O que esperar do dólar para junho?

Dados dos EUA e fiscal seguirão no radar dos investidores

Vitor Azevedo

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Maio foi um mês ruim para o real, que teve uma das piores performances do mundo. Apesar de alta não ter sido tão relevante, de 1,08% no acumulado do mês, a R$ 5,249, o fato de a moeda americana ter perdido força mundialmente piora a leitura. E a perspectiva para junho divide especialistas.

No geral, o que enfraqueceu o real no quinto mês do ano foram problemas internos. No mundo, como já mencionado, dólar perdeu força, com os juros americanos recuando após alguns dados macroeconômicos (como o PCE e vendas no varejo) sinalizarem uma desaceleração da economia por lá, fortalecendo a visão de que o Federal Reserve poderá cortar os juros duas vezes em 2024. O DXY, que mede a força da divisa norte-americana frente a outras de países desenvolvidos, saiu dos 105,75 pontos para 104,62. 

“Tivemos em maio uma das piores moedas, tanto no mundo rico quanto no mundo emergente. Os juros futuros foram quase a 12%. Isso é explicado por várias tensões que tivemos por aqui, como a troca de comando da Petrobras (PETR4), o aumento da incerteza em relação à trajetória fiscal e em relação a mudanças no Banco Central Brasileiro”, explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

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Questões internas

A saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras para a entrada de Magda Chambriard levantou o temor do mercado de que o Governo pode voltar a adotar medidas desenvolvimentistas na companhia, usando o seu caixa para realizar investimentos pouco produtivos. Fora isso, há também a visão de que os dividendos podem minguar, o que impactaria a saúde fiscal do Governo já que a Petrobras nos últimos anos ajudou bastante do lado da arrecadação da União.

Pesa ainda do lado fiscal a revisão das metas, com o superávit ficando para 2026. Já a proximidade do fim do mandato do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, preocupa o mercado pela possibilidade de a instituição monetária seguir por um caminho menos ortodoxo. 

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Tudo isso aumentou o chamado risco Brasil e ganhou força no mercado a uma visão de que a chamada “frente ideológica” petista esteja ganhando espaço no governo.

Isso levou a uma alta dos juros futuros no Brasil. No entanto, apesar de as taxas terem subido — tanto de títulos públicos quanto de contratos privados — em maio, ainda há uma relutância de parte do mercado em investir nesses papéis, principalmente nos mais de longo prazo, com o temor de que o fiscal se deteriore. 

“A dinâmica do câmbio vai depender muito do comportamento da política aqui no Brasil. Próximas informações em relação à intervenção ou não do governo, que é o que tem preocupado muito o mercado. A gente está aqui no Brasil sempre tendo essa novela”, expõe Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. 

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Estados Unidos continua em destaque

Mas há também a visão de que se a tendência nos Estados Unidos, de desaceleração da economia, continuar, com dados mostrando enfraquecimento da atividade, o dólar pode enfraquecer mundialmente.

“Se os dados continuarem vindo bons em relação à inflação mais baixa nos Estados Unidos, a expectativa é que o dólar possa começar uma trajetória mais baixista. Ainda mais porque esses dados lá vão reforçar a expectativa de juros mais baixos por lá também, o que é muito bom e favorável para nossa bolsa aqui”, explica Cohen.

Gustavo Corradi Matos, economista e CIO da Medici Asset, tem uma visão um pouco mais cética. Para ele, o Federal Reserve, em seu Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve continuar com um tom mais duro, não abrindo muito espaço para cortes. A reunião está marcada para começar no dia 11 e a decisão, no dia 12.

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“Por aqui, fora a questão fiscal, que impacta mais a ponta longa, temos uma desancoragem das expectativas, com a enchente do Rio Grande do Sul podendo impactar marginalmente a inflação. Além do mais, há também o fato de o BC estar mais hawkish [mostrando preocupação em relação à inflação]”, comenta. 

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