O Processo de Impeachment é Provável

A economia vai mal, os políticos abandonam o governo e se formam os fatos jurídicos

Francisco Petros

Publicidade

A crise política brasileira atual é fruto imediato da combinação entre a vasta corrupção dentro do Estado com o financiamento de campanhas eleitorais dos principais partidos políticos e de suas principais lideranças. De outro lado, é fruto mediato do descaso da sociedade brasileira, sobretudo de suas elites com a formação de lideranças que façam funcionar o sistema representativo da democracia do país. O sistema é um caos, para dizer o mínimo.

É preciso situar o contexto atual no qual se insere a discussão, cada vez mais acesa, sobre o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Afinal, este fato político deve se tornar “central” nos próximos meses e atrairá todas as atenções sociais, mas não esvaziará a natureza intrínseca da crise, cujas raízes são mais profundas.

Além disso, há que se reconhecer que a crise política adicionou entre dois e três pontos de perda de crescimento ao PIB. Ao invés de crescermos perto de zero, a deterioração das expectativas jogou o país para uma redução do PIB ao redor de 2% (visão do “mercado”) ou 3% (minha estimativa).

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A probabilidade de que a Presidente suba ao cadafalso do processo do impeachment é altíssimo, pois ela é a representação plena da atual crise. Há justiça nisso quando se cobra da atual mandatária os desmandos realizados com a economia em seu primeiro mandato, o completo falseamento de sua campanha eleitoral em 2014 e a sua incapacidade gerencial para lidar com a crise. 

Todavia, impeachment não é processo banal e, do ponto de vista jurídico, ainda não se identificou claramente uma participação específica e pessoal da presidente em malfeitos, para usar uma palavra da moda. Nem mesmo na questão das “pedaladas fiscais” e das contas da campanha eleitoral – estas muito semelhante ao que ocorre com outros partidos políticos. Isso não importará, contudo. A presidente deve passar pelo constrangimento político e a ameaça do impedimento.

O apoio político no Congresso está absolutamente fragmentado, não apenas porque estruturalmente isso é assim, mas porque por ali os medos são enormes. O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e o do Senado Federal Renan Calheiros estão às voltas com seus próprios problemas de possíveis malfeitos, muitos deputados e senadores temem quando as revelações das delações vierem à tona de forma completa e sem edições e há insatisfação generalizada da classe política porque muitas “boquinhas” já não fazem fruir os benefícios do passado recente. A República passa longe dessa gente.

Continua depois da publicidade

Do lado de fora do Congresso, a banca teme o aumento dos riscos do país, os quais só não aumentaram mais devido à boa posição externa (leia-se reservas internacionais), os setores da economia real estão mordendo os dedos por causa da recessão e os trabalhadores estão sendo dispensados. Nada mais inflamável para um processo de impeachment.

Em meio a toda esta cena dantesca vê-se um PT relativamente silencioso e Lula sabedor de que seu melhor momento ainda não chegou. Afinal, um processo político como este reativará o discurso ideológico do golpismo o qual andava meio fora de moda e, se consumada a guilhotina sobre o pescoço de sua ex-pupila, abrirá espaço para novas caravanas da cidadania com vistas à eleição de 2018. Se funcionará, só o tempo e a evolução dos fatos políticos e da economia dirão.

Agora, em Brasília, a grande tarefa é engajar Michel Temer nesta conspiração ou incluí-lo na execução da titular do cargo que ele tanto ambiciona. Há partidários para todos os lados: os que querem o vice e os que não querem. Dentro e fora do PMDB. Em breve falaremos dos cálculos políticos que envolvem o vice-presidente.

No Palácio da Alvorada, a moradora começa a compreender que há algo de novo no front. O nome da locatária não é Maria Antonieta.