Novos hábitos de consumo e atacarejo em alta: os fatores que impulsionaram o resultado do Carrefour no 4º trimestre

A companhia apresentou lucro líquido ajustado ao controlador de R$ 886 milhões no quarto trimestre 2020, uma alta de 31,1% na base anual

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Carrefour Brasil (CRFB3) divulgou seu resultado do quarto trimestre de 2020 na noite da última quarta-feira (17), com números elogiados por analistas e mostrando como a conjuntura com a pandemia do coronavírus aumentando a alimentação em casa e alta da inflação de alimentos acabou refletindo no balanço da varejista.

A companhia apresentou lucro líquido ajustado ao controlador de R$ 886 milhões no quarto trimestre 2020, uma alta de 31,1% em relação ao registrado no mesmo período de 2019. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ficou em R$ 1,732 bilhão, alta de 18,2% ante o quarto trimestre de 2019.

As vendas líquidas do grupo ficaram em R$ 19,873 bilhões, um crescimento de 24,1% em relação ao contabilizado um ano atrás. No resultado negócio a negócio do grupo, o Ebitda Ajustado do Atacadão ficou em R$ 1,065 bilhão, alta de 25,7%. Na bandeira Carrefour, o indicador foi de R$ 455 milhões, alta de 42,2%. Já no Banco Carrefour ele foi de R$ 266 milhões, queda de 20,6%.

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De acordo com a equipe de análise da XP Investimentos, a companhia continuou a entregar resultados fortes no Atacarejo e Varejo, com o Banco Carrefour apresentando uma recuperação mais rápida do que esperado. Adicionalmente, a companhia anunciou o pagamento de um dividendo adicional de R$ 759 milhões (dividend yield, ou relação entre o dividendo e o preço da ação, de 1,9%) além de uma mudança na sua política de dividendos para até 45% do lucro líquido ajustado (versus 25% antes).

“Acreditamos que os resultados de curto prazo permaneçam sólidos, enquanto vemos o setor estruturalmente melhor no ‘novo normal’ do que antes da pandemia devido a políticas flexíveis de home office e novos hábitos de consumo”, apontam os analistas. Contudo, eles mantêm recomendação neutra para os ativos e preço alvo de R$ 25 por ação para o fim de 2021.

Durante teleconferência, o Carrefour Brasil avaliou que as condições que impulsionaram o varejo de alimentos e o comércio eletrônico no ano passado se manterão em 2021, com executivos da empresa otimistas sobre o desempenho da empresa em um ambiente ainda incerto devido aos impactos de medidas de isolamento social.

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Ao ser questionado sobre se o fim do auxílio impactará o desempenho do grupo neste ano, Sébastien Durchon, vice-presidente finanças do Carrefour Brasil, foi categórico: “A resposta é não. O coronavoucher já tinha sido reduzido em setembro/outubro…e o Atacadão acelerou no quarto trimestre”, afirmou Durchon.

“No início de 2021 não dá para enxergar desaceleração da tendência. A redução do coronavoucher vai impactar mais outros negócios que alimentos…O impacto nas vendas não vai ser percebível nos próximos meses”, acrescentou o Durchon.

Executivos da companhia afirmaram que as mudanças nos hábitos dos consumidores, que deixaram de fazer muitas refeições fora de casa, devem se manter neste ano, favorecendo as vendas de supermercados e o varejo online de alimentos. Neste sentido, o Carrefour Brasil “está bastante otimista” sobre o cenário de evolução de margens de lucro, disse Durchon. “Não achamos que inflação alimentar vai cair…Estamos bastante otimistas para 2021. Pode acontecer algum mês ter uma comparação anual negativa, mas no todo enxergamos crescimento”, disse.

