Nubank (NUBR33): lucro e retorno acima do esperado no 4º tri impulsionam ações, mas analistas seguem divididos

Itaú BBA elevou recomendação para "neutro", mas segue de olho no macro, enquanto BBI manteve venda; já Goldman e Credit estão otimistas

Lara Rizério

Publicidade

Um lucro forte e um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 40% nas operações brasileiras, acima dos “bancões”, guiam uma visão positiva para o Nubank (NY:NU; B3: NUBR33) após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022, na noite da véspera. Os papéis NU da companhia, negociados na Bolsa de Nova York, subiram 4,20%, a US$ 5,21, longe das máximas do dia, mas ainda em alta expressiva. Na B3, os BDRs (recibo de ações negociados na Bolsa brasileira de ativos que operam no exterior) tiveram alta de 3,72%, a R$ 4,46, depois de chegarem a subir mais de 8% no início da sessão.

Considerando os resultados da holding, que engloba as operações no México e Colômbia, ainda em estágio menos avançado que no Brasil, e que exige mais investimentos, o lucro líquido do Nubank somou US$ 58 milhões no quarto trimestre, o segundo consecutivo de lucratividade, ante um prejuízo de US$ 66,1 milhões no mesmo período de 2021. O número exclui os efeitos do fim do CSA, como era chamado o programa de remuneração adicional do fundador e CEO David Vélez, de US$ 355,6 milhões.

A receita do banco no quarto trimestre foi de US$ 1,45 bilhão, com crescimento anual de 112%. A margem financeira bruta subiu de 36% para 40%. Em 2022, ficou em US$ 4,8 bilhões, salto de 168%, dos quais só o Brasil respondeu por US$ 4,5 bilhões em 2022.

Continua depois da publicidade

Superando seus concorrentes, o banco digital anunciou um retorno patrimonial ajustado (ROE, na sigla em inglês) e anualizado de 40% nos três meses finais de 2022 no Brasil, sendo o dobro do terceiro trimestre. O ROE anualizado foi de 35%.

Já a inadimplência do banco digital não escapou da tendência do mercado e subiu, quando se considera atrasos acima de 90 dias, de 4,7% em setembro para 5,2%.

Leia mais: 

Continua depois da publicidade

Após o resultado do 4º tri, o Itaú BBA revisou para cima as suas estimativas para o banco, elevando a recomendação para os papéis NU de underperform (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado), com o preço-alvo subindo de US$ 3,10 para US$ 5,50, ou um potencial de alta de 10% em relação ao fechamento da véspera.

Para Pedro Leduc e equipe, analistas que assinam o relatório, o principal destaque veio da margem financeira líquida (NII, em inglês), com alta de 30% na comparação trimestral, com receita de juros, menores custos de financiamento, alta na receita de serviços e reprecificação, além de aumento da eficiência.  Essas forças compensaram a fraqueza no crescimento da carteira de empréstimos pessoais e custo de empréstimo ainda altos.

O Bradesco BBI destaca que o banco continua a se beneficiar de sólidas expansões de receita devido ao crescimento da carteira e maior taxas de juros, enquanto as tarifas continuam a refletir a maior base de clientes e Volume Total de Pagamentos (TPV, na sigla em inglês).

Continua depois da publicidade

“Importante, destacamos que o a parcela da receita de juros de não clientes aumentou para cerca de 40% da receita de juros total, refletindo o excesso de liquidez/depósitos no Brasil. Adicionalmente, o banco digital se beneficiou de uma alteração na remuneração dos depósitos enquanto as despesas com provisões continuaram a crescer, refletindo uma deterioração sequencial da qualidade dos ativos”, avalia. Além do ROE destacado nas operações brasileiras, o banco destaca que as despesas operacionais tiveram melhor desempenho que a sua expectativa.

Otimista com o Nubank, o Credit Suisse destacou que os resultados da fintech mostram que a estratégia da empresa está “valendo a pena”.

Isso porque o desempenho da qualidade dos ativos do Nubank permanece muito superior em relação aos seus pares. “A Nu conseguiu mais uma vez apresentar forte expansão de margem financeira líquida e margem de intermediação financeira, beneficiada pelo forte crescimento do crédito, maior participação da parcela remunerada e uma redução notável no custo de captação para 78% do CDI”, avalia.

Continua depois da publicidade

Assim, para eles, os resultados sustentam que a operação no Brasil é altamente lucrativa com ROE ajustado em torno de 40%, demonstrando a força do modelo de negócio em estágio mais maduro. Eles reiteraram recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para a ação, com preço-alvo de US$ 6,50, ou potencial de alta de 30% em relação ao fechamento de terça.

