MRV (MRVE3) suspende capitalização de subsidiária americana Resia por condições de mercado; analistas avaliam impacto na ação

BBI e Credit veem notícia como ligeiramente negativa para ativos, uma vez que Resia tem sido grande destaque no balanço, mas seguem otimistas com MRVE3

Lara Rizério

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A MRV&Co (MRVE3) comunicou ao mercado na noite da véspera atualização de seus planos para a subsidiária americana Resia (antiga AHS).

A construtora informou que, após vários meses de negociações com investidores privados para capitalizar a Resia e impulsionar o seu já agressivo planos de crescimento, seu plano de negócios revisado não incorpora nenhum novo parceiro e/ou injeção de capital, o que significa que ainda não chegou a um acordo.

“Dado o cenário macroeconômico norte americano atual, que impactou negativamente o mercado de capitais, a capitalização da Resia no nível da holding, através de um possível processo de Private Equity, está suspensa e será retomada em um cenário macro mais favorável, o que impulsionará ainda mais o crescimento da Resia e resultará na antecipação do plano apresentado”, afirmou a companhia.

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Segundo a MRV, o processo de Private Equity contou com um grande engajamento por parte dos investidores americanos que demonstraram interesse pela companhia e, uma vez que já a conhecem mais profundamente, podem se tornar potenciais parceiros em um momento mais propício a retomada desse processo, ou mesmo se juntarem às alternativas atuais de Preferred Equity ou uma Joint Venture nos projetos.

“Com isso, o crescimento da operação norte americana, nesse momento, se dará com a mesma estrutura de capital que a companhia já vem adotando para os empreendimentos, contando com equity no nível dos projetos, aliado ao financiamento à construção”, afirmou.

Para a capitalização dos empreendimentos, a Resia já conta com parceiros para os Preferred Equities e Joint Ventures, que vêm participando dos projetos atuais. “Trata-se de um mercado maduro e já estabelecido nos Estados Unidos, que continuará a ser acessado para viabilizar o crescimento da companhia”, apontou.

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Nesse sentido, a companhia atualizou o seu plano de negócios. Considerando a alta demanda por propriedades e as margens elevadas alcançadas com as vendas, o plano de crescimento da operação da Resia busca a construção e venda anuais de 12 mil unidades nos Estados Unidos, atingindo essa marca em 2030, afirmou a empresa.

Entre os anos de 2022 e 2024, a empresa estima um lucro líquido acumulado de US$ 273 milhões para a Resia, número que alcançará a marca de US$ 2,8 bilhões no acumulado entre os anos de 2028 e 2030.

“As famílias que não possuem condições de financiar um imóvel ou adotam um estilo de vida asset light e recorrem ao aluguel, encontram a solução oferecida pela Resia, que desenvolve empreendimentos para a locação affordable, destinada à classe trabalhadora, ou workforce, nos estados da Florida, Texas e Georgia”, disse.

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A companhia ainda destacou que a alta demanda aliada à escassez de imóveis destinados à locação, permite um aumento expressivo no valor do aluguel, que reforça ainda mais o momento positivo para os projetos de multifamily.

“Essa dinâmica se reflete no alto Yield on Cost dos projetos que, com os baixos níveis de Cap Rate atuais, garantem uma Margem Bruta significativamente mais alta que a prevista nos estudos de viabilidade dos empreendimentos”, pontuou.

Analistas de mercado destacaram as notícias de suspensão do financiamento como ligeiramente negativas, uma vez que a operação americana tem sido um destaque no balanço da MRV&Co. A ação fechou em queda de 5,72%, a R$ 11,70.

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Na avaliação do Bradesco BBI, a falta de um novo investidor privado remove temporariamente a possibilidade de definir o valuation de Resia, o que era um gatilho positivo muito esperado para a ação da MRVE3. Por outro lado, as projeções para a Resia estão em grande parte alinhadas com as principais premissas atualmente no modelo do banco – ou seja, 5,5 mil unidades/ano construídas em 2025-2027 e vendidas com margem de 30% –, o que não deve resultar em qualquer revisão significativa nas estimativas.

Após 2027,  o BBI espera que a Resia acelere significativamente, o que ainda não está incluído em sua estimativa de R$ 10 por ação MRVE3 proveniente de Resia (uma contribuição relevante para o preço-alvo atual de R$ 17 que o banco tem para o ativo).

“Este fluxo de notícias negativo nos EUA combinado com um terceiro trimestre de 2022 potencialmente pouco inspirador pode atrapalhar o impulso para a ação, mas ainda vemos a assimetria de valor da MRV como uma das mais atrativas entre as construtoras, combinando o valor potencial com algum upside (revisão para cima) para nossas estimativas conservadoras para as margens da MRV no Brasil, sob as novas regras do programa CVA [Casa Verde e Amarela]”, avaliam os analistas do banco. A recomendação do BBI para a ação MRVE3 é outperform (desempenho acima da média do mercado), com o preço-alvo de R$ 17 representando um potencial de valorização de 37% frente o fechamento da véspera.

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O Credit Suisse, por sua vez, reduziu o preço-alvo para o ativo de R$ 16 para R$ 15 após o comunicado, ainda um potencial de valorização de 21%, mantendo recomendação outperform.

“Como já não estávamos considerando o capitalização e sendo muito mais conservadores do que a MRV em nossas premissas, reduzimos nosso preço-alvo para MRV em apenas R$ 1  com este anúncio. O mercado provavelmente reagirá
negativamente, mas não muda nossa visão de que a MRV está bem posicionada para recuperar suas operações principais no segmento de baixa renda do Brasil”, apontam os analistas.

O banco aponta que, recentemente, atualizou a cobertura de construtoras, reforçando visão positiva para o segmento de baixa renda com base nos ventos favoráveis ​​dos recentes ajustes de CVA e no potencial de ganhos de ações que as empresas poderiam ter no próximo ano.

“Continuamos otimistas de que a MRV vai continuar com a recuperação de suas operações e entregamos valores de ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) decentes”, apontam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.