O que a parceria de R$ 600 milhões significa para B3 e Totvs (e como ela pode ameaçar os planos da Sinqia)

Enquanto a Bolsa brasileira diversifica seus segmentos de atuação, a Totvs ganha um parceiro capitalizado para expandir suas operações

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – A B3 (B3SA3) anunciou na noite de segunda-feira (12) que investiu R$ 600 milhões em uma participação de 37,5% na TFS Soluções em Software, uma subsidiária da Totvs (TOTS3), que terá os 62,5% restantes.

A negociação foi vista como certeira por analistas do mercado financeiro, dado que pode destravar valor para ambas as companhias.

De um lado, a Bolsa brasileira mostra que está buscando oportunidades para gerar ganhos fora de seus negócios principais – isso em um contexto em que as ações da companhia foram recentemente impactadas por preocupações de uma nova Bolsa no país.

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E do outro, a Totvs consegue um forte parceiro para crescer em um mercado altamente fragmentado e de grande potencial de crescimento, o de softwares para o mercado financeiro.

Em relatório divulgado nesta terça-feira (13), o Credit Suisse destaca que a transação é bastante atrativa, considerando a oportunidade de crescimento orgânico de mais de 10% para a TFS, novas avenidas de crescimento com a parceria com a B3 e as oportunidades para expansão inorgânica por ser um consolidador no mercado de softwares de fintechs.

“Com receita de R$ 140 milhões em 2020, caixa de R$ 650 milhões e um valor de mercado de R$ 1,6 bilhão, estimamos que a transação tenha um múltiplo de 6,8 vezes o valor de mercado sobre vendas (EV/Sales), bem razoável em nossa visão, considerando o múltiplo da Totvs de valor sobre vendas de 8,1 vezes, e da Sinqia, sua principal concorrente, de 7,9 vezes para 2020”, escrevem os analistas.

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B3 diversificando canais de atuação

Mesmo o acordo não sendo “transformacional” para a B3, dado o tamanho relativo do negócio em relação à Bolsa, o Credit Suisse afirma que o movimento é estratégico e pode aproximar a companhia de seus maiores clientes. Isso porque o principal produto da TFS é software para custódia.

O movimento também deve apoiar a B3 no lançamento de novos produtos, segundo os analistas do banco, garantindo um melhor serviço e aprimoramento na experiência do cliente.

Por fim, abre espaço para novas avenidas de crescimento, em linha com a estratégia da companhia de expandir a presença em potenciais áreas adjacentes onde pode adicionar valor aos clientes dentro do seu ecossistema.

“Tais aquisições e parcerias estratégicas como essas são importantes para acelerar o time-to-market da B3 e melhorar sua capacidade de evolução e adaptação a um mercado bastante dinâmico, que são duas áreas de preocupação dos investidores”, escrevem os analistas.

Na avaliação da casa de análise Levante, a notícia é positiva para ambas as empresas, mas os papéis da Bolsa brasileira devem ser os mais beneficiados dado que a parceria dá uma resposta ao mercado dos novos caminhos que a b3 pode tomar em meio às mudanças regulatórias no setor financeiro, com a chegada do Pix, incentivo à competição e Open Banking.

“Enxergamos essa parceria como uma forma de a companhia mostrar que não vai deixar de crescer e inovar, se expandindo para mercados adjacentes no setor financeiro”, escrevem os analistas, em relatório divulgado nesta teça (13).

Impulso às operações da TFS

Na avaliação do Itaú BBA, o acordo é positivo e pode acelerar as operações da TFS e fazer com que ela se consolide no mercado de softwares para o mercado financeiro.

A visão é de que a parceria com a B3 fornece um parceiro bem capitalizado à empresa, podendo gerar uma grande oportunidade de venda cruzada para a TFS com a base de clientes da empresa, ao mesmo tempo em que fornece à Bolsa brasileira diversificação de receita por meio do desenvolvimento e expansão de soluções.

“A TFS representará mais uma vertical de crescimento para a Totvs, considerando o grande potencial do segmento de software para instituições financeiras, que é bastante fragmentado e com alto potencial de crescimento. Estimamos um mercado endereçável de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões”, escrevem os analistas do Itaú BBA.

O Bradesco BBI também vê a transação criando valor para a TFS, dado que a empresa poderá se beneficiar de uma administração independente e renovada, levando a um foco maior em suas operações.

Ainda na avaliação do Credit Suisse, o acordo pode ser positivo para a TFS, dado que a empresa poderá usar os recursos para novas fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) nos próximos dois a três anos, agregando bastante no segmento.

O banco encara como provável uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da TFS, como forma de liberar valor.

“As oportunidades de crescimento são muitas, já que a onda de novos players no setor (bancos digitais, techfins, fintechs, etc) tem sido significante e dado um aumento na demanda por soluções de softwares mais especializadas como as que o TFS possui”, escreve o time.

Por fim, os analistas da Levante destacam que a chegada de capital deve ajudar a Totvs a crescer em um segmento que está em plena expansão.

“Assim como a Sinqia fez após seu follow-on, enxergamos a captação de recursos da TFS como uma oportunidade para crescimento via aquisições, isso porque o mercado de serviços de back-office e middle-office para instituições financeiras tem como característica uma taxa de cancelamento muito baixa”, avaliam os analistas.

Sinqia ganha nova concorrência

Na leitura dos analistas do Credit Suisse, a parceria da B3 com a Totvs é negativa para a provedora de tecnologia financeira Sinqia (SQIA3), uma vez que cria um competidor mais forte no mercado, que deve disputar espaço nas carteiras de grandes instituições.

Para o banco, mesmo com um portfólio atual mais limitado em relação à Sinqia, a TFS pode virar um competidor mais forte após uma sequência de fusões e aquisições.

“A Sinqia tem atuado como o único consolidador no mercado de software para o setor financeiro, porém, daqui para frente, a Totvs deve disputar alguns M&As com a Sinqia”, avaliam os analistas.

A Sinqia tem uma fatia de 6% do mercado de 6% no segmento de software para serviços financeiros. Com isso, a parceria pode gerar uma ameaça na sua consolidação de mercado sem uma grande concorrência.

Às 14h20 (horário de Brasília), os ativos SQIA3 tinham queda de 2,25%, a R$ 25,23, após chegarem a ter perdas de 4,61% no intraday. No mesmo horário, as ações TOTS3 avançam 0,21%, a R$ 37,82, enquanto os papéis B3SA3 tinham ganhos mais expressivos, de 1,20%, a R$ 16,91.

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