O outro lado: por que os investidores da BR Distribuidora ficaram tão animados com a ida de Ferreira Jr. para a empresa?

Expectativa de aceleração da saída da Petrobras do capital da companhia e histórico considerado positivo do atual CEO da Eletrobras levam à alta dos ativos

Lara Rizério Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se, de um lado, a renúncia de Wilson Ferreira Júnior ao cargo de presidente da Eletrobras (ELET3;ELET6) tem um forte impacto negativo para as ações da companhia estatal (veja mais clicando aqui), por outro os acionistas da BR Distribuidora (BRDT3) estão “comemorando” o ocorrido. Enquanto os ativos ELET3 e ELET6 chegaram a ter perdas de mais de 10% na sessão desta terça-feira (26) depois de uma forte queda dos ativos negociados na Bolsa de Nova York na véspera, os papéis BRDT3 saltaram até 16% no intraday. Isso porque o atual CEO da elétrica saiu da Eletrobras para comandar a distribuidora no lugar de Rafael Grisolia.

Além do atual comandante da Eletrobras, que fica até março no cargo, ser muito elogiado e bem visto pelo mercado por seus quase 30 anos de experiência no setor, analistas apontam que a ida dele para a BR Distribuidora pode acelerar a saída definitiva da Petrobras (PETR3;PETR4) do capital da companhia, algo tido como um fator que pesa negativamente no preço dos papéis até hoje.

A chegada de Ferreira pode ainda auxiliar na obtenção de novas eficiências da companhia, além de repensar o espaço da BR no espaço de energia brasileiro, reinventando-a como empresa, segunda aponta o Bradesco BBI. Apesar de ver a mudança positiva, os analistas destacam o papel importante de Grisolia, um nome central na oferta pública inicial de ações da distribuidora em 2017, sendo capaz de estabelecer planos claros para garantir a eficiência da companhia. Porém, agora, a companhia poderá seguir a ritmos ainda mais acelerados em seu processo de transformação.

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O Morgan Stanley também vê a chegada de Ferreira como uma evolução positiva. O banco afirma que o executivo poderá implementar a integração entre varejo e conveniência. Na avaliação dos analistas do banco, Ferreira foi importante para o compliance e a governança corporativa da Eletrobras, alinhando a estratégia da holding com a de suas subsidiárias. Também demonstrou disciplina financeira, com a venda de subsidiárias de distribuição. E melhorou a eficiência da empresa, incentivando a aposentadoria e o desligamento de funcionários. Tudo isso sustenta a boa visão do mercado sobre o executivo.

O Morgan ainda ressalta que o consumo de combustíveis está se recuperando mais rápido do que o esperado, e o histórico de reformas da BR a coloca em posição para aumentar sua lucratividade, e potencialmente alocar capital em negócios complementares nos setores de energia e distribuição.

O banco manteve avaliação de overweight (perspectiva de valorização acima da média do mercado), e preço-alvo de R$ 32, frente os R$ 20,90 negociados na sexta-feira (22), ou uma alta de 53,11% em relação ao último fechamento.

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Na mesma linha, a equipe da Levante destaca que o executivo ficaria incumbido de liderar a reestruturação da companhia, que é líder no setor de distribuição de combustíveis no País.

“Entre os desafios está diminuir a dependência da empresa em relação a seu principal negócio e alavancar sua capilaridade para gerar mais receita através de negócios tidos até agora como secundários, como por exemplo suas lojas de conveniências, além do investimento em segmentos ‘do futuro’, como a geração de energia de maneira mais ampla, em vez dos investimentos em refinarias que têm feito as suas principais concorrentes”, afirmam.

Saída da Petrobras no radar

O UBS reitera que a mudança na cúpula da BR pode fazer os investidores deixarem de castigar os papéis da empresa devido à perspectiva de uma futura oferta secundária da Petrobras.

“Acreditamos que com a chegada de Ferreira os investidores talvez ignorem essa ameaça e comecem a precificar um horizonte de longo prazo, com uma potencial diversificação do portfólio de ativos à frente. Como consequência, cremos que, a um preço maior, a Petrobras pode decidir seguir com o desinvestimento de sua fatia de 37% antes do esperado.”

O time de profissionais do UBS acrescentou que a BR poderia buscar diversificação de portfólio aproveitando a abertura do setor de gás natural no Brasil ou com crescimento no setor elétrico.

Como aponta a Levante, apesar de a Petrobras não controlar mais a BR Distribuidora, sua fatia de 37,5% ainda gera uma “pressão baixista para as ações da BRDT3 no curto prazo”, tanto pelo tamanho da participação quanto pela influência indireta no conselho da companhia.

Antes mesmo desta mudança, já havia quem destacasse uma visão positiva para o papel. No ano passado, no podcast Stock Pickers (ouça clicando aqui), Breno Guerbatin, gestor da Studio Investimentos, destacou que, desde a abertura de capital, a administração da companhia focou em guiar a empresa com uma visão totalmente de mercado – mas que as ações não tinham correspondido da mesma maneira.

“Nos três primeiros trimestres do ano, houve uma queda de custo de pessoal da ordem de 35% na comparação anual, enquanto o Ebitda por metro cúbico já chegou muito perto dos concorrentes e há recuperação de participação de mercado”, avaliou. Ele destacou que um dos motivos para a ação não ter registrado um bom desempenho em boa parte de 2020 foi a expectativa pela oferta de ações da Petrobras que, contudo, não acontecia por conta da cotação baixa dos ativos, gerando uma espécie de “trava” para os ativos.

Agora, por conta do otimismo com Ferreira (e o impacto disso nas ações), o processo de venda de participação da Petrobras com o mercado mais favorável pode ser acelerado.

Entre os entusiastas com o ativo está também o Bank of America, que aponta a ação como uma das principais recomendações entre os ativos de petróleo e gás da América Latina.

“Vemos um potencial importante de crescimento no médio e longo prazo com projeção de (1) melhora da atividade econômica (2) plena realização de iniciativas de corte de custos, (3) estratégia de varejo mais forte, (4) expansão do setor no Brasil (incluindo fornecimento / venda eficiente de produtos após a privatização das refinarias); e (5) expansão dos serviços em gás natural e energia. Esses fatores devem permitir uma valorização material dos ativos nos próximos 12 meses, em nossa opinião”, avaliam. A recomendação de compra e o preço-alvo é de R$ 34, o que configura um potencial de valorização de 62,7% em relação ao último fechamento.

A maior parte das casas de análise que cobre o papel tem uma visão positiva para o ativo, com 9 recomendando compra e 4 recomendando neutralidade com o ativo BRDT3, com um preço-alvo médio de R$ 28,28, o que ainda representa uma valorização de mais de 20% apesar dos ganhos de cerca de 10% da sessão desta terça.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.