O Brasil é o país da patafísica

Merecemos a praga petista porque nos desocupamos da política. Merecemos Eduardo Cunha porque acreditamos que vamos levar vantagem sobre todos e todas e que nada nos atingirá. Cunha porque nossos valores de cidadania estão corrompidos. Merecemos Renan

Francisco Petros

Publicidade

Tenho hoje uma convicção: a corrupção é o maior problema do Brasil. Basta conversar com o motorista de ônibus ou de táxi, o cidadão que aporta nos balcões dos departamentos de arrecadação de tributos, aqueles que lidam com as áreas de compras das diversas instâncias do Estado, o Congresso Nacional, os ministérios, etc. A corrupção está infestada nas estruturas brasileiras, de forma generalizada, sem pena nem dó! Não tenho dúvidas quanto a isso!

Já ultrapassamos a barreira, digamos, cultural, da corrupção. Hoje a “dita cuja” é forma de ascensão social, meio de troca política, “prática de negócios”, “custo necessário”, ou seja lá o que se pense mais. Quando vejo hoje nos jornais que uma quadrilha de fiscais paulistas negociou 143 imóveis, cujo valor é de R$ 62 milhões fico pensando como isto foi possível. Os fiscais ganham R$ 20 mil por mês, o que é uma fortuna frente à média dos assalariados, mas tal valor não é capaz de explicar como eles podem ter adquirido este patrimônio todo. Um tal de José Roberto Fernandes tem 27 propriedades e outro, Eduardo Takeo Komaki outros 11. Toda essa tigrada está soltinha, nas ruas, à espera das providências do Estado e são representantes inequívocos do “Estado Democrático de Direito”.

Quase oito meses após a instalação da CPI da Petrobrás, esta piada nacional, o relator petista Luiz Sérgio (RJ) fez um relatório inacreditável! Seu parecer ataca frontalmente os delatores, isenta todos os políticos de responsabilidade pelo assalto generalizado à estatal petroleira, incluso o nobre deputado Eduardo Cunha e culpa as empreiteiras – logo estas que financiam as campanhas de suas excelências. Todo este romance surrealista será votado até a próxima sexta-feira. Vocês acreditam?

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Ainda no “capítulo Eduardo Cunha” há uma farta discussão se o gajo deve ou não deve continuar na presidência da Câmara dos Deputados, posto nº 3 da sucessão presidencial. Chega a ser ridículo a nação inteira olhar as fotos de sua esposa, de sua filha e do próprio deputado, dentre a documentação das contas suíças (e ilegais) e os políticos acharem que cabe discussão para o tema “Eduardo fica ou não fica”. Realmente, o caso é de psicanálise generalizada para a cidadania, pois como é que eu, você (meu caro leitor!), ou qualquer cidadão de bom senso pode aceitar passivamente esta situação ridícula?

Realmente, a corrupção infesta a Nação. Por aqui se instalou a tal da “patafísica”. Para os que não conhecem trata-se da “ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções”. Esta “teoria” foi estruturada pelo escritor Alfred Jarry. Se Ionesco, Boris Vian e outros se aproveitaram da desta magnífica invenção artística para criarem suas obras vultosas e significativas, no Brasil, a patafísica está sendo levada à sério, como ciência mesmo! Aqui prevalece a exceção: se o deputado é ladrão e pilantra, então vamos mantê-lo no alto posto do Estado. Se a Petrobrás quebrou por conta da gatunagem generalizada, vamos deixar os gatunos isentos e condenar, quiçá!, a própria empresa como se pessoa física fosse! Que tal?

Em meio a todo este imenso sofrimento com a “mardita corrupa” pergunto: onde estão as “instituições brasileiras” para se indignar com tudo isso? Onde está a OAB? Onde estão as Igrejas sérias? Onde está a ABI (Associação Brasileira de Imprensa)? Onde estão as Federações das Indústrias dos estados brasileiros? Onde estão as Associações Comerciais? Onde estão os sindicatos de empresários e trabalhadores? Cadê os intelectuais que repensam e criticam as nossas mazelas? Ou seja, onde está a Nação que se indigna? Ainda se fala que não temos crise institucional…

Continua depois da publicidade

Nem mesmo a oposição se manifesta majoritariamente. O PSDB manobra por debaixo do pano com o deputado carioca Eduardo Cunha para chegar ao impeachment. Ou seja, conta com um pilantra para atingir o seu objetivo. Realmente, é demais!

Fiquemos certos de uma cousa: tudo isto que afeta ao nosso país, nos afeta diretamente. Se estamos metidos nesta vala de recessão, desesperança, sofrimento, desemprego, etc. é porque em grande parte nos ocupamos do “ócio da cidadania”. Neste sentido estrito, o impeachment de Dilma et caterva é muito ruim, pois encontraremos a saída fácil do voto mal concedido. Merecemos a praga petista porque nos desocupamos da política. Merecemos Eduardo Cunha porque nossos valores de cidadania estão corrompidos. Merecemos Renan Calheiros porque acreditamos que vamos levar vantagem sobre todos e todas e que nada nos atingirá.

Despeço-me deixando aos leitores uma crônica de 8/5/1920, de Lima Barreto. O Brasil mudou pouco, como se pode ver por este escrito.

“País rico
Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba. Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, o os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico… Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico. Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola anormal ou anormalizada, para aprender disciplinas úteis. Todos observam o caso e perguntam: – Se há tantas moças que desejam estudar, por que o governo não aumenta o número de escolas a elas destinadas? O governo responde:- Não aumento porque não tenho verba, não tenho dinheiro. E o Brasil é um país rico, muito rico…As notícias que chegam das nossas guarnições fronteiriças, são desoladoras. Não há quartéis; os regimentos de cavalaria não têm cavalos, etc., etc.- Mas que faz o governo, raciocina Brás Bocó, que não constrói quartéis e não compra cavalhadas?

O doutor Xisto Beldroegas, funcionário respeitável do governo acode logo:

– Não há verba; o governo não tem dinheiro.

– E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que vim enumerando, vai dar trezentos contos para alguns latagões irem ao estrangeiro divertir-se com os jogos de bola como se fossem crianças de calças curtas, a brincar nos recreios dos colégios.

O Brasil é um país rico”

 

Quer receber as principais notícias de política diariamente no seu e-mail? Assine gratuitamente a newsletter do Na Real!