O imenso abismo onde vivem os traders de câmbio: como será o “day after” da reforma (ou não) da Previdência?

A percepção do mercado é que, se aprovada, a reforma virá "bem desidratada", mas ainda assim melhor do que nada; se o não ganhar, projeções apontam que o dólar poderá disparar para R$ 3,50

Paula Barra

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SÃO PAULO – O noticiário político se tornou mais negativo recentemente, com a necessidade e proximidade da aprovação da Reforma da Previdência. O mercado viveu um momento de histeria da reta final do pregão da última quarta-feira, após um placar divulgado pelo Estado mostrar dificuldade de conseguir o apoio de 308 deputados para aprovar a reforma. Foi um verdadeiro balde d’fria naqueles que se diziam confiantes. E a apuração, atualizada nesta quinta-feira (6), revela uma rejeição ainda maior: 256 contras hoje x 251 ontem. 

A percepção do mercado é que, se aprovada, a reforma virá “bem desidratada”, mas ainda assim melhor do que nada. Por conta disso, o cenário é de certa neutralidade nesta sessão: às 15h43 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,39%, a 64.524 pontos, enquanto o dólar comercial subia 0,08%, a R$ 3,1176 na venda. O dólar futuro – cujo o contrato vigente é o DOLK17 – registrava desvalorização de 0,25%, a R$ 3,129. 

Para José Faria Júnior, diretor de câmbio da Wagner Investimentos, o governo parece que vai negociar uma desidratação da proposta para aprovação. “É o que venho pregando desde agosto. Sempre tive total descrença em aprovar algo muito rígido”, comentou.

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Os primeiros sinais apareceram hoje, após o presidente Michel Temer reagir ao placar desfavorável e autorizar nesta quinta a negociação de 5 pontos da proposta: regra de transição aposentadoria rural, Benefício de Prestação Continuada, pensões e aposentadorias especiais de professores e policiais.

Ainda assim, como dito anteriormente, melhor do que nada: a projeção é que se a reforma for aprovada, há chances do dólar romper a região dos R$ 3,00 e cair para perto dos R$ 2,90. “Esse é o cenário de reforma mais Federal Reserve sem subir os juros”, comentou Faria Júnior. Ele comenta, porém, que, quanto mais para frente ficar, menores serão as chances do dólar romper os R$ 3,00. “O nosso cenário-base é que a reforma será aprovada, mas bem desidratada, até com uma idade mínima menor do que os 65 anos. Nesse olhar, não vejo muito espaço para o dólar cair além dos R$ 3,00, mas o ‘range’ indica que pode – no limite -chegar aos R$ 2,90”, complementa. 

Por outro lado, se a reforma for reprovada já na Câmara (lembrando que tem o Senado ainda), a decepção será muito forte: “os prêmios de risco todos vão subir (dólar, pré, CDS) e a Bolsa vai abaixo. É possível que o dólar rompa a região dos R$ 3,35, que é o gatilho de reversão da tendência atual de queda de longo prazo. Nesse quadro, será muito importante entender o que será esse day after”, comentou.

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Para ele, levar a reforma para votação sem ter certeza de vitória seria trágico para o governo e poderia até significar o fim do governo, como já tem sido propagado por aí. “Sairíamos do campo da economia para o campo da política e não seria surpresa se o dólar fosse para a região dos R$ 3,50, onde encontrasse uma resistência importante”, disse.  

Ontem, depois que o mercado azedou com a divulgação do placar do Estado, Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, disse que a Bolsa e o dólar viverá de solavancos nos próximos dias a cada noticiário que mostre maior dificuldade do governo em aprovar a reforma. “Se não for aprovada, a Bolsa vai afundar e o dólar disparar. Vai acabar a lua de mel do mercado com o governo. Essa é a pauta mais importante do noticiário doméstico agora”, disse. 

Para onde vai o câmbio com (ou sem) a reforma da Previdência? Veja abaixo no gráfico traçado por Faria Júnior:

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