“O mercado não está louco, a crise do coronavírus foi a mais organizada que já tivemos”, diz Damodaran

Para o professor de finanças, a crise do coronavírus estabeleceu a distinção entre "investidores humildes e arrogantes"

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Aswath Damodaran, conhecido como papa do valuation, não concorda com a visão predominante de que o mercado financeiro global foi irracional durante o crash do coronavírus. Na dúvida, questiona ele, “apenas abra a janela e se pergunte se você tem alguma clareza sobre quando a vida voltará ao normal”.

Para o professor de finanças indiano, que leciona na Universidade de Nova York, a queda que ocorreu nas bolsas mundiais entre o dia 14 de fevereiro – data que ele marca como início do impacto da pandemia nos mercados – e 20 de março, quando começou a retomada, deveu-se a uma situação excepcional de falta de previsibilidade sem precedentes.

Essa racionalidade na queda, de acordo com Damodaran, fica clara ao se analisar quais foram as companhias mais impactadas desde o início da crise. “As empresas que mais sofreram foram as mais endividadas ou mais expostas ao impacto na economia”, afirmou, durante painel nesta sexta-feira (17) na Expert XP.

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Por região, ele mostrou com dados de valor de mercado comparados que companhias africanas, sul-americanas, indianas e do Reino Unido foram as que mais sofreram, ao passo que empresas dos Estados Unidos já retomaram ou até superaram seus patamares pré-pandemia.

“Tirando o Reino Unido, que somou Brexit à incerteza provocada pelo coronavírus, são todos países emergentes, que historicamente estão mais vulneráveis a grandes impactos no emprego e na renda”, diz.

Já por setor, ele mostra que os mais afetados foram o financeiro, pois os bancos dependem muito do nível geral de renda na economia para crescerem, de Óleo & Gás, que além de ser muito exposto à demanda global ainda teve de lidar com a disputa de preços entre Rússia e Arábia Saudita, de Turismo e o de grandes empresas de infraestrutura com alto grau de endividamento.

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“O que mais explica as diferenças entre o desempenho das empresas nesta crise foi a dívida que cada uma possui”, sentencia. “Ou seja, em meio a todo o caos houve ordem. O mercado não está louco, a crise do coronavírus foi a mais organizada que já tivemos.”

Damodaran explica que da mesma forma como o crash foi racional, a retomada também foi, e tem tudo a ver com a medida tomada pelo Federal Reserve na segunda metade de março de anunciar que compraria os títulos da dívida corporativa das empresas. “Com esse anúncio, o Fed conseguiu destravar todo o mercado de crédito privado dos EUA e garantir que as companhias teriam a quem recorrer para se financiarem”, destacou.

O especialista ainda lembrou que essa crise desmontou o mito de que o Bitcoin funcionaria como “ouro dos millenials”. “O ouro subiu 9% durante o crash, enquanto o Bitcoin desabou 50%. A criptomoeda retomou boa parte das perdas agora, porém isso só mostra o quanto ela se comporta como um ativo de risco e não de proteção.”

Uma outra lição tirada da crise, na avaliação de Damodaran, é que a noção de smart money (dinheiro inteligente) e stupid money (dinheiro estúpido), representando respectivamente o investidor institucional e a pessoa física, foi subvertida.

“Apostadores sem experiência no mercado ganharam mais dinheiro nos últimos 4 meses do que hedge funds. Isso mostra que a verdadeira distinção é entre investidores humildes e investidores arrogantes”, declarou.

Para Damodaran, o investidor que segue os princípios do value investing (investimento de longo prazo em empresas de valor) como um texto rígido escrito na pedra se frustrou durante essa crise.

“As empresas que tinham menor múltiplo [valor de mercado dividido pelo lucro] P/L estão se saindo piores do que as com mais P/L. Acredito que isso mostra o quanto é necessário ser mais flexível e reconhecer que, quando falamos de empresas de tecnologia, por exemplo, muitas estimativas dos resultados no futuro terão que ser revisadas constantemente. E é importante reconhecer quando você estiver errado para poder refazer sua análise.”

Damodaran apela para que, de posse dessas informações, o investidor aprenda a confiar mais em dados e menos em especialistas. “Tenha fé, encontre o seu lugar seguro e continue analisando o básico dos fundamentos, mas não ignore a realidade.”

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.