O acidente aéreo que matou Eduardo Campos, mudou a dinâmica das eleições e impactou a Bolsa

"O grande receio era de que a vice Marina Silva estivesse com ele no avião", contam Luiz Eduardo Portella e Jorge Junqueira; ouça o podcast

Anderson Figo

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SÃO PAULO — Na manhã do dia 13 de agosto de 2014, uma aeronave de pequeno porte caiu em Santos, no litoral sul de São Paulo. A Bolsa estava fechada no momento do acidente e, quando ela abriu, ainda não tinha sido divulgada a identidade dos ocupantes do avião.

O Ibovespa subia desde a abertura dos negócios, mas inverteu imediatamente a tendência para queda por volta do meio-dia (no horário de Brasília). Foi quando a imprensa noticiou que o então candidato à presidência da República Eduardo Campos, do PSB, era uma das vítimas fatais do acidente aéreo.

O mau humor entre os investidores se intensificou e o Ibovespa fechou em queda de 1,53%, depois de ter caído mais de 2% no intraday. Já o dólar subiu para R$ 2,28.

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A morte de Eduardo Campos é o tema do décimo episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

O acidente mudou a dinâmica das eleições presidenciais no Brasil na ocasião. Campos estava em terceiro lugar nas pesquisas e, com a entrada de Marina Silva em seu lugar, cogitou-se que ela poderia ter forças para ir ao segundo turno.

Mas o embate final ficou mesmo entre Dilma Rousseff e Aécio Neves. A candidata do PT acabou vencendo a corrida pelo Planalto e se reelegeu presidente da República.

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“Teve uma primeira notícia de um avião caindo. Em princípio, achavam que era um helicóptero. Aí alguém da equipe do Eduardo Campos apareceu numa matéria chamando atenção de que fazia uma hora que não conseguiam entrar em contato com ele. Todo mundo no mercado começou a se perguntar: será que é o jatinho dele ou não?”, conta Luiz Eduardo Portella, sócio fundador da Novus Capital, que na época trabalhava na Modal Asset.

“E a gente começou a conversar ali na mesa de operações. A gente estava posicionado no kit Brasil. Relembrando: a gente estava na corrida eleitoral e o mercado desde março tinha começado um rali acreditando que a gente podia ter uma troca de governo. A Bolsa tinha atingido uma mínima de 45.000 pontos em março de 2014 e em agosto estava ao redor de 55.000 pontos. Então, a gente estava no meio de um rali eleitoral. E o Eduardo Campos tinha expectativa de crescimento nas pesquisas”, completou.

Jorge Junqueira, chefe da equipe de renda variável da Gauss Capital, na época trabalhava na 3G Capital com um fundo focado em ações. “Na época tinham bastante críticas ao governo, a gente vivia uma crise econômica, tiveram aqueles protestos em 2013, o clima era de bastante instabilidade”, conta.

“Quando a Marina foi ser vice do Eduardo Campos, a pergunta era se ele ia conseguir absorver toda aquela aprovação que ela tinha, porque aí realmente ele se tornaria uma via alternativa bastante positiva. (…) Quando aconteceu o acidente, a primeira preocupação foi entender se a Mariana estava junto com Campos no avião. Isso realmente acabaria com a chance de uma terceira candidatura [além de PT e PSDB, que lideravam as pesquisas] ganhar força”, completou.

“E aí foi decorrendo essa candidatura da Marina com uma base de economistas muito forte. Então a gente já tinha essa visão de que a Marina possibilitaria a gente pensar numa economia mais pró-mercado. É até engraçado porque o histórico dela não era tão grande quanto a isso. Então, naquele momento a gente achou que era uma boa oportunidade de tomar decisões mais pró-mercado, com teses mais macro. A gente aumentou nossa alocação no setor financeiro e coisas desse tipo.”

Junqueira e Portella contam os bastidores e pontos-chave daquela corrida eleitoral que passou por uma reviravolta e afetou as decisões de investimento dos gestores na Bolsa. Quais foram as lições aprendidas e o que aconteceu depois do resultado das urnas? Ouça o podcast acima.

Ao lado da ex-ministra do meio ambiente e ex-senadora Marina Silva, o ex-governador de Pernambuco concorria à presidência da República pela coligação Unidos pelo Brasil, dos partidos PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.

Depois de ser deputado estadual, três vezes deputado federal, secretário estadual de governo e de Fazenda, ministro da ciência e tecnologia e governador de Pernambuco por dois mandatos, o economista pernambucano concorria pela primeira vez ao cargo mais importante da política brasileira.

Eduardo Campos era neto do político Miguel Arraes, e morreu na mesma data em que seu avô, falecido em 2005. Campos era filho de Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) e do poeta e cronista Maximiano Campos.

O então candidato do PSB à presidência da República tinha acabado de fazer 49 anos, no dia 10 agosto daquele ano. Além de Campos e do piloto Marcos Martins, morreram no acidente o copiloto Geraldo Magela Barbosa da Cunha e quatro integrantes da equipe que assessorava o ex-governador de Pernambuco.

A equipe era formada pelo assessor de imprensa Carlos Augusto Percol, o fotógrafo Alexandre Severo o cinegrafista Marcelo Lyra e o advogado Pedro Valadares.

Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.