Não basta ajuste fiscal: “inibidor de gringos” do Brasil pode estar no rating

Mesmo que medidas que visam a readequação das contas brasileiras sejam aprovadas, espaço para ainda mais altas está bastante limitado

Reuters

Publicidade

SÃO PAULO (Reuters) – Os mercados financeiros brasileiros não devem repetir o forte avanço deste ano, mesmo se o Congresso aprovar uma agenda de reformas considerada amigável para o mercado, já que os valores dos ativos estão próximos do teto para a classificação de crédito especulativa do país.

Os títulos, as ações e a moeda brasileira apresentam um dos melhores desempenhos do mundo neste ano, com os investidores recebendo bem as promessas do novo presidente Michel Temer de passar medidas para limitar os gastos públicos e reduzir o rombo previdenciário.

Os investidores estão agora ansiosos e esperando para ver se Temer conseguirá cumprir essas promessas, mas mesmo se o Congresso aprovar a agenda ambiciosa, analistas afirmam que há pouco espaço para altas mais dramáticas.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“O Brasil percorreu um longo caminho e grande parte das boas notícias já está precificada”, disse o gerente de carteira da Aberdeen Investments Viktor Szabo, que está reduzindo a sua exposição à dívida dolarizada do governo brasileiro.

As promessas de reformas já deixaram os investidores muitos mais dispostos a emprestar para o Brasil. Os rendimentos dos títulos brasileiros de 10 anos em moeda local caíram mais de 500 pontos básicos até agora neste ano, de acordo com analistas do Credit Suisse.

O credit default swaps (CDS) de cinco anos do Brasil, um medidor de risco de calote, pavimentou o caminho para o avanço deste ano, ao recuar para 264 pontos básicos na segunda-feira, ante aproximadamente 500 pontos básicos no início deste ano.

Continua depois da publicidade

O CDS está abaixo da média de 294 pontos básicos para países que compartilham o rating “BB” das três principais agências de classificação de risco, e está testando o quão longe os spreads podem ir na maior economia da América Latina sem o grau de investimento.

Todos as três principais agências de rating retiraram o grau de investimento do Brasil entre setembro de 2015 e fevereiro 2016.

O Brasil é classificado atualmente como “BB”, “BB” e “Ba2” pela Standard & Poors, Fitch Ratings e Moodys Investors Services, respectivamente, todos com perspectivas negativas.

Gabriel Gersztein, estrategista do BNP Paribas, afirmou que o CDS brasileiro pode cair para cerca de 200 pontos no fim de 2017 se os esforços fiscais de Temer tiverem sucesso.

Isso colocaria o Brasil em linha com a Rússia, que é classificada como “BB+”, “BBB-” e “Ba1” pela S&P, Fitch e Moody, respectivamente.

Uma pesquisa da Reuters com analistas apontou para uma alta de 5,5 por cento do Ibovespa para 65 mil pontos até o fim de 2017, depois de acumular ganho de 42 por cento até o momento neste ano.

Uma pesquisa separada mostrou o dólar subindo em relação à moeda brasileira para 3,43 reais nos próximos 12 meses, ante cerca de 3,21 reais atualmente.

Brasil alcançou o grau de investimento pela primeira vez em 2008, com o boom das commodities e políticas que misturavam contenção fiscal e programas sociais levando o país a ser o queridinho dos investidores.

No entanto, a queda dos preços das commodities, uma recessão profunda e déficits orçamentários imensos liquidaram com a reputação nos últimos anos.

Um estudo da Fitch mostrou que países que perderam o grau de investimento levam em média 6,1 anos para recuperá-lo.

“Na atual conjuntura, não prevemos a volta do Brasil ao grau de investimento nos próximos dois anos”, disse a chefe de análise soberana das Américas da Fitch, Shelly Shetty.

“Mesmo se forem aprovadas as medidas fiscais propostas pelo governo, o peso da dívida não vai diminuir no curto prazo.”

Seus comentários ecoam as observações do analista sênior da Moody’s Mauro Leos, que disse à Reuters no mês passado que o Brasil não vai recuperar o grau de investimento antes do final do governo de Temer em 2018.

Em entrevista à Reuters na semana passada, um analista sênior da S&P também disse que o Brasil ainda está longe de recuperar o grau de investimento.