Mendonça de Barros: o PT já acabou, mas quem quer assumir o desastre da economia?

Para o ex-ministro das Comunicações, o fundo do poço ainda não chegou e ninguém vai querer ficar com os créditos do desastre econômico que vivemos; Dilma terá que perdurar no governo até a situação melhorar

Paula Barra

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SÃO PAULO – Uma nova configuração de liderança começou a se formar no Brasil. O modelo que conduziu a hegemonia do PT durante 15 anos chegou ao fim. “A população acordou. O ciclo do PT, que foi construído em cima do bem-estar da sociedade, aqui ligado ao consumo, acabou e, junto a isso, teve um choque muito negativo de expectativas”.

Em entrevista ao InfoMoney, Luiz Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique e fundador da Quest Investimentos, falou que acredita que o PT está desmoronando e isso será revelado, principalmente, nas eleições municipais do ano que vem. Apesar de todo o descontentamento, ninguém irá querer assumir o poder agora, por isso não acredita que a classe política levará adiante um pedido de impeachment.  

“O PT já caiu e perdeu de forma definitiva sua hegemonia de 15 anos. Ele está desmoronando. Isso quer dizer que uma nova hegemonia política vai ser construída nos próximos anos, e ela vai estar à direita”, disse. 

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 Apesar de ver um cenário claro de mudança, que deverá começar a ser conduzido no próximo ano, com as eleições municipais, Mendonça de Barros acredita que ninguém quer Dilma fora do poder agora. “Quem viabilizaria um impeachment seria a classe política, mas isso não é um consenso. O PMDB, que se beneficiaria, sabe que assumir o poder agora é chamar o desastre da economia para si. Hoje, todo mundo está tentando criar uma governabilidade para jogar esse governo para frente”.

Um novo presidente “apanharia” um ano e daqui a seis meses ninguém lembraria mais de Dilma e sobraria para ele. Por isso, Mendonça não acredita que alguém queria assumir o comando político agora. “Eles vão buscar um acordo de governabilidade e, no ano que vem, quando a economia começar a melhorar, com inflação mais baixa e juros menores, aí que será o momento central dessa discussão”, comentou. “O fundo do poço ainda não chegou”. 

Ele acredita que ano que vem virá a grande derrota do PT, com a eleição municipal. “O PT deve levar uma tunga em 2016. A manifestação clara da população virá nas urnas, com o povo mostrando sua vontade de trocar o comando político. Aí realmente alguma coisa irá acontecer”.

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Descontentamento da população
Segundo o economista, o povo acordou, e isso veio principalmente por dois fatores: queda do poder de compra e perda de credibilidade no governo, com a ruptura do discurso da presidente feito durante a campanha eleitoral. O próprio modelo que ergueu o PT foi capaz de destruí-lo, salienta.

Em 2014, o governo deveria ter mudado de postura, mas preferiu inflar sua bolha do consumo usada para trazer bem-estar à população desde 2003 – principalmente porque estava diante da campanha eleitoral. Naquele momento, lembra, o governo estava alarmado com a queda do cíclica do consumo de bens duráveis, que ocorreu a partir do último trimestre de 2013.

Nos 12 meses que se seguiram os gastos dos consumidores registraram uma queda de 15%. Como resultado, nos meses anteriores à eleição presidencial, o consumo ligado ao crédito recuperou mais da metade das perdas nos 12 meses anteriores, mas, passadas as eleições, a bolha furou de vez e não tinha mais o que o PT pudesse fazer para levantar a economia, já que a inflação e a deterioração das contas públicas impediam isso. E aí veio a forte queda do poder de compra – o que agora ajuda agravar mais insatisfação popular. 

Diante da crise econômica, que, para ele, deve se prolongar por pelo menos mais um anos, Mendonça acredita que a população não teve escolha e passou a aceitar, de fato, que o melhor é adotar políticas econômicas mais austeras. “O povo está revoltado e por isso vejo uma inversão no comando da política e ele deverá vir em 2016”, afirmou. Para o economista, os traços definitivos dessas mudanças ainda estão sendo construídos e poderá se dar, além disso, quando as incertezas sobre a Operação Lava Jato, em relação ao rol dos culpados, diminuir.