MiniFootball Token: cripto desconhecida buscada por brasileiros acende alerta para golpe

Projeto não revela nomes dos responsáveis e ano passado foi acusado de prática fraudulenta

Lucas Gabriel Marins

(Crédito: Gettyimages)

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Uma criptomoeda desconhecida chamada MiniFootball Token entrou momentaneamente para a disputada lista de trending topics do Twitter Brasil nesta semana. Por volta das 15h da quarta-feira (5), o nome do ativo digital era o quinto mais citado da rede social, ao lado de temas importantes para o país, como as eleições do segundo turno.

O “boom” de popularidade da criptomoeda, no entanto, não foi natural. A maioria das mensagens com a hashtag #MiniFootballToken continham frases sem sentido, como “radioeletricidade goleiro tabelamento rouco nivanda” e “natural contraventor guitarra troço reputação”, e boa parte dos perfis que fizeram menções ao ativo são fakes.

Além disso, o projeto tem diversas características que acendem luzes vermelhas, como o “quase anonimato” dos seus responsáveis, a falta de informações sobre a economia do token e seu passado problemático.

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Em 2021, a cripto foi acusada de “pump and dump” (inflar e despejar), um tipo de golpe em que fraudadores mantêm um ativo, inflam o valor dele com informações falsas e depois fazem a venda para ficar com o lucro.

O caso do pump and dump

O MiniFootball Token foi lançado na BNB Chain, blockchain patrocinada pela corretora Binance, em agosto de 2021. O projeto diz em seu site institucional que nasceu com a pretensão de ser “uma nova criptomoeda que combina os maiores fãs de futebol e Dogecoin (DOGE), criando a maior comunidade do mundo”.

Logo após ganhar vida, o ativo digital disparou graças ao suposto “apoio” de jogadores de futebol, inclusive brasileiros. Um deles foi Thiago Silva, zagueiro do Chelsea. Na época, Silva falou para o site The Athletic, do Reino Unido, que fez propaganda para a criptomoeda a pedido de um amigo, e não sabia muito a respeito dela. Depois de ficar a par do assunto, suspendeu a participação na campanha.

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Após o boom inicial, no entanto, a moeda quase chegou a zero, em um movimento típico de um “pump and dump”. Em fóruns e no YouTube, diversos investidores e observadores disseram que a manobra foi uma fraude típica.

Depois da queda repentina e das críticas, o projeto cripto ficou silencioso. Em abril, entretanto, voltou com tudo. Em notas divulgadas à imprensa, os responsáveis informaram que “o MiniFootball foi objeto de inúmeras alegações no passado”, mas a “comunidade e a equipe, por outro lado, se uniram para trabalhar nos bastidores para trazer o projeto de volta à vida”.

Promoções, jogos com tokens não-fungíveis (NFTs) e outras iniciativas foram divulgadas. “Com a Copa do Mundo de 2022 se aproximando, a comunidade espera recompensar e proporcionar várias formas de entretenimento, como promoções de estrelas do futebol, ingressos para jogos, e assim por diante”, escreveram.

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A reportagem tentou falar com os criadores da cripto por meio de um contato do Telegram divulgado no site – perguntas sobre as acusações, os criadores e o projeto foram enviadas -, mas ninguém respondeu até a publicação.

A falta de informações sobre os responsáveis costuma ser encarada com motivos de suspeição por especialistas.

Quase anonimato

O MiniFootball Token não revela quem são seus fundadores e qual o background deles. No site, há apenas os nomes “Roderic”, “Hector” e “Jaxon”. No mercado cripto, com exceção do Bitcoin (BTC), o anonimato e a falta de informações sobre os integrantes de um ativo digital são indicativos de fraude, segundo especialistas.

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Em alguns textos publicados na internet, os nomes Andy Mckenzie e Martin Rezek são citados como diretores ou CEO da criptomoeda. Há pessoas com esses nomes nas redes sociais, mas nenhuma delas faz referência ao projeto cripto.

A reportagem descobriu que Mackenzie e Rezek têm uma empresa chamada “MiniFootball LTD” em Glasgow, na Escócia. Ela foi registrada na Companies House, órgão do governo inglês que armazena informações sobre firmas, em 27 de setembro de 2021.

No documento de registro, a companhia diz que trabalha com edição de jogos de computador e atividades de serviços de tecnologia da informação. Não há outras informações ou menções ao setor cripto, e não foi possível confirmar a identidade dos donos.

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Site e tokenomics

O site do MiniFootball Token foi criado em agosto de 2021. No “Whois”, um protocolo em que é possível consultar informações de contato e DNS, não há informação alguma também sobre os proprietários, o que não é um bom indicativo.

O tokenomics (modelo de economia do token) da criptomoeda bem como o roadmap (plano) não revelam informações relevantes para projetos cripto, como circulação e número de tokens, o que também é uma característica que levanta suspeitas.

Maior apoio

Nesse retorno do MiniFootball Token, os responsáveis estão apostando ainda mais no suposto “endosso” de jogadores.

No site do ativo e nas redes sociais há dezenas de prints de stories de atletas brasileiros, como Ronaldinho Gaúcho, Rafael Alcântara (Real Sociedad), Marcelo (Olympiacos), e internacionais, e de outros países, como Denis Suárez (Celta de Vigo) e Sergio Busquets (Barcelona) “recomendando” o projeto.

A reportagem do InfoMoney não conseguiu contato com as assessorias deles para confirmar o suposto aval.

No ano passado, o ex-jogador do Liverpool John Aldridge foi questionado pelo site The Athletic sobre uma propaganda feita em prol do projeto cripto. Em resposta, ele disse que não sabia muito do token, e fez a publicidade pelo Cameo, um aplicativo que permite que pessoas comuns contratem artistas e atletas para gravar vídeos.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney