Não se engane pelo estrondoso prejuízo de R$ 48,5 bi: resultado da Petrobras foi muito positivo, dizem analistas

Ebitda e baixos custos de extração foram apontados como os fatores positivos reportados pela companhia no 1º trimestre

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – À primeira vista, o forte prejuízo de R$ 48,5 bilhões, revertendo um lucro de R$ 4,03 bilhões de um ano antes, pode assustar. Porém, não se engane, o resultado da Petrobras (PETR3;PETR4) foi memoravelmente forte.

Esta é a avaliação de analistas sobre o balanço da estatal, que teve como principal destaque positivo o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de R$ 37,504 bilhões, alta de 36,4% frente os R$ 27,4 bilhões de igual período de 2019.

“A alta qualidade dos ativos do pré-sal da Petrobras é evidente em um trimestre em que, mesmo após uma grande baixa contábil, o fluxo de caixa ainda aumenta. A liquidez parece abundante e, com preços do petróleo aparentemente se recuperando do fundo do poço, continuamos confortáveis com a nossa recomendação de exposição acima da média (overweight) para as ações da companhia”, avalia o Morgan Stanley. Para os analistas, saudáveis realizações e baixos custos de extração guiaram a performance superior.

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Ao falarem sobre a baixa contábil, os analistas do banco fazem referência ao impairment de R$ 65,3 bilhões feito pela companhia e que abalou a linha do lucro através da reavaliação de ativos principalmente de exploração e produção, considerando preços mais baixos do petróleo, devido a uma crise global causada pela pandemia do novo coronavírus, que reduziu a demanda pela commodity.

“Estamos assumindo agora que o preço do Brent de longo prazo será em média US$ 50 o barril, contra US$ 65 o barril anteriormente”, informou a petroleira em seu balanço financeiro trimestral.

O Morgan Stanley também pontuou que a empresa está em situação de liquidez mais confortável na comparação com outros períodos de baixa do preço do petróleo no passado.

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O JPMorgan foi além: “não se preocupe com os impairments: o que realmente importa é o forte fluxo de caixa e o sólido desempenho de exploração e produção”.

Segundo os analistas, os investidores devem se concentrar nos números operacionais: ” portanto, seríamos compradores em caso de qualquer fraqueza nas ações”.

Vale ressaltar que, em um dia de forte instabilidade para o Ibovespa, as ações registraram alta durante boa parte do pregão, notoriamente os ativos PETR3, diminuindo os ganhos no final da sessão. A ação PETR3 fechou perto da estabilidade, com alta de 0,06%, a R$ 17,70, após uma máxima de R$ 18,80 (+6,27%); já os ativos PETR4 tiveram queda de 1,44%, a R$ 17,15, depois de uma máxima a R$ 18,19, ou alta de 4,54%. No final da sessão, os papéis acompanharam a piora da bolsa brasileira.

Dentre os destaques, Vicente Falanga, analista do Bradesco BBI, apontou que as exportações foram recordes, alcançando receita de R$ 24,7 bilhões, um aumento de 42% na comparação anual e de 7,1%na comparação trimestral. Já o custo médio de extração por barril caindo para “impressionantes” US$ 7,50, contra a estimativa do Bradesco BBI de US$ 9,00.

Além do Bradesco BBI, o Itaú BBA também apontou que os números operacionais foram sólidos: os dois mantiveram suas recomendações equivalentes a compra para os ativos.

Outro ponto destacado, desta vez pelo Credit Suisse, que classificou o resultado como memorável, foi o nível de dívida líquida, que caiu US$ 4,5 bilhões (11% do Market cap), impulsionado também pela desvalorização do real.

Além disso, o forte nível de fluxo de caixa no trimestre leva a uma relação entre EV (valor da empresa e dívida líquida) sobre o Ebitda de 3,4 vezes, ante um histórico de 5,5 vezes.  “Se anualizarmos o trimestre, chegaríamos a um Ebitda anualizado de US$ 33 bilhões, patamar 10% acima das nossas projeções”, avaliam os analistas.

