O desastre do desfile do Fashion Week no metaverso

Marcas de moda, como Dolce & Gabbana, Phillipp Plein e Tommy Hilfiger aderiram à ambiciosa, mas fracassada, convenção virtual

CoinDesk

(Will Gottsegen/CoinDesk)

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*Por Will Gottsegen

O metaverso chegará eventualmente em todas as indústrias, mas a da moda está mais pronta para a novidade do que a maioria.

Isso porque a lógica do mercado de tokens não fungíveis (NFTs) tem em sua base a indústria da moda. Você pode ver isso mais claramente nos calçados: antes do lançamento dos NFTs, havia lançamentos de tênis de edição limitada, posicionados mais como itens de colecionador do que roupas do dia a dia.

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Ainda mais do que acontecia com tiragens raras de LPs de vinil, ou um conjunto de obras originais de um artista plástico, as pessoas correram para comprar modelos de tênis como os Jordans e Red Octobers. Os mercados secundários se tornaram a peça-chave.

Por isso, não deve ser uma surpresa que dezenas de marcas de grande renome da moda tenham participado de algo chamado “Metaverse Fashion Week” (a semana da moda do metaverso, em tradução livre) – essencialmente uma convenção somente online para empresas de roupas e devotos de criptomoedas – como uma desculpa para vender colecionáveis digitais.

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Por quatro dias (não se deixe enganar pela palavra “semana”), a Metaverse Fashion Week foi palco de uma série de passarelas virtuais, coquetéis, inaugurações de galerias e sets de DJs; Perry Ellis, Dolce & Gabbana, Phillipp Plein e Tommy Hilfiger estiveram entre os designers em destaque, todos promovendo suas próprias linhas de moda digital.

Tudo aconteceu em uma plataforma metaverso chamada “Decentraland”, que é uma versão mais “bugada” do Second Life. Em um nível de tecnologia, remonta ao jogo Runescape, do início dos anos 2000, um RPG de fantasia – ou seja, uma versão “desajeitada” de uma sala de bate-papo incorporada ao jogo.

O Decentraland também vem com seu próprio token, MANA, que os jogadores podem usar para comprar roupas no jogo para seus avatares ou terrenos digitais na forma de NFTs. Se você quiser interagir com a economia nativa da plataforma, precisará desembolsar dólares – de verdade – por esses tokens (ou ganhá-los na plataforma).

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A capitalização de mercado da MANA está agora superior a US$ 4 bilhões, apesar de o Decentraland só poder hospedar 2,5 mil usuários por vez, de acordo com o blog de tecnologia New World Notes.

Quando entrei na plataforma neste fim de semana, havia apenas cerca de mil pessoas online, divididas entre servidores (o Decentraland os chama de “reinos”). Tal como acontece com os jogos de RPG online (MMORPG), como World of Warcraft, diferentes servidores hospedam cópias idênticas do jogo, com diferentes conjuntos de jogadores.

É uma forma de reduzir o peso dos arquivos na rede; se você quiser se encontrar com seus amigos no mundo virtual, todos precisam estar no mesmo servidor.

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Em um happy hour com coquetéis organizado durante a semana da moda para os fashionistas no metaverso, feito pela Cash Labs, ficou bem claro quem tinha MANA e quem não tinha.

Meu avatar estava vestido de forma simples, com um penteado e uma gola alta preta padrão. Usuários com equipamentos mais sofisticados – enormes conjuntos de asas, fantasias de urso e enxames de borboletas digitais roubaram os holofotes.

As bugigangas virtuais sempre foram predominantes nos videogames online, mas Decentraland não é exatamente um jogo. Ele pode parecer um, mas não há muito o que você possa fazer neste mundo além de encontrar pessoas e digitar mensagens curtas em uma janela de bate-papo.

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Uma coisa que você pode fazer é ver vídeos (geralmente anúncios) em telas virtuais, embora a experiência de assistir a essas propagandas no metaverso ainda seja estranha. As outras atividades principais da Metaverse Fashion Week podem ser vagamente descritas como “observando os arredores” em diferentes contextos.

Neste mundo, a comunicação é limitada. Apenas algumas pessoas pareciam estar fazendo uso do mecanismo de bate-papo por voz. A maioria se contentava, em vez disso, em pular para cima e para baixo, sem dizer uma palavra.

Uma empresa chamada Auroborous encerrou o fim de semana com um set de DJ preparado pela artista Grimes. Enquanto a música saía de uma gigantesca criatura dançante destinada a representar a própria artista, uma série de avatares menores – os espectadores – mantinham os olhos fixos no palco.

A performance, embora não fosse exatamente “ao vivo”, baseou-se em uma tendência estabelecida. Nos primeiros dias da pandemia de coronavírus, quando todos os shows do mundo real foram cancelados, Travis Scott organizou um show somente online no videogame Fortnite; Charli XCX e 100 Gecs estavam entre os artistas em um evento semelhante em Minecraft; e o Secret Sky Festival de Porter Robinson tentou uma versão mais ambiciosa do mesmo, com contribuições de Doss e A.G. Cook.

Grande parte da novidade desses eventos virtuais tinha a ver com as limitações inerentes à experiência online. Nos primeiros momentos da pandemia, replicamos experiências físicas virtuais como uma espécie de “Band-Aid”. Os shows do metaverso não eram um substituto para a coisa real, mas um reconhecimento coletivo de uma situação restrita. Parte da diversão estava em experimentar juntos esses ambientes táteis e falhos.

A semana da moda no metaverso fracassou nesse tipo de atração. A programação prometia vários dias de evento – mas o que há neste mundo que pode obrigar alguém a passar o fim de semana inteiro nele?

Há algo a ser dito sobre o aspecto de acessibilidade da Metaverse Fashion Week – você não precisa estar em Milão ou Nova York para participar de um desses eventos. Mas, em suas próprias cidades, é difícil imaginar que os entusiastas da moda participariam.

*Will Gottsegen é repórter de mídia e cultura do CoinDesk

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