Nada de novo à vista

As competências, valores, potenciais e vantagens do Brasil se acanharam diante de tantas mazelas

Francisco Petros

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É inegável o elevadíssimo grau de interdependência das variáveis que estão a flutuar no campo da análise da política e da economia no Brasil. Ademais, há de se acrescentar a “discreta” variável externa no que tange a mudança gradual, mas efetiva da política monetária dos EUA – o dólar persiste musculoso, o consumo global cresce ordenadamente e todos os países ricos (no âmbito da OCDE) crescem a despeito da taxa de investimento (poupança) baixa. Nos dias de hoje, há enorme vala entre a criação de riqueza (aumento do patrimônio dos detentores do capital) e de valor (o investimento em bens que geram novos bens). Voltemos ao Brasil.

Em Pindorama, os condicionamentos relevantes dados pelas operações policiais e os processos jurídicos vai sendo, de forma gradual, jogado à margem do desenvolvimento dos fatos na política e na economia. Não deixa de ser ilustrativo que em prazo relativamente curto os delatores do cume da República estejam em celas da Polícia Federal enquanto os personagens de suas delações estejam a se articular no Congresso Nacional para evitar os atos constitucionais que os levariam aos tribunais. Dessa forma, muito embora o Judiciário e o Ministério Público ainda se ocupem de boa parte dos negócios do Estado brasileiro, temos de analiticamente reconhecer que os movimentos de articulação que construirão o futuro, seja qual for, voltaram para as mãos dos políticos e dos detentores das canetas executivas. Esqueçamos, portanto, a possibilidade de Michel Temer et caterva serem submetidos aos mecanismos constitucionais de avaliação de seus comportamentos republicanos (ou antirrepublicanos). O resto é debate frouxo.

Já sabemos que o satus quo não sofrerá alteração significativa. Prova disso, é a inapetência que delicia a classe política na tarefa de não fazer qualquer mudança relevante na legislação eleitoral e nos diplomas que regulam o “negócio” denominado de “partido político”. Aqui a conclusão é simples: nada muda para que nada mude e todos fiquem mudos. Agora, não tenhamos ilusões: nada é neutro em política (e em quase tudo na vida).

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O acúmulo de poder nas mãos da classe política oligárquica-clientelista-patrimonialista significa que a posição privilegiada que os detentores das cadeiras legislativas e executivas, em todas as esferas federativa, levará o país para os destinos e no sentido que essa classe política desejar. Com efeito: o afastamento entre a Política e o Poder se aguçará. Na “prática”, isso significa que a distribuição desigual das parcelas do Poder, inviabiliza que o país possa se reformar e andar para frente, ou seja, desenvolver suas potencialidades. O que teremos é crescimento econômico, de 2% a 3% em 2018 e sei lá quanto daqui a três anos. É lógico que a melhoria da renda, fortalece o ambiente geral, assim como o ar puro pode melhorar a vida de tuberculosos. Todavia, precisamos serenamente combinar que não é possível mais confundir os espasmódicos períodos (ou anos civis) de crescimento do PIB com algo mais sério que é o desenvolvimento social, político e econômico do Brasil. Chegou a hora de pararmos de amenizar as realidades objetivas do país. Por esse mecanismo antropológico de sublimação, típico dessa terra de “gente cordial”, imensas favelas são chamadas de “comunidades”, só para dar um exemplo “caro” à Cidade Maravilhosa, aquela que há menos de três anos recebia Jogos Olímpicos.

Estou certo de os convescotes de Brasília e de outros recantos de Pindorama não estão a debater esse cenário no qual o establishment decide que o país vai ser ainda mais trágico. Muito embora possa parecer completamente irracional, há uma percepção de que a mera indignação, dos botequins à academia, pode sustentar os movimentos mudancistas na sociedade brasileira. O “espírito do tempo” do Brasil destes dias é o imobilismo e a letargia para não dizer a preguiça. Enquanto isso, assistimos a destruição do Estado, da Constituição, da Política, da Cidadania. Prevalece completa contemplação transcendental. Paradoxalmente, vê-se as cadeias públicas cheias de brancos da elite, mas isso não engendrou mudança civilizatória que corresponda ao fato inédito. Veremos o que virá no campo penal…

De forma geral, ainda não se acredita que os valores republicanos sejam necessários para que ultrapassemos o período da sociologia da reprodução das diferenças (no uso de Pierre Bourdieu) para uma “sociologia da transformação” que clame à Nação para um novo rumo. No fundo, as nossas elites persistem na trajetória oportunista, covarde, insensata que causa o mal-estar do momento e o nosso destino histórico.  Ainda se vê fascínio na esperteza rasteira e na agilidade verbal e na mão rápida e ágil da gente que “rouba, mas faz”. Convenhamos: os homens republicanos são louvados por minutos, mas os detratores da República são abonados por anos. Cumprir a Lei e a Constituição no Brasil não é princípio. É mero custo para os “homens de bem”.

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As competências, valores, potenciais e vantagens do Brasil se acanharam diante de tantas mazelas. O capital político incorporado às elites ainda está predisposto a avançar mais nas mazelas patrimonialistas. Não há mudanças à vista. Sejamos sinceros.