O negócio de R$ 20 bilhões que fez as teles desabarem na Bolsa hoje; entenda

As ações ações da Telefônica, TIM e Oi lideraram as perdas do Ibovespa hoje; TIM chegou a cair mais de 9% na mínima do dia

Paula Barra

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SÃO PAULO – As ações das empresas de telecomunicações desabam hoje em meio ao comunicado divulgado pela empresa francesa Vivendi de que a Telefônica (VIVT4), em conjunto com a controladora espanhola Telefónica, fez uma oferta pela sua subsidiária GVT no Brasil. Segundo a empresa, a proposta feita pela Telefónica envolve um negócio total de R$ 20,1 bilhões.

As ações da Telefônica (VIVT4, R$ 43,20, -6,55%), TIM (TIMP3, R$ 11,23, -8,48%) e Oi (OIBR4, R$ 1,34, -7,59%) lideraram as perdas Ibovespa hoje. Na mínima do dia, os papéis atingiram quedas de 6,99%, 9,29% e 7,59%, respectivamente.  

Segundo a Guide Investimentos, já era esperado uma reação negativa dos ativos da Telefônica/Vivo em função da possibilidade de diluição de acionistas no aumento de capital. Vale mencionar também as restrições que podem ser anunciadas por parte do órgão regulador.

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“O movimento (da Telefônica) pode ser visto com surpresa num primeiro momento, e o valor do negócio e a diluição (da participação dos acionistas) pode causar um impacto negativo inicial nas ações”, escreveram em nota a clientes os analistas Mauricio Fernandes e Rodrigo Villanueva, do Bank of America Merrill Lynch. Contudo, é esperado que isso seja mitigado pelo que consideram ser um movimento que parece ser muito estratégico, acrescentaram os analistas.

Por que as concorrentes são penalizadas?
A notícia fere as expectativas da Telecom Italia, dona da TIM Brasil (TIMP3). Rumores de ontem apontavam que a Telefónica entrou na disputa para evitar que a GVT caísse nas mãos da Telecom Italia, que vinha estudando a compra de operadoras brasileiras há meses. Nos últimos meses, a TIM subiu bastante com a expectativa de que a companhia poderia ser comprada pela Telefônica ou fazer uma fusão com a GVT, mas a proposta da Telefônica feita hoje minguou com essa esperança, disse Alex Pardellas, analista da CGD Securities. Para ele, vai ficar bem difícil para a TIM crescer no mercado agora, lembrando que ela ficou muito enfraquecida. 

O mercado vinha especulando que a TIM poderia ser dividida entre as operadoras brasileiras. As empresas que possuem menor market share levariam uma fatia maior no negócio, ou seja, seguindo essa ordem: Oi (OIBR4), Claro e Telefônica. Com a Telefônica comprando a GVT, pode ser que ela não queria entrar na divisão e a Claro e Oi precisariam pagar um valor maior para isso, comentou um analista que pediu para não ser identificado. Além disso, ele comenta que essa oferta não deixa que a TIM vire um ativo maior. “O pior cenário é a Telefônica (que atualmente possui o maior market share no Brasil) comprar a GVT e entrar no mercado muito mais forte ou a TIM ser vendida para alguém de fora, ou seja, com a entrada de novo player”, comentou. 

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A oferta feita pela Telefônica para a aquisição da totalidade do capital social da brasileira GVT prevê o pagamento à vista de R$11,962 bilhões (60%), e o restante na forma de ações de emissão da companhia representativas de 12% do capital social desta após a aquisição da GVT.

No caso da Oi, o anúncio é visto com cautela. A companhia sofre de problemas financeiros e uma concorrência “reforçada” nunca é bom para a operadora, comentou Arthur Barrionuevo, ex-conselheiro do Cade e especialista em telecomunicações pela FGV, em entrevista ao InfoMoney. 

Apesar do otimismo, operação emperrar no Cade
Para Barrionuevo, a aquisição da Telefônica/Vivo pela GVT no Brasil não deve passar fácil pelo Cade (Conselho de Administração de Defesa Econômica). Para ele, o maior problema é São Paulo e se o órgão regulador do mercado vai analisar do ponto de vista de que a aquisição da GVT poderia diminuir a concorrência na capital levando em consideração a política agressiva que a companhia tem adotado.

Segundo Barrionuevo, nos Estados Unidos é comum o órgão regulador analisar esses casos levando em consideração se a proposta foi feita a um player agressivo visando reduzir a concorrência. No Brasil, não funciona assim, mas o Cade pode olhar para essa questão agora e isto seria determinante no caso da Telefônica e GVT, disse, citando que a companhia tem adotado uma postura agressiva.  

“A Telefônica tem ganhos com a operação, mas não vai ser simples”, comentou Barrionuevo. A aquisição da GVT ajudaria a Telefônica a se fortalecer no mercado de telefonia fixa e internet banda larga, mercado em que ocupa a terceira posição no Brasil, com fatia de 18,4%. A oferta é válida até o dia 3 de setembro. 

De acordo com Barrionuevo, o segmento de banda larga é outro que deve emperrar no Cade. “Um dos planos centrais do governo é o de banda larga (que visa massificar a oferta de acesso à Internet banda larga para a população) e a GVT é um importante player neste segmento”, comentou. A GVT é lider no Brasil em internet de alta velocidade e televisão conectada.