PF vê indícios de dinheiro do petrolão na eleição de Dilma e propina no governo Lula

As informações estão em duas reportagens exclusivas no “Estadão” de hoje. Com isso, o clima positivo contra o impeachment que o governo espera criar com os acertos no PMDB e no PT sobre o novo desenho do ministério pode ser anulado

José Marcio Mendonça

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Aos poucos a presidente Dilma Rousseff vai acomodando os vários núcleos da novela da reforma ministerial, principalmente os dos dois núcleos principais, o do PMDB e o do PT, e garantindo, pelo menos temporariamente, o esvaziamento no Congresso Nacional e no mundo político do movimento pró-impeachment, que já havia contaminado até parte da base governista.

Dilma fica devendo isto especialmente ao ex-presidente Lula e está pagando regiamente: aceitou afastar o ministro Aloizio Mercadante, desafeto político do PT e do próprio Lula, da Casa Civil, coisa que resistia fazer a menos de uma semana, e levou para o Palácio do Planalto dois homens de confiança dele: Jaques Wagner, da Defesa para a Casa Civil, e Ricardo Berzoini das Comunicações para a Secretária-Geral da Presidência da República.

Com Edinho Silva mantido na Comunicação Social, Lula passa a ter todos os olhos e ouvidos que importam dentro do palácio presidencial sob seu efeito, como nunca teve antes nas gestões Dilma, nem mesmo no inicio, quando ajudou a presidente a montar seu primeiro gabinete e influenciou fortemente a escolha dos ministros de então, alojando na Casa Civil Antonio Palocci e na Secretaria-Geral Gilberto Carvalho.

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O desenho da reforma ministerial saiu ao gosto de Lula e do PMDB. A confirmação do novo time de Dilma escalado a seis mãos (ela, Lula e o PMDB) deverá vir hoje, salvo alterações de última hora. O PMDB ficou satisfeito com os sete ministérios que levará. E o PT, atendido no caso Mercadante, e acalmado por Lula, não fará inicialmente mais barulho.

Lula pediu paciência ao partido ontem, em reunião da executiva nacional, não sem antes criticar a presidente pelo que ele considera “atraso” na execução da reforma, que, segundo ele, deveria ter ocorrido em novembro passado.

Um dos sacrificados na reforma, em nome dos arranjos partidários e para que a presidente pudesse acomodar em outro ponto seu (ex)homem de confiança, Mercadante, foi o professor Renato Janine Ribeiro, levado para o Ministério da Educação menos de seis meses atrás com rasgados elogios presidenciais e com a missão de tocar o projeto “pátria educadora”, slogan do segundo mandato. É o quarto ministro da área em um ano.

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Não há certeza, nem entre as fontes governistas, de que o arranjo ministerial, com os cortes de ministérios para dar alguma satisfação à opinião pública, vá melhorar a gestão do governo. Ele, segundo boa parte dos líderes governistas admite, foi pensado de fato para reagrupar a tropa presidencial e evitar que algum pedido de afastamento da presidente prospere. Pode ser que dê certo, porém…

Petrolão na campanha de 2014
O ambiente pode é voltar a ficar carregado. O jornal “O Estado de S. Paulo” de hoje traz duas noticias exclusivas, explosivas, que têm tudo para tornar mais complicada a situação de Lula e da própria presidente.

A primeira, diz que a Polícia Federal suspeita (e investiga), com base em mensagens trocadas em julho de 2014 nos celulares entre o dono da UTC e delator premiado, Ricardo Pessoa, e um executivo do grupo, que as doações da empreiteira para a campanha de Dilma estavam relacionadas ao recebimento de valores de contratos da Petrobrás.

A segunda reportagem, segundo indicações de documentos obtidos pelo próprio “Estadão”, diz que medida provisória editada por Lula em 2009 teria sido “comprada” por meio de esquema de lobby e corrupção para favorecer as montadoras. Teriam sido negociados pagamentos de até R$ 36 milhões para garantir a prorrogação de incentivos fiscais de até R$ 1,3 bilhão por ano ao setor.

