Ricupero: Brasil não é “prioridade” de Trump e deve crescer bem mais que o FMI espera

Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro da Fazenda, comentou as principais mudanças sob a presidência de Trump e as perspectivas de recuperação da economia brasileira.

Mário Braga

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SÃO PAULO – Vários conflitos históricos tiveram início com declarações infelizes e isso faz de Trump um “perigo global”, na avaliação do embaixador brasileiro Rubens Ricupero. “As questões envolvendo política internacional são muito perigosas e não sei até que ponto ele, que só tem experiência no mercado imobiliário de Nova York, tem conhecimento para as relações internacionais”, disse, em entrevista ao Na Real na TV desta segunda-feira (30).

Em entrevista ao jornalista José Márcio Mendonça, o diplomata avaliou ainda que dificilmente Trump será bem assessorado. “Não há nenhuma figura respeitável do ponto de vista do conhecimento internacional no ministério de Trump”, avaliou. Entre as “preocupações” que o republicano gera estão os elogios feitos ao Brexit, o possível incentivo à uma “aventura” da Rússia contra os países dos Bálcãs e as pressões contra a China, “em um perigoso jogo geopolítico”, segundo Ricupero.

A ofensiva de Trump contra os chineses tem forte ligação com as relações comerciais dos dois países. Como o diplomata destaca, a China tem um superávit comercial de US$ 300 bilhões com os Estados Unidos, e o México, de US$ 70 bilhões.

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Isto, explica Ricupero, coloca os dois países na linha de frente das mudanças que o novo presidente norte-americano pretende implementar. “O Trump não é contra o comércio. Ele é contra o déficit comercial. Ele quer levar vantagem em todas”, resume.

Brasil
Sob esta lógica, o Brasil, que é um dos poucos países a ter déficit comercial com os Estados Unidos não está na lista de “prioridades” de Trump. “Isso não significa que o país possa ganhar, mas pode deixar de perder (com as mudanças implementadas pelo republicano)”, afirma Ricupero.

O exemplo concreto é a saída dos Estados Unidos do TPP (Parceria Transpacífica). O embaixador detalhe que se o acordo fosse concretizado, produtores de carnes e soja norte-americanos teriam vantagens competitivas sobre os brasileiros nas disputas de mercado do Sudeste Asiático. “Ao Trump abrir mão disso, o Brasil deixa de perder”, diz.

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Ao comentar as perspectivas para a economia brasileira, Ricupero avalia que o país está gradualmente saindo de uma situação excepcional e caminhando para a recuperação. “Até me inclino a projetar um avanço do PIB (Produto Interno Bruto) mais perto de 1%, bem mais que o FMI (Fundo Monetário Internacional) acha, que é alta de 0,2%, 0,3%”, observa.

Para que este cenário se concretiza, o ex-ministro da Fazenda considera ser essencial estabilidade política e redução de juros. “A não ser que haja uma surpresa negativa muito grande no plano política, com uma volta da instabilidade e da incerteza, creio que a economia vai melhorar”, projeta.

Segundo ele, o BC (Banco Central) “não pode esmorecer” e deve continuar reduzindo a Selic com cortes de 75 ou 100 pontos-base. “O ideal é que muito rapidamente se chegasse a juros menores de 10% ao ano, na casa dos 9% ou 8%”, avalia.

Assista à íntegra da entrevista abaixo: