O que esperar da temporada de resultados trimestrais das empresas dos EUA?

Números vão ser essenciais para dar impulso às ações em cenário de juros elevados

Mitchel Diniz

(Shutterstock)

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Com os juros altos aumentando a atratividade dos treasuries, os títulos do Tesouro americano, a temporada de balanços do terceiro trimestre nos Estados Unidos ganha relevância ainda maior. Os resultados têm potencial para influenciar a percepção dos agentes sobre as empresas até o final do ano e, até mesmo, reavivar o rali que Wall Street experimentou no primeiro semestre.

“As empresas do S&P 500 devem deixar a recessão dos resultados, que ocorreu no primeiro semestre, para trás”, diz análise do Julius Baer, assinada por Mathieu Racheter, chefe de estratégia de ações. As empresas do índice S&P500 devem apresentar um crescimento de 1,3% nos lucros em relação ao mesmo período de 2023.

Racheter observa que, entre as companhias que já reportaram resultado até agora, 76% superaram os consensos do mercado.

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“Precisamos de boas notícias”, disse Matthew Miskin, estrategista de investimentos na John Hancock Investmente Management à Reuters. “A economia tem se mantido bem, mas é preciso ver isso refletido nos números das empresas, para dar apoio as ações.”

JP Morgan (JPMC34), Wells Fargo (WFCO34) e Citigroup (CTGP34) inauguram a temporada dos “bancões” nesta sexta-feira (13).

O economista Guilherme Zanin explica que os resultados vão dar uma ideia sobre a temperatura do mercado de crédito – se os juros mais elevados já estão impactando as empresas e se o nível de inadimplência dos consumidores tem aumentado.

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“Se a saúde da economia americana estiver bem, os consumidores vão continuar gastando, aumentando o crédito e os bancos vão continuar lucrar mais, com juros mais altos”, afirma.

Os analistas acreditam em crescimento nos custos, em ritmo mais acelerado que o das receitas. As instituições financeiras também devem seguir aumentando suas provisões para empréstimos inadimplentes.

Desde que o Federal Reserve iniciou o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, os juros mais altos impulsionaram a rentabilidade dos bancos. Mas, agora que o ritmo dos ajustes diminuiu, as instituições financeiras estão sendo desafiadas a superar as margens financeiras que obtiveram nos últimos tempos.

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Lucas Schwarz, analista da VG Research, acredita que a temporada deve refletir a disputa por depósitos. “O que a gente deve verificar é uma pressão na rentabilidade pela maior disputa interbancária e isso não deve mudar tão cedo”, afirma. Os juros altos aumentam os custos de captação de depósitos pelas instituições financeiras.

A perspectiva de que as taxas devem ser mantidos em patamares elevados por mais tempo, por outro lado, pode renovar o sentimento de temor de recessão – até aqui, abrandado por dados que revelam uma economia ainda aquecida.

As instituições financeiras também vão precisar provar que os efeitos do colapso de bancos regionais dos Estados Unidos ficou realmente para trás.

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Consumo e tecnologia

Sazonalmente, o terceiro trimestre é mais forte do que o segundo. Isso porque o período coincide com o verão no hemisfério Norte, período em que os americanos viajam e gastam mais. A inflação atenuou os lucros das companhias na primeira metade do ano, período em que os preços ao consumidor atingiram o maior nível em décadas. Agora, analistas apostam que a robustez da economia americana possa mudar esse cenário.

O último dado do mercado de trabalho, por exemplo, apontou para a criação de número de vagas muito acima do esperado em setembro. Foi mais uma evidência de que a economia está forte e a demanda deve permanecer intacta por enquanto.

“As empresas podem ter mais dificuldades para repassar preço, mas, de qualquer forma, os números devem ser melhores”, afirma Zanin.

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É o que mostraram, por exemplo, os resultados trimestrais da PepsiCo (PEPB34), divulgados na última terça-feira. O lucro por ação da companhia, dona de marcas como Pepsi e Cheetos, foi de US$ 2,25 no período e bateu as estimativas dos analistas.

E ainda que as receitas líquidas da companhia tenham avançado 6,7% no período, para US$ 23,45 bilhões, as vendas, em termos de volume, recuaram mais uma vez. Os ajustes nos preços dos produtos, para mitigar o impacto da inflação, está enfraquecendo a demanda pelos produtos da companhia, que estão sendo comercializado em porções menores para estimular consumo.

Schwarz diz que o consumo discricionário, de produtos e serviços que as pessoas normalmente adquirem quando têm dinheiro extra disponível, é uma incógnita. Segundo ele, o excesso de poupança dos americanos acumulado ao longo da pandemia está se esgotando.

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“A lógica é a de que, com essa poupança chegando ao fim, a gente verifique uma redução no consumo discricionário. Mas, se o cenário de soft landing ganhar mais força, com consumidores resilientes, talvez a gente verifique resultados interessantes no setor”, afirma. No cenário de soft landing, a política de aperto monetário tem efeito limitado à inflação, com impacto reduzido no crescimento econômico.

O tema da inteligência artificial deve pautar, mais uma vez, a temporada de resultados das grandes empresas de tecnologia. A expectativa é que as companhias comecem a mostrar projeções de retorno sobre os investimentos feitos nessa área até agora. As big techs representam algo em torno de 20% dos lucros do S&P 500 no acumulado de 2023. E espera-se que o lucro do setor apresente um aumento anual de 6% no terceiro trimestre.

Mais uma vez, a temporada de resultados das big techs poderá surpreender positivamente e dar novo impulso às ações que mais se destacaram no ano até agora em Wall Street.

(com agências internacionais)

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados