No caminho para desalavancar e pagar bons dividendos: as visões dos analistas para a Petrobras após a vitória no STF

Apesar do cenário desafiador no curto prazo com a queda do petróleo, analistas têm mostrado confiança na estatal

Lara Rizério

Petrobras (Foto: Mario Tama/Getty Images)

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SÃO PAULO – As ações da Petrobras (PETR3;PETR4) tiveram forte queda, de cerca de 4%, na sessão desta sexta-feira (2), em meio à sessão de forte baixa do preço do petróleo – o contrato futuro do WTI para novembro fechou em baixa de 4,31% e o brent para dezembro teve baixa de 4,06%. Mexendo negativamente na commodity, esteve o cenário de maiores incertezas nos mercados na esteira do anúncio de Donald Trump de que contraiu covid-19, além de indícios globais sobre o excesso de oferta.

Assim, o desempenho do petróleo no dia acabou ofuscando uma outra notícia que gerou grande alívio para os investidores da Petrobras e que teve repercussões, inclusive, no final da tarde da última quinta-feira. O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu naquela data o julgamento sobre a legalidade da venda das refinarias pela Petrobras sem a necessidade de avaliação do poder Legislativo, com um placar de 6 a 4 pela liberação das vendas. Com isso, reforçou o respaldo técnico do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o tema – veja mais clicando aqui. 

Segundo o Bradesco BBI, o Congresso ainda pode apelar quanto ao mérito da questão mas, de qualquer forma, a decisão é uma boa notícia. Em relatório, o banco reforçou que o preço-alvo para a ação PETR4 da empresa em 2021 é de US$ 14 por ADR ou R$ 38 por ação. Para 2020, o preço-alvo era de R$ 36 por ação.

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“Alguns dos ministros já expressaram fortes convicções, afirmando que as vendas de refinarias são parte de uma gestão de portfólio que pretende redirecionar fundos para as áreas com retornos mais elevados. Em nossa opinião, não só o pré-sal tem retornos maiores, mas as receitas do governo são significativamente mais altas no segmento de exploração e produção. Portanto, a decisão é ganha-ganha para o Brasil como um todo”, avaliam os analistas do banco.

Os analistas ainda aproveitaram para incorporar o novo plano de investimento de 5 anos da Petrobras nas estimativas. “A Petrobras está a caminho de se tornar uma excelente pagadora de dividendos até 2023 (ou 2022, com as vendas das refinarias)”, aponta o BBI.

Com uma nova política de dividendos acionada, quando a dívida bruta atingir US$ 60 bilhões até o final do ano 2022, ela poderia pagar entre US$ 4,7 bilhões e US$ 7,7 bilhões em dividendos (10% -17% de dividend yield, ou o indicador calculado pelo dividendo pago por ação dividido pela cotação do papel), dentro de uma faixa do petróleo brent entre US$ 45 e US$ 55 o barril, avaliam.

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Em relatório, a XP Investimentos também destacou a notícia: “vemos o resultado do julgamento como positivo para a Petrobras, dado que o plano de desinvestimento de ativos da companhia é de grande importância para a avaliação das ações da empresa”.

Com base nos desinvestimentos de ativos de refino e gás natural (entre outros ativos), Gabriel Francisco, analista da XP, aponta uma oportunidade total da companhia levantar entre R$ 89 bilhões a R$115 bilhões, o que se traduz em um valor adicional por ação de R$ 4,61-5,89/ação, além de uma redução no endividamento entre 0,36 vez e 0,46 vez.

O Credit Suisse também reforça que a decisão elimina os riscos que poderiam comprometer a venda de ativos.” O desinvestimento da refinaria mitiga o risco de interferência política no preço do combustível da Petrobras e em alocação de capital”, avalia.

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Já a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, o mercado avalia as oito refinarias previstas para venda em cerca de R$ 80 bilhões, representando metade da capacidade do parque de refino da companhia no país.

“Esse montante é equivalente a aproximadamente 30% do valor de mercado da Petrobras e representaria uma redução significativa de alavancagem (relação Dívida Líquida/Ebitda- métrica de geração de caixa potencial) dos atuais 2,34 vezes reportados no balanço do segundo trimestre de 2020 para cerca de 1,90 vez, só com o montante avaliado, sem considerar a geração de caixa positiva que a empresa vem obtendo de maneira recorrente”, ressaltam.

Contudo, apontam os analistas, é importante ressaltar que a venda dos ativos não será feita de forma imediata. A decisão favorável representa uma forte confirmação do cenário planejado pela companhia no plano de negócios 2020-2024, mantendo-se a meta de alcançar uma alavancagem de 1,5 vez já em 2022.

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Nesse sentido, duas das oito refinarias, RLAM na Bahia e Repar no Paraná, já estão em processo mais avançado de alienação, com interesses de grandes distribuidoras, como Raízen – subsidiária da Cosan (CSAN3) e Ultrapar (UGPA3).

“Olhando a longo prazo, agora a Petrobras retorna à rota de otimização de portfólio de ativos de maneira firme, condizente com o movimento mundial no setor petrolífero de foco em ativos mais rentáveis e investimentos realocados e voltados à sustentabilidade, sobretudo ambiental e econômico. A companhia já anunciou redução total no montante de investimentos anuais, canalizando os recursos de maneira prioritária no pré-sal, onde já obtém uma produtividade comparável aos maiores produtores mundiais”, aponta a Levante.

Além disso, avaliam os analistas, mais do que uma decisão favorável para a Petrobras, o resultado do julgamento abre de vez um caminho para um ambiente jurídico mais benigno para o desinvestimentos e melhora de alocação de capital pelas grandes estatais brasileiras, dado que o caso das refinarias era considerado um dos mais difíceis e complexos de passar pelo crivo político e configura uma vitória do atual Executivo.

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Desta forma, um grande fator de incerteza saiu do radar da companhia, reforçando a visão positiva dos analistas para a estatal. De 10 casas de análise que cobrem as ações da companhia, segundo dados da Refinitiv, 9 possuem recomendação de compra para a ação PN, enquanto apenas uma tem recomendação de manutenção. Porém, vale ressaltar: a volatilidade no curto prazo para as ações deve continuar, em meio ao cenário desafiador para o petróleo (saiba mais sobre as perspectivas para o petróleo clicando aqui).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.