O que a JSL ganha ao se unir com a Tegma – e por que o apetite por fusões e aquisições não deve parar por aí

Intenção é criar uma gigante em logística rodoviária no país; proposta seria parte em dinheiro e parte em ações, avaliando a Tegma em R$ 1,75 bi

Lara Rizério

Tegma (Foto: divulgação)

Publicidade

SÃO PAULO – Em mais um movimento significativo – e talvez o mais surpreendente – de fusão e aquisição do conglomerado, a Simpar (SIMH3) comunicou que sua subsidiária JSL (JSLG3) fez uma proposta para fusão com a Tegma (TGMA3). Assim, a intenção é criar uma gigante em logística rodoviária no país, unindo a primeira e a segunda maiores do setor, ainda que em um mercado bastante pulverizado.

A proposta seria parte em dinheiro e parte em ações, avaliando a Tegma em R$ 1,75 bilhão, 15% acima do valor de mercado da companhia em relação ao fechamento da véspera. Na parte a ser paga em dinheiro, de R$ 989 milhões, haveria um prêmio de 30% sobre o valor por ação, antecipando liquidez para os acionistas da Tegma. Na parcela em ações, com entrega de 49,4 milhões de novos ativos de emissão da JSL, a relação de troca é sem prêmio.

Os acionistas de Tegma teriam assim, após consumada a operação, aproximadamente 15% do capital da JSL.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Analistas destacaram a notícia como positiva para ambas as companhias, representando a continuidade da atual estratégia da JSL de crescimento via aquisições.

O comunicado da JSL aponta que a fusão das duas empresas criaria uma companhia com receita bruta combinada de R$ 6,1 bilhões e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de R$ 827 milhões.

Conforme destaca a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, a proposta exibe o racional estratégico da motivação de combinação de negócios, explorando como benefícios as significativas oportunidades de sinergias, incluindo ganhos de escala, diluição de custos fixos e cross-selling. Também é apontado como pilar estratégico a geração de caixa ainda mais robusta após a combinação.

Continua depois da publicidade

Os acionistas da Tegma têm até 16 de julho para decidir se aceitam a proposta de combinação de negócios.

Como reação à notícia, os papéis subiram forte:  os ativos JSLG3 subiram 5,97%, a R$ 12,61, enquanto TGMA3 avançou 12,90%, a R$ 25,99. Os papéis da Simpar, por sua vez, avançaram 6,01%, a R$ 59,11.

Apesar das empresas serem as duas maiores do setor, o nicho é bastante pulverizado, e, juntas, teriam menos de 2% do participação de mercado, o que não deveria levantar preocupações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) caso a negociação ande, avalia a equipe de análise da XP.

Caso seja aprovada, e apesar do prêmio oferecido à Tegma para incentivar os acionistas a aprovar a proposta de combinação de negócios, o negócio poderia agregar R$ 1,80 por ação JSGL3 e R$ 1,90 por papel SIMH3, avalia o Bradesco BBI. A proposta pressupõe que 37% da transação será paga com ações JSLG3, o que dará aos acionistas da Tegma a oportunidade de capturar o lado positivo em ambas as ações (TGMA3 e JSLG3) e as sinergias esperadas, apontam os analistas do banco.

Conforme destaca a Levante, desde a oferta de ações realizada ano passado, a JSL se enveredou por uma estratégia acelerada de fusões e aquisições, acumulando cinco operações neste sentido nos últimos meses.

Em conjunto, ampliaram a receita bruta da companhia em aproximadamente 50%, para R$ 4,9 bilhões nos últimos 12 meses findos no primeiro trimestre de 2021 (cálculo proforma). A Tegma deve adicionar mais R$ 1,2 bilhão, implicando crescimento de 24%.

Além dos ganhos de escala e diluição de custos, haverá ainda expansão de atuação e consequente diversificação, pois, enquanto a JSL é preponderante na prestação de serviços logísticos no transporte rodoviário, a Tegma apresenta posição dominante no transporte automotivo. “Logo, estrategicamente, é acertada a proposta de aquisição para a JSL e julgamos adequada sua visão de consolidação do setor de logística, que ainda é altamente pulverizado”, aponta.

Em relação ao prêmio proposto pela Tegma, os analistas avaliam como aceitável e que não ameaça o potencial retorno da transação, ainda mais levando em conta que a cotação ainda estava depreciada, pois a companhia não havia se recuperado integralmente dos efeitos nocivos da pandemia.

Mas, para o consenso de mercado, o valor justo das ações era consideravelmente superior ao preço de tela, de modo que o prêmio oferecido está condizente com as expectativas de mercado. Além disso, a JSL ainda capturará sinergias e diluição de custos que justificam o pagamento de prêmio.

Ao analisar a estrutura de capital, os analistas também apontam que, após a consolidação da Tegma, a estimativa é de que o nível de alavancagem permaneça em patamares administráveis. Isso porque, embora a aquisição implique um desembolso de cerca de R$ 1 bilhão, a Tegma é uma empresa conservadora, com caixa e aplicações financeiras superiores à sua dívida, de acordo com os números divulgados no primeiro trimestre, destaca a Levante, reduzindo assim o risco financeiro da operação.

Muitas aquisições?

A Levante aponta que há muitas oportunidades de sinergia. Contudo, como fatores de risco, é válido mencionar os desafios de execução assumidos pela JSL visto que, nesses últimos meses, incluindo a possível compra da Tegma, há seis aquisições concretizadas.

“Desse modo, devemos monitorar o andamento do processo de consolidação e acompanhar a capacidade de a empresa entregar as sinergias, diluições de custos e despesas e benefícios de escala anunciados”, aponta.

Já para o Bradesco BBI, as aquisições não devem parar por aí. Eles também destacam a posição de caixa líquido da Tegma que, combinada com a JSL, levará a uma relação entre dívida líquida e Ebitda combinada em 3 vezes, excluindo sinergias.

“Se assumirmos que a Simpar pode reduzir sua participação na JSL de 65,4% para 50,1% (pós-fusão com a Tegma), a empresa poderia emitir mais 228 milhões JSLG3, resultando em R$ 2,7 bilhões em ações a preços de mercado”, apontam, levando a mais capital para novas compras.

O BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as ações da controladora Simpar, com um preço-alvo para 2022 de R$ 81, ou 45% acima frente o fechamento da véspera. Os analistas ressaltam o  modelo de negócios resiliente e uma forte execução da gestão, além de uma flexibilidade do balanço patrimonial que permite ao grupo executar um processo inorgânico acelerado com crescimento em algumas operações, como Vamos (VAMO3) e Movida (MOVI3).

A XP, por sua vez, ressalta que os riscos envolvem: a profundidade do impacto da crise automotiva nos negócios da Tegma (porém, os analistas notam que a Tegma se mostrou historicamente resiliente em momentos de crise dado seu modelo leve em ativos) e o fato de ser de informação pública que a Tegma foi alvo de investigações sobre alegações de controle/manipulação de preço no serviço de transporte automotivo.

Quer trabalhar como assessor de investimentos? Entre no setor que paga as melhores remunerações de 2021. Inscreva-se no curso gratuito “Carreira no Mercado Financeiro”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.