Natura acerta venda de outro ativo e ação sobe: grande passo para limpar portfólio?

Analistas veem movimento para venda da Avon em países da América Central como positivo, mas alguns veem passo como não muito significativo

Lara Rizério

Natura (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
Natura (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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Em mais um passo para a “limpeza” de seu portfólio, a Natura (NATU3) anunciou na manhã desta segunda-feira (15) ter celebrado acordo com o Grupo PDC para a venda das operações da Avon na Guatemala, Nicarágua, Panamá, Honduras, El Salvador e República Dominicana. Como parte do acordo, a Natura continuará fornecendo produtos acabados e atuará como licenciadora da marca nas regiões.

Leia também: Um já foi. Quais os próximos passos da Natura para vender Avon Internacional

O valor da transação foi de US$ 1,00 “simbólico”, além da pagamento de US$ 22 milhões em recebíveis que a Avon Guatemala deve à subsidiária da Natura no México, que deve ser pago no fechamento da operação.

A reação foi de instabilidade para as ações após o anúncio, mas os ativos fecharam com ganhos. Após abertura em queda, os ativos NATU3 fecharam com ganhos de 2,17%, a R$ 8,94.

O Bradesco BBI aponta que a notícia é positiva. Em primeiro lugar, pelo sentimento de que a venda de ativos descontinuados está se concretizando agora: de 41 países/operações a serem encerrados, a empresa tratou de seis nesta transação.

Segundo, pelos termos melhores do que o esperado — uma parte deficitária desses ativos avaliada em US$ 22 milhões (cerca de R$ 117 milhões, ou impacto positivo pro forma de 0,05 vez na dívida líquida — já considerando impostos, pois esse valor refere-se a US$ 22 milhões em dívida/recebíveis da Natura para Avon CARD que a empresa está recebendo de volta nesta operação).

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Os ativos da Natura à venda são, no geral, negativos em fluxo de caixa e, como consequência, o mercado em geral espera alguma deterioração da dívida líquida com a venda total desses ativos (até cerca de R$ 1,0 bilhão de impacto adicional). Essa transação é positiva para a redução da dívida líquida quando a venda da Avon Internacional for concluída, o que é naturalmente positivo para a tese.

“Agora, aguardamos a conclusão da venda ou encerramento das demais 35 operações/países da Avon Internacional. Destacamos que os resultados de curto prazo podem ser voláteis, mas a indicação de hoje reforça nossa recomendação outperform [desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra], baseada no potencial de desbloqueio de valor, desde que o resultado consolidado e o fluxo de caixa convirjam para os números da Natura Cosméticos — o que é fundamental para uma reavaliação estrutural”, concluem o banco.

O JPMorgan ressalta a movimentação como um pequeno ponto positivo. Por um lado, demonstra progresso na cisão da Avon — um passo importante para a simplificação dos negócios e maior foco nas operações da América Latina. Por outro lado, o banco observa que a Avon CARD é a menos problemática das verticais da Avon que estão classificadas como “mantidas para venda” desde o 2º trimestre de 2025.

Além disso, a venda da Avon CARD não resolve os problemas de queima de caixa relacionados às operações da Avon Internacional. “Apesar de ser um passo inicial pequeno, a venda da Avon CARD provavelmente será bem recebida pelos investidores, pois sinaliza a continuidade da execução do plano de longo prazo de foco na América Latina”, avalia o JPMorgan. O banco aponta que, com as ações negociadas a 9 vezes o P/L (múltiplo de preço sobre o lucro) ajustado para 2026, mantém a recomendação neutra para a Natura.

A Ativa ainda reforça que a empresa segue buscando alternativas para a Avon International, que é classificado como ativo mantido para venda.

A XP Investimentos reforça que este é um sinal importante de que o plano de desinvestimento está evoluindo, embora os investidores devam permanecer céticos quanto a uma resolução completa, dado o perfil de queima de caixa dos outros ativos e as dúvidas sobre a viabilidade econômica dos próximos desinvestimentos, caso ocorram.

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“Nesse sentido, acreditamos que um cenário pessimista poderia deixar US$ 250 milhões para o comprador realizar eventuais ajustes pendentes na Avon Internacional — o que representaria cerca de 11% do valor de mercado atual ou cerca de 5% se considerarmos o saldo de caixa da Avon Internacional”, avalia.

A XP mantém recomendação de compra para NATU3, pois acredita que a empresa será capaz de executar o plano de desinvestimento da Avon Internacional, enquanto os analistas estão construtivos quanto aos ganhos da Onda 2 no negócio principal.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.