Além do mais, o Tribunal da Contas da União (TCU) marcou para semana que vem o julgamento da contabilidade do governo de 2014, a das “pedaladas fiscais”, um dos pontos sobre os quais se sustentam alguns pedidos de impeachment nas mãos do presidente da Câmara para serem despachados.

 Com isso, de pouca valia para os movimentos de defesa da presidente terá a mais nova informação sobre a delicada situação do deputado Eduardo Cunha no capítulo da Operação Lava-Jato: a confirmação oficial de que ele e familiares têm contas secretas na Suíça. O cerco se fecha também sobre o deputado carioca, já citado como beneficiário do petrolão em cinco depoimentos diferentes na Justiça. Cunha é adversário declarado da presidente. Ontem ele arquivou três pedidos de impeachment.

E o Congresso ainda adiou a votação dos vetos, arma nas mãos dos congressistas para pressionar a presidente.

Para completar o mal dos pecados, a deterioração da economia segue em marcha batida, o que não ajuda  a atenuar o clima geral para a presidente. As contas completas do setor público (União mais Estados e Municípios) fecharam negativas em R$ 1,1 bilhão em agosto, praticamente sepultando qualquer veleidade dos ministros econômicos de entregarem 2015 com algum superávit primário.

Com isso e com o aumento dos juros, a relação dívida bruta/PIB continua sua perigosa trajetória para o alto: chegou em agosto a 65,3% contra 58,9% de 2014. Esta situação já está levando ao encurtamento dos prazos e ao aumento dos juros da dívida. A relação dívida/PIB é um dos principais indicadores de solvência do setor público de um país e fator determinante, por exemplo, para as agências de risco classificarem as notas soberanas de uma economia.

Desse modo, apesar de todos os esforços do Palácio do Planalto de mostrar mais ações presidenciais, de expor a presidente em atos “positivos”, a avaliação do governo continua quase no fundo do poço. A pesquisa do Ibope divulgada ontem mostrou que a nota positiva passou da 9% para 10% e a negativa de 68% para 69%, estáveis, portanto, considerando-se a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menor.

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Outros destaques dos

jornais do dia

– “PGR confirma existência de contas de Cunha na Suíça” (Globo/Folha/Estadão)

– “Déficit público cai, mas resultado no ano é o pior desde 2001” (Globo)

– “Câmara aprova regra [reaposentadoria] que eleva custos para o governo” (Folha)

– “Economia mundial caminha para ‘novo medíocre’, afirma FMI” (Folha)

– “Petrobras faz acordo com o Banco do Brasil para aliviar endividamento” (Folha)

– “Com reajuste da gasolina, previsões da inflação chegam a 10% em 2015” (Estadão)

– “Para conter dólar, BC ofereceu ao mercado US$ 80 bilhões em menos de um mês” (Estadão)

– “Custo dos swaps já está perto de R$120 bi no ano” (Valor)

– “Com consumo em queda, confiança do comércio recua pelo 5º mês seguido” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Editorial – “Baile de máscaras” (diz que em programa televisivo PSDB critica incoerências de Dilma e esquece as próprias enquanto a fundação petista ataca a política econômica) – Folha
  2. Jânio de Freitas – “Alguma atitude” (diz que a continuar no caminho em que está, é mais provável Dilma chegar à humilhação do que recuperar o país) – Folha
  3. Vinicius Torres Freire – “Lula 3, governo provisório” (diz que ex-presidente “ajuda” Dilma na reforma ministerial, mas caldo da economia ainda ferve” – Folha
  4. Editorial – “Dilma entrega os pontos” (diz que negociação da reforma ministerial já passou da fase de  escancarado toma lá dá cá) – Estadão
  5. Ribamar Oliveira – “Um ajuste fiscal feito em voz baixa” (diz que Dilma teme perder apoio de movimentos sociais, mas que executa política contestada por seu partido, com cortes em programas sociais) – Valor
  6. Maria Cristina Fernandes – “A regência” (diz que Dilma se manterá sob regência do PMDB e tutela lulista) – Valor