Sem Minha Casa Minha Vida, construtoras adotam cautela à espera da melhora do crédito com avanço do corte dos juros

Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3), Even (EVEN3) estão entre construtoras que projetam cenário mais positivo em 2024; confira as estratégias

Augusto Diniz

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Quando o governo anunciou o novo Minha Casa Minha Vida, as conhecidas operadoras do segmento de baixa renda trataram de comemorar, afinal, o programa foi apresentado de forma mais robusta, abrangente e favorável à adesão do público-alvo.

Enquanto isso, as construtoras que têm foco no segmento de renda média e média-alta viram o seu mercado encolher, em meio aos juros altos e à dificuldade de crédito. Dessa forma, o que resta a esse grupo de empresas é se ajustar ao cenário e manter a cautela.

Um das empresas nessa situação é a Cyrela (CYRE3). Embora tenha apresentando bons resultados no 3T23, reconheceu o mercado árduo, em meio aos juros altos e ao cenário macro bastante desafiador.

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Raphael Horn, CEO da Cyrela, disse a analistas e investidores que, ainda assim, a companhia vai continuar focando no segmento de renda média e alta.

“Está mais difícil, está. Mas a gente vai continuar apostando”, comentou, descartando atuar em segmento de baixa renda.

Construtoras seguram novos empreendimentos

No caso da a Eztec (EZTC3), a empresa optou por postergar seus lançamentos, centrando na redução do estoque.

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“Postura cautelosa dado o cenário econômico ainda bastante incerto, especialmente quanto à trajetória e à velocidade em que se dará a redução dos juros e o acesso ao crédito aos clientes”, comentou a empresa.

Silvio Ernesto Zarzur, CEO da Eztec, afirmou na apresentação do balanço que “não foi o resultado que gostaria de apresentar, mas é adequado para o momento da companhia”.

“Estamos nos preparando para o ano que vem para virar essa página”, disse.

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O executivo ressalta que além de vender o estoque, a empresa precisa ganhar velocidade de venda.

“Nós vamos escolher a dedo os lançamentos. Só vamos lançar empreendimento que tenha alta velocidade de venda”, disse, mostrando o quanto o setor está cauteloso em lançar novos empreendimentos.

O CEO crê que em algum momento o corte da taxa de juros em andamento vai influenciar as vendas de imóveis.

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“Na alta e na média rendas, conforme se têm juros menores, a demanda por imóvel aumenta. Eles vão pagar o financiamento mais barato”, afirmou.

Se afastando da média renda

Já a Even (EVEN3) tem optado em trabalhar com o segmento de alta renda e luxo.

“O mercado de alto padrão nós temos visto patamares consistentes de vendas e a gente enxerga um ambiente positivo para os nossos lançamentos”, afirmou a analistas Marcelo Dzik, CFO da Even.

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Ele acrescenta que a empresa tem alocado esforços nesse segmento e que os players do setor vêm atuado no mercado de alto padrão, que “tem se mostrado resiliente nos últimos anos”.

Por outro lado, Dzik vê dificuldade no médio padrão. “Esse pessoal é mais sensível”, justificou.

“A gente não tirou completamente o pé, mas nossa atuação está muito concentrada no luxo e no alto padrão. Mas a gente estuda oportunidades de médio e médio-alto padrão. Pode ser que, dependendo do (cenário) macro, a gente pode ter novas oportunidades nesse segmento. Mas, hoje, estamos principalmente posicionados no luxo e alto padrão”, disse.

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De volta ao Minha Casa Minha Vida

Por sua  vez, a Trisul (TRIS3) relatou no resultado do 3T23 que a recente queda na taxa Selic corroborou com a visão de um cenário mais positivo no setor de incorporação imobiliária.

“O corte de meio ponto percentual sinaliza que ainda podemos esperar um ritmo de queda nas próximas reuniões, o que, ao nosso ver, é essencial para a valorização de nossos imóveis”, comentou a empresa.

Mas imóveis disponíveis à venda acossam a empresa. “É mais confortável ver seu volume de estoques diminuindo. Mas eu espero que caia um pouco mais sempre tendo mais vendas do que lançamentos. É óbvio que um patamar confortável de estoque é igual ao que se lança no ano”, disse Fernando Salomão, CFO da Trisul na última tele de resultados.

Para o ano que vem, a Trisul imagina algo em torno de 20% a 25% de lançamentos dentro do segmento do Minha Casa Minha Vida, representando a volta da empresa ao segmento.

“Esse segmento a Trisul já atuou muito, desde que foi criado até 2018”, disse Salomão. “Temos alguns terrenos no banco (landbank) que acabaram se adaptando (ao programa). Não foram adquiridos pensando nisso”, complementou.

Reduzindo estoques

Por fim, Henry Borenstein, CEO da Helbor (HBOR3), disse na apresentação dos resultados do 3T23 que a empresa segue “confiante a estratégia de reduzir nosso estoque de unidades prontas e em construção”.

A queda de lançamentos da Helbor nos nove primeiros meses do ano foi de 58% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Isso vem ao encontro da estratégia que adotamos desde o início do ano, de lançar menos e se resguardar dos juros tão altos. Começou uma queda de juros, mas ainda está elevado”, comentou Marcelo Bonanata, diretor de vendas da Helbor, acrescentando que a empresa se dedica hoje à venda de estoque.

“A diminuição de lançamentos preserva a companhia”, reforçou.