Ações da Movida (MOVI3) recuam após aquisição de locadora na Europa; compra é positiva, mas pequena

Ao contrário do poder de escala e barganha com montadoras, no Brasil, locadora vai precisar desenvolver atributos competitivos em novo mercado

Vitor Azevedo

(divulgação)

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As ações da Movida (MOVI3) recuam quase 2% por volta das 12h50 desta quinta-feira (22), na contramão do Ibovespa, que avança 0,30%, e também da Localiza (RENT3), sua maior concorrente no Brasil, que sobe mais 0,50%.

A queda dos papéis vem após a Movida ter anunciado na noite de ontem a aquisição da portuguesa Drive on Holidays (DOH), iniciando o seu processo de internacionalização.

Para analistas, a compra é positiva, pelo ingresso em um novo mercado, mas traz o desafio dos ganhos de escala e barganha com montadoras, assim como no Brasil, que precisará ser desenvolvido.

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Movida dá passo à internacionalização

“Notícia positiva para a Movida, pois a empresa está dando o primeiro passo para a internacionalização, o que deve trazer uma expertise para expandir ainda mais sua atuação para outras regiões da Europa que possuem alto fluxo de turistas brasileiros”, abre a equipe de analistas do Bradesco BBI, chefiada por Victor Mizusaki.

O BBI destaca também que a aquisição foi feita a um múltiplo atrativo, 17% abaixo do qual a própria Movida é negociada, de 4,8 vezes o seu valor de mercado sobre seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

A Drive on Holidays foi adquirida por 66 milhões de euros – ou R$ 335,6 milhões -, tendo registrado um Ebitda de 16,3 milhões de euros nos últimos 12 meses.

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“Esperamos que a Movida use seus R$ 3,9 bilhões de caixa em moeda estrangeira para pagar esta aquisição. A elevada rentabilidade desta operação ainda contribuirá para cobrir o seu balanço e, além disso, a compra não deve ter impacto na alavancagem da empresa”, destaca o BBI.

O Itaú BBA vai na mesma linha, tendo visão majoritariamente positiva, afirmando que a Movida avança de maneira prudente e construtiva e que, apesar da aquisição ser pequena, os múltiplos são atrativos – bem como as margens da companhia adquirida, “uma das maiores do setor português”.

“Sem comprometer o plano de negócios da empresa no Brasil, o M&A anunciado permitirá à Movida aumentar gradualmente sua curva de aprendizado no novo mercado português pouco penetrado”, afirma a equipe liderada por Daniel Gasparete.

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“A combinação da experiência mais ampla da Movida no setor de aluguel de carros e o know-how local da experiente equipe de gerenciamento da Drive on Holidays pode criar uma oportunidade significativa”.

Os analistas do BBA ainda destacam a experiência do diretor executivo da DOH, Ricardo Esteves, com quase 20 anos de experiência, e que o mercado português de locação de veículos é muito fragmentado, oferecendo oportunidade de crescimento.

XP vê movimentação da Movida como neutra

Para a XP Investimentos, a compra da Drive on Holidays não deve alterar as perspectivas para a Movida, por conta, justamente, do pequeno tamanho da ação.

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“A DOH possui uma frota total de 3,3 mil veículos (totalmente dedicados ao segmento de Rent-a-Car), representando apenas 1,6% da frota total da Movida. Apesar de pequeno em tamanho, vemos o movimento de internacionalização como inesperado (provavelmente refletindo a estratégia da Simpar de diversificar parte da exposição da receita em moeda forte”, debatem os analistas da corretora.

O Credit Suisse destaca que o mercado deve ver a movimentação de forma cética, algo defendido também pelo BTG Pactual.

“Investidores locais foram ensinados a analisar o setor de aluguel de carros com base em vantagens de escala local, o que inclui poder de barganha com montadoras e capacidade de execução para vender veículos usados. Ao entrar em uma nova região, o mercado deve monitorar a capacidade da Movida de desenvolver esses atributos no local”, expõe o banco.

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Endividamento

A Levante, por fim, levanta uma preocupação em relação ao endividamento da empresa, com o fluxo de caixa sendo pressionado mais um trimestre por uma compra – sendo que o preço da DOH, no Brasil, poderia bancar a compra de cerca de cinco mil carros de R$ 60 mil.

“O mercado deve ficar atento, nos próximos trimestres, quanto à capacidade da Movida de gerar caixa quando o ritmo de expansão da frota diminuir, além de ficar de olho no custo da dívida e spread do custo de capital próprio em relação ao retorno do capital investido”, finalizam.

Recomendação e preço-alvo de MOVI3

O Bradesco BBI tem recomendação outperform (acima da média do mercado) para as ações ordinárias da Movida, com preço-alvo de R$ 25 (upside de 87,8% frente ao preço de abertura de hoje), bem como o Itaú, que tem alvo de R$ 26 (upside de 95,3%).

XP e BTG recomendam, ambos, a compra do papel, com os preços-alvos, respectivamente, em R$ 25 (87,8% de upside) e R$ 28 (110,3% de upside).