Margem de lucro faz com que carros brasileiros sejam tão caros, diz especialista

Na Argentina, por exemplo, o Civic LX custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), R$ 20 mil a menos do que no Brasil

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – O lucro da montadoras, e não apenas os impostos cobrados na produção, fazem os carros vendidos no Brasil se tornarem muito mais caros do que os veículos comercializados em outras partes do mundo.

A constatação é do diretor da agência AutoInforme, Joel Leite. Segundo o especialista, diferentemente do que dizem as montadoras, a alta carga tributária não é o principal responsável pelo elevado preço que pagamos pelos veículos.

Ele cita que, com exceção dos carros 1.0, cujo imposto de produção aumentou 0,9% entre 1997 e 2011, a carga tributária dos veículos recuou neste período de tempo. “O carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos e o imposto da versão álcool/flex passou de 32,5% para 29,2%”, diz Leite.

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No segmento de luxo, o imposto caiu 0,5 ponto no carro a gasolina (de 36,9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Portanto, segundo a AutoInforme, o problema em relação aos preços de carro no Brasil é a margem de lucro das montadoras, muito maiores no Brasil do que em outros países.

Margem de lucro elevada
O especialista cita um estudo do Morgan Stanley, que afirma que a margem de lucro das montadoras é mais elevada com carros com aparência de fora de estrada.

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“Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5% a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais”, diz.

Como exemplo, Leite aponta o Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker) e custa R$ 52,5 mil. Na versão normal, com motor 1,4, o preço é de R$ 40,9 mil, uma diferença de 28,5%.

Ainda de acordo com o levantamento do banco de investimento norte-americano, no geral, a margem de lucro das montadoras brasileiras chega a ser três vezes maior do que a de outros países.

Exemplos
O especialista da AutoInforme cita o exemplo do Honda Civic, fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, e vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX), incluindo o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Ou seja, sem estes dois itens, o preço do carro no México seria de R$ 20,3 mil.

“No Brasil, se adicionarmos os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692”, diz Leite.

Entretanto, o preço pago pelos brasileiros é bem superior: R$ 56.210 pelo modelo. “O Lucro Brasil é de R$ 15.518: R$ 56.210 menos R$ 40.692”, ressalta o especialista.

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“Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv”, completa.

Já na na Argentina, o Civic LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o site Auto Blog, R$ 20 mil a menos do que no Brasil.

Outro exemplo citado por Leite é o caso do Kia Soul, comercializado no Paraguai por US$ 18 mil (cerca de R$ 28,8 mil), metade do preço do mesmo carro vendido no Brasil. “Ambos vêm da Coreia. Não há imposto que justifique tamanha diferença de preço”, critica.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip