Motivo da alta do melhor setor da Bolsa desde 2012 pode não ser mais sustentável

Principal driver das empresas de educação, FIES não deve se sustentar depois de 2015 e precisará passar por uma reestruturação, dizem analistas do Morgan Stanley

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – De 2012 pra cá, o setor de educação aparece com folga como o que mais se valorizou na Bovespa. Neste ano, o cenário parecia se repetir, com a Kroton (KROT3) carregando até julho o posto de melhor ação do Ibovespa, mas isso começou a mudar. Apesar de ainda estar entre as maiores altas, a companhia começou a cair, assim como todo o setor, e o motivo para essa queda pode ser justamente o que manteve os investidores otimistas nos últimos anos: o FIES.

O programa governamental de financiamento estudantil com foco no ensino superior tem sido o grande “driver” para as ações do setor na Bolsa. Mas se ele deu tão certo desde as mudanças ocorridas em 2011, a expectativa é de que ele não se sustente da mesma forma nos próximos anos, aponta a equipe do Morgan Stanley. Em relatório enviado a clientes, os analistas Javier Cerdan e Thiago Bortoluci até colocaram um prazo para que o programa torne-se algo inviável: dois anos.

Dessa forrma, todas as empresas que utilizam o FIES como fonte de captação de alunos e de recursos começam a se ver em um cenário menos positivo para os próximos anos.

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Segundo o relatório, a equipe do Morgan diz que as contratações, que atualmente chegam a 600 mil por ano, devem saltar para 2,8 milhões em 2016, o que significa um valor em torno de R$ 93 bilhões, valor que chega a aproximadamente 2% do PIB brasileiro e 30% do orçamento do MEC, tudo isso apenas para cobrir as contratações.

Enquanto o programa se torna cada vez maior e mais relevante, o fundo de cobertura de risco de inadimplência do FIES, o FGEDUC, não terá recursos para garantir o programa já que atualmente ele dispõe de apenas R$ 2,2 bilhões.

2015, um ano decisivo
O próximo ano será crucial para que tanto o governo quanto as empresas provem que o FIES realmente pode se sustentar daqui pra frente. Tudo porque, segundo as regras do programa, em 2015 terá início o período de amortização para quem contratou o programa pelo novo método. No “Novo FIES”, inaugurado em 2011, o contratante tem 18 meses após encerrar o curso para começar a pagar.

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De acordo com os analistas do Morgan, agora será o momento de ver se o programa se sustenta, já que a partir do próximo ano “poderemos descobrir quantos desses alunos irão pagar suas dívidas com o FIES e quantos não irão [os inadimplentes]”. Vale destacar que no “Novo FIES” o aluno não precisa mais comprovar renda, podendo indicar outra pessoa para pagar.

Cerdan e Bortoluci afirmam que o governo precisará decidir sobre mudanças a serem realizadas no programa, entre elas um aumento do caixa (se o orçamento permitir) ou ser mais seletivo na hora de aprovar a contratação. E, segundo eles, o momento de pressão econômica, com a fraca atividade do País complica ainda mais a sustentar o FIES.

“Não achamos que o programa irá acabar, mas ele poderá, eventualmente, desacelerar ou sofrer uma reestruturação regulatória”, afirmam os analistas. Como eles mostram no relatório, da maneira como está agora, o FIES não irá conseguir se sustentar e isso pode pesar bastante para as companhias educacionais, principalmente após 2015.

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Recomendação elevada pelo “risco retorno”
Apesar dessas notícias ruins, a equipe do Morgan elevou sua recomendação para os papéis da Kroton, passando de “equal-weight” (desempenho na média do mercado) para “overweight” (desempenho acima do mercado), já que, segundo eles, este “problema” com o FIES já está incorporado no preço da ação.

Ou seja, mesmo com os problemas, o investimento no setor ainda se mostra uma boa opção, sobretudo pela melhor relação “risco-retorno” que a ação da Kroton apresenta após o péssimo setembro dela na Bolsa – os papéis KROT3 caíram 10,5% no mês, até a última quarta-feira (24). No ano, eles ainda acumulam ganhos de 58,4%.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.