O caso de Naji Nahas e a quebra da bolsa do Rio

Acusado de manipular o mercado, teve carteira com 10% da Vale e 5% da Petrobras confiscada; inocentado, moveu ação bilionária

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A terceira matéria da série Personagens do Mercado conta uma das histórias mais famosas do mercado acionário brasileiro: a de Naji Nahas.

Acusado por diversas frentes, o nome de Nahas aparece na operação Satiagraha da Polícia Federal e no episódio da quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, entre outros casos interessantes. O investidor fez fortuna no Brasil com operações de altíssimo risco, cuja legitimidade é questionada até os dias atuais.

A quebra da bolsa do Rio levou Nahas aos tribunais por diversas vezes, mas não conseguiu incriminá-lo. O episódio alimenta a principal rixa do mercado brasileiro, entre Nahas e o fundador da BM&F, Eduardo da Rocha Azevedo.

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O desembarque

Nascido no Líbano, Naji Nahas desembarcou no Brasil com US$ 50 milhões em 1969. Menos de um ano depois, já possuía fortuna estimada em cerca de US$ 1 bilhão. Sua chegada foi atribulada desde o início, sendo que o voo que o trouxe ao Brasil havia sido sequestrado no trajeto e levado a Cuba.

A origem dos US$ 50 milhões que trazia é creditada a herança de sua família. Naquele período, Nahas se envolveu com os irmãos Hunt, famosos por controlar o mercado mundial de prata na época.

A família Hunt fez fortuna no Texas ao entrar agressivamente no mercado com a prata a US$ 2 por onça e guiar a commodity para a casa de US$ 50 por onça, valorização de 2.400%. Naquela época, os irmãos chegaram a deter cerca de 10% do suprimento global. Quando liquidaram suas posições, a prata voltou dos US$ 50 para US$ 10 a onça.

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A associação com os Hunt garantiu a Nahas um posto entre os maiores compradores de prata do mundo. Paralelamente, compôs um conglomerado de 28 empresas que incluía a seguradora Internacional e a maior produtora nacional de coelhos para exportação. Além de se tornar lenda no mercado financeiro, Nahas circulava entre alta sociedade, sempre ostentando.

A quebra

No mercado de ações, a postura de Nahas chamava atenção pela estratégia arrojada. As acusações apontavam que Nahas emprestava dinheiro de instituições financeiras para aplicar em ações, manipulando a valorização dos ativos realizando negócios consigo mesmo via laranjas ou corretores. Foi inocentado em 2004. Alega que a quebradeira ocorreu pela mudança nas regras de negociações, acusando posteriormente o ex-presidente da Bovespa Eduardo Rocha Azevedo de planejar sua queda.

Com suas operações, Nahas chegou, sozinho, a controlar 6% das ações da Petrobras e 10% dos papéis da Vale em circulação – hoje, tal participação faria dele uma das dez pessoas mais ricas do planeta.

O investidor defende que Rocha Azevedo fazia parte de um grupo que apostava na retração do Ibovespa, enquanto ele apostava na alta. A partir deste pressuposto, afirma que o ex-presidente da Bovespa pressionou bancos a cortarem seu crédito, o que levou à sua quebra.

Segundo a biografia de Eduardo Rocha Azevedo*, Nahas mantinha posição bem acima do limite estipulado pela BM&F, que era de 20%. As posições concentradas no Índice Bovespa futuro eram, em sua maioria, creditadas a Nahas ou seus laranjas.

Com o estouro da inadimplência de Nahas, foram tomadas medidas para conter as perdas e liquidar as posições do investidor. Sua carteira foi confiscada, o que rendeu um longo processo judicial. Nahas pedia uma indenização de R$ 10 bilhões pela perda de seus ativos. Projetava este montante com base no valor de portfólio da época.

Um dia depois das acusações sobre Nahas virem a público, a bolsa do Rio (que chegou a superar a Bovespa em volume de negócios) não operou. Quando abriu, as ações perderam um terço de seu valor – mais do que o crash da bolsa de Nova York em 1929. A bolsa carioca jamais se recuperaria do baque, e fechou em 2000.

A rixa

Na ocasião, Eduardo da Rocha Azevedo afirmou: “não tenho poderes para impedir que um investidor seja financiado por instituições financeiras. O que compete à bolsa é administrar o mercado para que as corretoras não corram risco que possa comprometer o sistema. Aí, repito que a Bovespa trabalhou com um pouco mais de prudência e evitou esse problema”, declarou ao jornal O Globo, em junho de 1989.

“Sou uma vítima das pressões indevidas e ilegítimas que foram montadas no mercado visando alterar, na undécima hora, as regras do jogo referentes a operações em andamento”, divulgou Nahas em nota, citada na biografia de Rocha Azevedo.

Nas palavras de Horacio de Mendonça Netto, ex-superintendente geral da Bovespa e BM&F, “Nahas possuía a incrível capacidade de aglutinar e liderar gente rica para operar com ele, e ainda levá-las a achar que o culpado era o Eduardo, o que mostra que Naji é um fenômeno”.**

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Em 2004, Nahas foi inocentado do processo que o acusava de manipulação do mercado e quebra da bolsa do Rio. Depois, o investidor entrou com um pedido bilionário de indenização contra a bolsa, mas foi derrotado por decisão unânime.

O investidor voltou aos noticiários com a operação Satiagraha, em julho de 2008. Chegou a ser preso sob acusação de participar de um esquema de desvio de verbas públicas e crimes financeiros. Entre os presos na operação estavam o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

* “Eduardo da Rocha Azevedo – a Bovespa e a BM&F”, de Ângela Ximenes, Editora Contexto
** Trecho retirado da biografia citada