Na frente online, o Carrefour Brasil trabalha para abrir contas digitais para clientes do Atacadão e está completando o processo para aceitar pagamentos e transferências por meio do PIX, afirmaram executivos da companhia. O grupo terminou 2020 com um índice de endividamento de 0,28 vez e um caixa de 5,6 bilhões de reais, o que abre oportunidades de fusões e aquisições neste ano e no próximo, disse o presidente-executivo, Noël Prioux, sem dar detalhes.

O Morgan Stanley destacou que as margens do Atacadão e do Carrefour no varejo ficaram abaixo das estimativas do banco, mas a receita total foi 3% superior. Em termos de receita, o Atacadão registrou alta de 32% na comparação anual, ou 8% acima da expectativa do Morgan Stanley. Mas a alta de 21% no lucro bruto ficou 2% abaixo de sua expectativa.

O Bradesco BBI destacou que a empresa reportou mais um trimestre de crescimento e lucratividade fortes e acima de suas estimativas. As vendas consolidadas tiveram alta de 24% na comparação anual, mais de 4% acima da expectativa do banco, impulsionadas pela divisão Atacadão. As vendas nas mesmas lojas do Atacadão subiram 27%, frente à estimativa de alta de 22% do Bradesco, e ficaram um pouco acima daquelas do terceiro trimestre.

O banco diz avaliar que os resultados são “robustos”, mas destaca que as vendas de alimentos no e-commerce tiveram alta de 5%, um aumento que considera pequeno, apesar da elevação na entrega por meio de serviços como Rappi. Já a alta de 42% na receita líquida no setor de serviços financeiros ficou 22% acima da expectativa do Bradesco BBI.

O banco comentou ainda o anúncio da empresa de pagar mais dividendos, o que não deve impactar investimentos da empresa, que tem tido forte geração de caixa. O Bradesco BBI diz avaliar que a empresa atingiu um novo nível em se tratando de participação de mercado. Por isso, mantém avaliação de outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo em R$ 28.

De acordo com a Levante Ideias de Investimentos, a combinação de expansão forte do Atacarejo e esforço de aumentar a rentabilidade do Multivarejo, combinada com o crescimento do engajamento dos clientes com o auxílio da frente digital (otimização de ofertas e recorrência), o Carrefour tem sido capaz de crescer acima do mercado em ritmo consistente.

Apontando que a expansão foi influenciada positivamente pela pandemia, que mudaram os hábitos de consumo da população brasileira, optando pelas compras online e descontos maiores, que são possíveis somente em redes grandes e consolidadas como o Carrefour, a Levante avalia que a estratégia de crescimento parece ter ainda vida longa para as grandes redes, com bastante espaço para consolidação no setor de varejo alimentar, sobretudo pelo crescimento da participação nas compras via canais digitais e integração do mundo físico com digital (Omnicanal).

De acordo com compilação de recomendações feita pela Reuters, de 15 casas de análise, 10 recomendam compra e 5 têm recomendação neutra, com preço-alvo médio de R$ 24,98, o que configura um potencial de valorização de 24% em relação ao fechamento da véspera, o que indica uma visão positiva para os papéis.

Com relação ao ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa), os analistas da XP apontam ver de forma positiva as informações divulgadas, principalmente no que se refere ao aprimoramento de suas políticas com os fornecedores.

“Destaque ainda para a transformação do modelo de segurança da empresa, com (i) a internalização dos profissionais; (ii) a contratação de cerca de 40% de mulheres e de cerca 60% de pessoas negras; (iii) a implementação da abordagem sistemática não-violenta e (iv) o desenvolvimento de novas companhas internas de treinamento. Apesar de reconhecermos os compromissos da empresa dentro da agenda ESG e vermos com bons olhos as recentes iniciativas da companhia nessa frente, reforçamos que ainda há muito mais a ser feito para melhorar as métricas e esforços ESG do Carrefour”, avaliam os analistas. Vale destacar que, no final de novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi morto ao ser espancado por seguranças de uma loja da rede de supermercados em Porto Alegre, caso este que causou grande repercussão nacional e levou a questionamentos sobre as práticas de ESG da varejista.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.