Contudo, há algumas ponderações a serem feitas: com o forte impairment, tudo indica que a petroleira não deva pagar dividendo neste ano, aponta o Credit. “A empresa parece bastante conservadora com relação às perspectivas de preço para petróleo”, reforçando a previsão do brent a US$ 25 o barril neste ano, chegando a US$ 50 somente em 2025. Para eles, na prática, essa menor expectativa com relação ao preco da commodity deve indicar que a companhia só irá aprovar investimentos em projetos world class.

Desafios à frente

Apesar da recuperação do petróleo neste trimestre, a expectativa é de que tempos bastante desafiadores prossigam para a empresa, o que deve levar à adoção de novas medidas pela estatal.

Durante videoconferência de apresentação de resultados, Roberto Castello Branco, presidente da estatal, apontou que a pandemia está trazendo ainda aprendizados e ajudando a acelerar uma estratégia que já estava em curso, de corte de custos e desinvestimentos. “Estamos planejando várias outras medidas para o futuro, inclusive quando sairmos dessa crise da Covid-19”, afirmou, destacando, por exemplo, mais cortes de custos.

“Nós chegamos à conclusão, com a experiência do ‘home office’, que é possível trabalhar apenas com 50% do efetivo nos escritórios. Isso nos permitirá liberar vários prédios e reduzir custos”, afirmou.

Enquanto isso, apontou que a petroleira segue firme na estratégia de desinvestimentos e que a crise só fez acelerar a estratégia colocada no radar em 2019. Além disso, Castello Branco também destaca que a estatal criou um comitê de renegociação de contratos, que vem obtendo sucesso ao ampliar prazos de pagamentos e reduzir custos.

Outro ponto é, conforme destaca o diretor executivo de Desenvolvimento da Produção, Rudimar Lorenzatto, é que ela está revisando os planos traçados para a contratação e construção de novas plataformas do tipo FPSO, previstas no atual plano de negócios.

“Numa visão mais de médio e longo prazo, tendo em vista a crise e as grandes mudanças do cenário mundial, estamos reavaliando alguns desse projetos visando otimização de custos, de escopo, de economicidade, análise de financiabilidade e consequentemente alguns desses projetos devem ter impactos de entrega”, afirmou.

Com relação à produção e extração, no curto prazo, a Petrobras não vê necessidade de cortes, uma vez que os produtos no exterior continua com um mercado robusto sendo que, em abril, conseguiu cumprir com o objetivo de produzir 2,26 milhões de barris por dia de petróleo. No primeiro trimestre, foram 2,32 milhões de barris por dia.

De acordo com o Bradesco BBI, a teleconferência da Petrobras reforçou a avaliação de que, do lado operacional, a Petrobras está superando o desempenho de seus pares na América Latina. O analista Vicente Falanga ainda aponta que, embora os resultados da Petrobras se deteriorem com o impacto total do novo coronavírus, a expectativa é de que as ações reajam aos bons fundamentos de pesquisa e desenvolvimento da empresa e à curva de futuros do petróleo.

Neste cenário, os analistas preferem as ações ordinárias sobre as preferenciais em um cenário sem chance de dividendos no ano. Isso porque os ativos ONs normalmente apresentam melhor desempenho com o aumento dos preços do petróleo.

Vale ressaltar que, dentre 13 casas de análise que cobrem a ação da companhia, 11 (ou 85%) possuem recomendação de compra, enquanto 2 (15%) recomendam neutra para a petroleira, corroborando a visão positiva dos analistas, ainda que o cenário de curto prazo seja desafiador.

“A Petrobras demonstrou em números que está executando bem as diretrizes estabelecidas na sua estratégia para o quadriênio 2020-2024. Mesmo que não consiga alcançar todas as metas devido à pandemia e o cenário para o petróleo daqui para a frente, os recentes esforços demonstram que ela está bem preparada para enfrentar a crise atual”, conclui a equipe de análise da Levante Ideias de Investimento.

(Com Agências)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.