduais de utilidades.

“Com o desempenho recente dos papéis, achamos que os investidores já estão pagando 35% do potencial de valorização da privatização para a Sabesp e 12% para a Copasa”, expõe.

“Para outros nomes como Cemig, Copel e Sanepar, nossa análise indica que não há nenhum upside incluído no preço de mercado e, portanto, os investidores podem capturar isso se comprarem as ações agora e aguardarem as eventuais privatizações”.

Além das utilidades

Outra empresa estatal que, para os especialistas, pode se beneficiar de um processo de capitalização é o Banrisul.

O governo estadual do Rio Grande do Sul, recentemente, interrompeu a privatização da Corsan, Companhia Riograndense de Saneamento, em meio à aproximação das eleições. No entanto, Eduardo Leite, em seu primeiro mandato, privatizou a CEEE-G, de geração de energia, e a Sulgás.

“É um case menor e o Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, chegou a bater na tecla da privatização, o que acabou não saindo por conta do capital político”, comenta o especialista. “É uma companhia que tem a privatização como algo importante, por ter muita oportunidade de crescimento”.

Para ele, a instituição financeira explora pouco as possibilidades que possui em seu alcance, com muito “market share” a conquistar – o que não acontece, em parte, pela indisponibilidade de recursos.

“Quando olhamos para o Rio Grande do Sul, o produto interno bruto vem muito do agro, cerca de 40%, e esse setor tem inadimplência baixa. Há uma grande oportunidade de crescimento e de avançar nos financiamentos nesta frente, que é pouco explorada”, avalia Queiroz.

“É questão de o Leite dar prosseguimento à política dele”, complementa, mencionando o atual líder do executivo do estado, que também lidera as pesquisas eleitorais no estado.

João Abdouni, analista da Inv, finaliza falando que, no caso das estaduais, investidores têm de avaliar caso a caso de perto – a casa, no entanto, tem uma política particular, preferindo se expor a alguns setores buscando investir em companhias privadas, quando elas existem.

“No caso da Cemig, de Minas Gerais, o governo Zema está fazendo uma boa gestão, por exemplo. Mas não temos posição pois vemos que há empresas similares a ela sem o risco estatal e com valuation parecido, caso da Eletrobras”, justifica. “Se tivéssemos a saída do Zema, por exemplo, poderíamos ter uma mudança de gestão, mas a probabilidade do Zema ganhar é alta”.

A Inv, no entanto, tem posição em Petrobras (PETR3;PETR4), ao citar as federais. “Apesar de estatal, não temos no Brasil nenhuma outra empresa semelhante”, pontua.

João Daronco, analista da Suno, explica que a casa, por sua vez, acompanha o pleito de cada estado e que os riscos são colocados no preço da ação. “O que fazemos é fugir um pouco da questão política. Tentamos escapar de operar notícias, mas entender as políticas e como isso pode construir ou destruir valor”, finaliza.

A SVN, em sua carteira de investimentos, quando o assunto são estatais, tem participação em Sabesp. A Inv e a Western não possuem nenhuma estatal estadual e a Suno opta por não abrir seus aportes fora de suas carteiras.

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