Marfrig tem resultado de um ano em um tri, BRF “sem brilho” e força da Via Varejo no e-commerce: os destaques dos balanços

Números de Azul, MRV, Eletrobras, Taesa, entre outras companhias, também movimentaram o mercado de ações na reta final da temporada de balanços

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Em uma sessão de forte volatilidade para o Ibovespa, que chegou a subir mais de 1% para depois virar para forte queda, as ações de companhias que divulgaram os seus resultados do segundo trimestre entre a noite da última quarta-feira (12) e a manhã desta quinta-feira (13) também registraram volatilidade na Bolsa.

Um exemplo é a Marfrig (MRFG3) que, após chegar a subir quase 11% na esteira de um resultado bastante positivo, virou para queda seguindo a maior aversão ao risco do mercado e fechou em leve alta, enquanto a BRF (BRFS3), que não trouxe um resultado muito inspirador, viu seus papéis caírem forte durante toda a sessão, com os ativos do setor também impactados pela notícia de que a China detectou coronavírus em frango importado do Brasil (até o momento, a notícia é de que o frango era do frigorífico Aurora – veja mais clicando aqui).

Por outro lado, as ações da Via Varejo (VVAR3), mesmo amenizando os ganhos em relação à máxima do dia, tiveram alta expressiva com a força do e-commerce, assim como os ativos da Taesa (TAEE11). Nomes importantes, como Azul (AZUL4) e Ultrapar (UGPA3) também divulgaram seus números e movimentaram o mercado. Confira a análise dos resultados que movimentaram o pregão desta quinta-feira:

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Marfrig (MRFG3, R$ 14,78, +0,41%)

A expectativa para o resultado da Marfrig era bastante alta mas, mesmo assim, a companhia conseguiu surpreender, reportando um trimestre que pode ser considerado praticamente “um ano em um trimestre”, conforme avaliação do Credit Suisse.

A companhia teve lucro líquido de R$ 1,59 bilhão no segundo trimestre, um salto de cerca de 1.740% ante os R$ 86,5 milhões registrados no mesmo período de 2019, alta atribuída à melhora no desempenho operacional e firme demanda da China.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado teve alta de 266% na mesma base de comparação, a R$ 4,1 bilhões.

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A receita líquida consolidada, por sua vez, foi a R$ 18,9 bilhões, crescimento de 54% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. “Engana-se quem pensa que foi apenas o câmbio responsável por essa melhora, a operação americana conseguiu emplacar uma política de aumento de preços graças ao forte aumento da demanda interna, na operação da América Latina o mesmo aconteceu com o preço das exportações e o volume exportado”, destacam os analistas da Levante Ideias de Investimentos.

As operações na América do Norte tiveram recorde histórico para um trimestre em receita líquida (US$ 2,6 bilhões), Ebitda (US$ 635 milhões) e margem Ebitda (23,7%).

Na operação da América do Norte, a empresa conseguiu comprar o gado com preços melhores e repassou uma aumento de preço para seus consumidores, o que gerou um spread (diferença entre preço de compra do gado e preço de venda do bife) 44,6% superior frente ao mesmo trimestre de 2019.

As unidades da América do Sul também apresentaram o melhor trimestre histórico, com a receita líquida totalizando R$ 4,4 bilhões, alta de 27,7% na base anual.

Leia mais: CEOs de Marfrig, Eletrobras, MRV, Via Varejo e outras grandes empresas comentam os resultados do ano em lives no InfoMoney

“No segundo trimestre, as exportações passaram a representar 68% da receita da operação ante aos 59% no primeiro trimestre de 2020, e 52% no segundo trimestre de 2019. Aproximadamente 65% do total das receitas de exportação foram destinados a China e Hong Kong; esse montante representou um aumento de 81% quando comparado ao mesmo período de 2019 e reflete o melhor posicionamento da Marfrig na região para atender à demanda asiática”, destacou a empresa no release de resultados.

Na avaliação dos analistas do Credit Suisse, a Marfrig continuará apresentando um desempenho operacional forte, com a National Beef se beneficiando da maior oferta de gado nos Estados Unidos e a América do Sul com as exportações. “Além disso, as iniciativas da administração para ganho de eficiência devem abrir caminho para uma empresa mais saudável em termos de alavancagem e geração de fluxo de caixa futuro”, avaliaram, em relatório a clientes.

