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SÃO PAULO – A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) repassou a administração de três aeroportos nesta segunda-feira (6) para a iniciativa privada, por um total de R$ 24,53 bilhões, em sistema de leilão. O valor pelo qual as outorgas de Viracopos, em Campinas, Cumbica, em Guarulhos, e Juscelino Kubitschek, em Brasília, foram pagos chegou a ser 346,09% maior do que o pretendido pelo Governo.
Dentre os vencedores, a Triunfo (TPIS3) foi a única empresa de capital aberto na BM&F Bovespa que conseguiu conquistar uma das concessões, através do consórcio Aeroportos do Brasil. Ela vai operar o terminal de Viracopos, que pretende, até o fim do período de 30 anos, ser o maior do Brasil, com investimentos previstos em R$ 9 bilhões.
Mas, com uma relação entre dívida líquida e Ebitda (geração operacional de caixa) em 3,32x no fim de setembro de 2011, a companhia estaria próxima de estourar o limite considerado “aceitável” pelo mercado, de 3,5x, ainda mais com a grande quantidade de projetos de infraestrutura nos quais está envolvida. O reflexo disso pode ser visto no desempenho de suas ações, que encerraram o pregão em queda de 3,30%, cotadas a R$ 8,50, depois de caírem até 5,80% no intraday.
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Ágio foi muito grande
A primeira análise a ser feita é que a proposta do consórcio foi agressiva. Considerando apenas o aeroporto de Campinas, o ágio pago foi de 159,7%, a R$ 3,82 bilhões. A XP Investimentos, por exemplo, acredita que a taxa de retorno não parece atrativa, ainda mais considerando as projeções feitas pela União. Para ser mais rentável, o prazo de concessão teria de ser ainda maior. O Bank of America Merrill Lynch já havia dito que a rentabilidade tinha espaço para ser mais elevada.
Como, dentre os três, ele é o investimento com menor previsibilidade de geração de caixa, isso poderia trazer problemas ao balanço da Triunfo. É necessário que se crie uma demanda de passageiros no local, ainda pequena por conta da localidade e número de companhias que lá operam, para depois as receitas serem mais estáveis. A XP avalia que, com os gastos de capital exigidos, esse fluxo também deveria ser grande, o que não pode ser previsto. Portanto, o lance teria sido muito alto.
Leonardo Nitta, analista da BB Investimentos, explica, porém, que grande parte do financiamento para essas despesas virá do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mesmo assim, os custos em geral podem evoluir muito durante o período de outorga, entre eles o de compra das máquinas.
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“Todos os operadores vão comprar o mesmo maquinários, a oferta não é tão grande, e a Infraero deve fazer o mesmo com os aeroportos que não foram privatizados”, lembra. Por isso, ele também acredita que retorno de capital foi bem reduzido.
| Aeroporto | Tempo de concessão | Lance vencedor | Taxa à União* | Investimentos | Consórcio | Ágio |
| Cumbica | 20 anos | R$ 16,21 bilhões | 10% | R$ 4,6 bilhões | Invepar ACSA | 373,5% |
| Viracopos | 30 anos | R$ 3,82 bilhões | 5% | R$ 9 bilhões | Aeroportos Brasil | 159,7% |
| Juscelino Kubitschek | 25 anos | R$ 4,51 bilhões | 2% | R$ 2,7 bilhões | Inframérica | 673,4% |
Fonte: Governo e TCU
*em relação à receita bruta no período
OHL, CCR e Ecorodovias sobem
Mas nem só a Aeroportos do Brasil – parceria da empresa com a francesa Egis Airport Operation e a construtora UTC Participações – ofereceu um ágio elevado. Por Cumbica, o valor a ser transferido será 373,51% mais elevado (R$ 16,21 bilhões) e, em Brasília, 673,39% maior (R$ 4,51 bilhões). “Os lances foram assustadores”, disse um analista do setor. Apesar do sobrepreço, a XP lembra que atrair investidores estrangeiros para o negócio foi relativamente fácil, na hora de montar os consórcios.
Exatamente por conta das propostas inflacionadas é que o mercado parece ter aprovado a derrota dos outros envolvidos. A CCR (CCRO3), por exemplo, era cotada a conquistar o direito em Guarulhos, mas não conseguiu alcançar a proposta da vencedora Invepar, e suas ações fecharam em alta de 2,50%, com o preço de R$ 13,10. Já a Ecorodovias (ECOR3) viu seus papéis avançarem 5,93% no fim da sessão, cotados a R$ 13,40.
Nitta, no entanto, dá um exemplo que pode servir de alento às companhias vencedoras. A OHL Brasil (OHLB3, R$ 67,20, +5,33%) – que participou do leilão e não conseguiu nenhum terminal – entrou no mercado de concessões rodoviárias com propostas extremamente altas, de tarifas de pedágio bem abaixo das pretendidas pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e hoje entrega rentabilidade positiva. “Pode ser que as sinergias entre as empresas sejam muito altas”, pondera.
O fato de os dois aeroportos terem saído mais caro durante o processo de privatização faz sentido ao se olhar o risco dos negócios. Cumbica e Juscelino Kubitschek já têm um forte fluxo de passageiros e geração estável de receitas, o que fazem deles mais seguros. No entanto, uma fonte com conhecimento da Invepar afirmou ao Portal InfoMoney que os fundos de pensão nela envolvidos – Funcef, da Caixa, Petros, da Petrobras, e Previ, do Banco do Brasil – podem ter alavancado suas ofertas a fim de impulsionar os lances seguintes.