O presidente do PT Rui Falcão quer voo de galinha

Mesmo Dilma tendo garantido Levy, é difícil ele fazer a ceia de Natal como ministro da Fazenda. Sua permanência depende mais do que nunca do “presidente sem pasta” do país, no caso, Lula da Silva

Francisco Petros

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A entrevista do presidente do PT Rui Falcão ontem (18/10/15) na Folha de S. Paulo foi muito significativa. Ilustrou bem alguns aspectos que poderão ter influência direta para os acontecimentos políticos e econômicos das próximas semanas.

O petista pregou abertamente contra a política econômica do governo Dilma, incluso, é lógico, o Ministro Joaquim Levy. Lá da fria Suécia a presidente Dilma prontamente rechaçou as ideias de Rui Falcão, dando irrestrito apoio ao seu ministro. Todavia, sabe-se que a presidente está com o seu poder limitado pelas inéditas complicações políticas do país e de seu governo, bem como pelas salvaguardas políticas engendradas pelo ex-presidente Lula da Silva dada a fragilidade da presidente empossada há dez meses. Logo, a voz de Falcão é reflexo destas duas variáveis: a fraqueza do governo (e de Levy) e a voz forte de Lula que ele reverbera com disciplina e, por que não dizer, burrice.

Ora, o incrível desta entrevista é que ela pode até funcionar para derrubar Joaquim Levy, mas de nada servirá para resolver as largas tensões existentes no Brasil de agora. Levy está fazendo uma política que combina o possível (diante da fragilidade política do governo) com o óbvio (diante do analfabetismo da política econômica da presidente em seu primeiro mandato). Não creio que Levy seja um articulador de políticas econômicas dotado de especial expertise. Ele me parece um bom burocrata, com bons predicados acadêmicos e a experiência de tesoureiro da União, o que não é pouco. Todavia, Levy é um pouco mais neste contexto histórico: é a mínima garantia de alguma racionalidade em meio aos desastres do petismo ao longo dos anos. É assim, inclusive, que o tal do “mercado” o vê.

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Já Falcão é o representante de um líder nefasto (Lula) que articulou um governo baseado no populismo e na corrupção (como se vê no caso do “Petrolão”), é presidente de um partido que traiu o seu discurso mais profundo (a ética e a luta pela redução das desigualdades sociais). Na entrevista, vê-se que o presidente do PT não tem coragem sequer de se livrar de José Dirceu, João Vaccari Neto e Delúbio Soares. Estes três próceres do PT arrecadaram ilegalmente dinheiro para o petismo e, pelo menos no caso de Dirceu e Vaccari, tiraram proveito para si. São bandidos condenados (Dirceu e Soares) ou a caminho da condenação (Vaccari e Dirceu, este pode ter a sua segunda sentença condenatória). Pois bem: Falcão se apega na mais comezinha conversa “legalista” para dizer o porquê esta gente não foi expulsa do PT. Para os pulhas dedica sua condescendência. Para a presidente, envia recados: “se Levy não mudar a política econômica, tem de sair”.

Mal sabe Falcão que o problema básico da economia brasileira por estes duros tempos é reequilibrar as finanças combalidas do setor público em duas vertentes: a primeira para passar por este ano e 2016. Ou seja, não deixar que o país seja rebaixado definitivamente em termos de grau de investimento e entre numa dinâmica ainda mais imprevisível. A segunda diz respeito a repensar o Estado brasileiro e torná-lo capaz de articular o desenvolvimento do país (e não somente o crescimento do PIB). Levy está tentando fazer a primeira lição. A segunda dependerá do cumprimento da primeira e da capacidade da sociedade como todo se organizar em prol do país.

O PT quer, ao contrário da frágil Dilma e do abandonado Levy, um “voo de galinha” na economia para passar pelas eleições de 2016 e de 2018 (com Lula, se possível). Nada mais que isso. Ao propor o “relançamento” da economia via aumento do consumo e redução peremptória da taxa de juros, se esquece Falcão e a sua trupe que falta confiança ao consumidor porque a tarefa que está sendo requerida do governo é o reequilíbrio das finanças públicas. Quem vai consumir quando se sabe que os empresários não investem, estão mandando pais e mães de família para casa porque não vendem, o mercado local e internacional desconfia do governo? Somente um mentecapto político pode acreditar que o contexto brasileiro hoje recomenda políticas “keynesianas”. Falcão acredita.

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De toda a forma, podem anotar: é difícil Joaquim Levy fazer a ceia de Natal como Ministro da Fazenda. Sua permanência depende mais do que nunca do “presidente sem pasta” do país, no caso, Lula da Silva. O ex-presidente está armando arapucas para o ministro e Dilma por toda a “Esplanada dos Ministérios” e dentro do Executivo e Legislativo. Ninguém tem força para barrá-lo. Nem a sociedade que passiva assiste a tudo como se fosse um filme na madrugada. Um filme de terror, diga-se.