Para o banco, segue a visão de uma história de crescimento atraente e distante do ruído do setor. Em nota, os analistas da casa ainda ressaltaram que, em conversas iniciais com clientes, parece claro que os pessimistas “estão jogando a toalha e adotando um tom mais construtivo”.

O Goldman Sachs também reforçou uma visão positiva para a empresa após os resultados, possuindo recomendação de compra e preço-alvo de US$ 9, ou upside de 80%, avaliando que vê o papel da fintech como atrativo, apesar da alta acumulada no ano de 23% até o fechamento da véspera. Segundo os analistas do banco, o ROE ajustado de 40% das operações brasileiras é uma “boa prova das perspectivas de longo prazo”.

Continua depois da publicidade

Ainda em destaque, estão as indicações da gestão do Nubank de que espera continuar crescendo e obtendo eficiência operacional, levando a níveis de ROE muito mais altos em comparação com os bancos incumbentes, dadas suas vantagens de custo significativas. Além disso, apontou que a qualidade de seus ativos permanece melhor do que seus pares devido à oferta de crédito apenas para os melhores de seus mais de 70 milhões de clientes. Enquanto isso, a margem financeira líquida deve continuar em expansão em 2023, enquanto os menores custos de captação devem seguir neste ano.

Papéis do banco ainda dividem opiniões

Enquanto o mercado reage positivamente aos resultados, alguns análises preferem seguir cautelosos com a fintech.

O JPMorgan tem recomendação neutra para os papéis, sem preço-alvo definido. O banco reforçou que o ROE de 40% ajustado no Brasil deve ser o foco na repercussão do balanço e ser celebrado pelos investidores. Por outro lado, aponta que a qualidade dos ativos foi “mista”, com os analistas de olho na carteira de crédito.

O Itaú BBA destaca que a alta da inadimplência em 0,5 ponto percentual ficou em linha com esperado, enquanto o índice de cobertura – que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes  – caiu de 223% no terceiro trimestre para 209% no quarto trimestre. Essa queda no índice também era esperada, mas os análises seguem de olho nos dados macroeconômicos piorando e no impacto na carteira.

“No geral, os números superaram as estimativas e são catalisadores de revisões positivas, o que nos faz elevarmos a recomendação desde que iniciamos a cobertura após a abertura de capital.  O valuation é alto e os desafios continuam mas, por ora, o momento operacional melhorou e preferimos ficar à margem”, apontam os analistas.

O Bradesco BBI, por sua vez, segue com a sua recomendação underperform para os ativos, com preço-alvo de US$ 3 para os ativos NU, ou queda de 40% em relação ao fechamento da véspera.

Os analistas reconhecem que o Nubank apresentou um resultado forte e acima de sua expectativa, mas permanecem confortáveis com a sua previsão anterior de lucro de US$ 244 milhões para 2023, pois já incorporaram tendências positivas em margem financeira (NII) e margem líquida de juros (NIM), parcialmente compensado por elevadas despesas com provisões e investimentos no México e na Colômbia, principalmente.

“Nós reconhecemos que o banco se beneficia do excesso de liquidez/caixa e depósitos no Brasil, o que acelera o crescimento da NII, enquanto o melhor custo de captação reflete sua nova política de remuneração. Além disso, o Nubank relatou uma melhora no índice de eficiência, refletindo o controle positivo de custos”, avalia o BBI.

Mesmo assim, aponta, o Nubank passou a consumir coberturas em ritmo mais acelerado, passando de 265% no 1T22 para 209% no 4T22, indicador que a casa de análise acredita ser importante para acompanhar.

Dito isto, avalia que há reflexões relevantes a serem feitas para 2023.

Em primeiro lugar, vê como importante acompanhar a evolução da inadimplência e do custo do crédito, principalmente considerando que o Nubank consumiu provisões excedentes rapidamente, o que pode resultar em um maior custo de risco esperado para 2023, especialmente porque o banco deve continuar crescendo sua carteira em empréstimos não garantidos (empréstimos pessoais).

Em segundo lugar, há o volume de investimentos e custos relacionados ao México e Colômbia e qual percentual será capitalizado no balanço, sem contar o impacto no resultado líquido consolidado. Em terceiro, também avalia que a alocação de capital entre geografias também deve ser um item a seguir, especialmente considerando o excesso de capital da Nu Holding e a importância de medir a alavancagem e a lucratividade.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.