“A Marfrig apresentou excelentes resultados no segundo trimestre, superando as expectativas do mercado em todos os principais indicadores. O Ebitda ajustado veio 21% acima das nossas expectativas, atingindo R$ 4 bilhões, com a América do Norte sendo o principal destaque positivo (o Ebitda ajustado do segmento veio 24% acima da nossa previsão)”, destaca Betina Roxo, analista da XP Investimentos.

Na mesma linha, o Itaú BBA reiterou a recomendação de “outperform” para a Marfrig, acompanhando os fortes números de geração de caixa e desalavancagem do trimestre. Na mesma linha, XP Investimentos e Credit Suisse possuem recomendação equivalente à compra para os ativos.

Durante teleconferência, David Tang, diretor financeiro da companhia, destacou que o caixa recorde da companhia será usado para insumos e também para o pagamento do serviço da dívida de curto e médio prazo.

Enquanto isso, o foco do investimento continuará na expansão da capacidade de carne processada e produtos à base de plantas, conforme apontou Miguel Gularte, CEO das operações na América do Sul.

Contrariando o otimismo das casas de análise citadas acima, contudo, o Bradesco BBI possui recomendação neutra para as ações da companhia, levando em conta principalmente o desempenho mais positivo das ações em relação a seus pares. “Passado o resultado do segundo trimestre, enquanto destacamos que a Marfrig obteve eficiências operacionais mais fortes do que havíamos previsto, esperamos alguma normalização em margens da carne bovina dos EUA à frente, proporcionando assim uma desaceleração dos ganhos”, avaliam os analistas.

BRF (BRFS3, R$ 20,93, -7,80%)

Enquanto o resultado da Marfrig foi destacado positivamente pela maior parte das casas de análise, os números da BRF tiveram uma interpretação distinta.

A companhia registrou lucro líquido de R$ 307 milhões no segundo trimestre de 2020, uma queda de 5,5% em relação ao mesmo período de 2019. Se contadas somente as operações continuadas da companhia, o lucro teve aumento de 60,8% na comparação anual.

O Ebitda somou R$ 1,177 bilhão entre abril e junho, um recuo de 21,9% na comparação anual. No critério ajustado, o indicador ficou em R$ 1,031 bilhão, com recuo de 33,3% em relação ao segundo trimestre de 2019. Retirando os efeitos tributários, essa queda foi de 15,4%.

A receita líquida da BRF no trimestre fiou em R$ 9,104 bilhões, crescimento de 9,2% em relação ao período entre abril e junho do ano passado. O volume vendido ficou praticamente estável, em 1,083 milhão de toneladas.

O resultado financeiro líquido da companhia no segundo trimestre foi negativo em R$ 190 milhões, uma sensível melhora em relação ao resultado negativo de R$ 619 milhões do mesmo período do ano passado.

A dívida líquida da BRF fechou junho em R$ 15,311 bilhões, um aumento de 15,4% em relação ao saldo de dezembro de 2019. O nível de alavancagem medido pela relação dívida líquida/Ebitda chegou a 2,89 vezes ao final do segundo trimestre, ante 3,74 vezes de um ano antes.

Para o Credit Suisse, a redução do preço das aves, em dólares (queda de 18% em relação ao trimestre anterior), deve limitar o crescimento das receitas da empresa. “Além disso, devemos observar uma importante pressão de alta nos custos de ração já no terceiro trimestre, o que nos torna mais cautelosos neste momento com a tese de investimento da BRF”, avaliaram os analistas do banco em relatório a clientes. Assim, os analistas do banco suíço destacaram os números como bons, mas pouco inspiradores.

Já o Bradesco BBI destacou a maior participação dos alimentos processados nas vendas e o reforço do fluxo de caixa, que fez a empresa atingir R$ 12,2 bilhões de liquidez total.

O Bradesco manteve a classificação de “outperform” para a BRF, com preço-alvo do papel em R$ 28. “Os resultados do segundo trimestre confirmaram nossa expectativa de fortes ganhos de participação na receita do negócio de alimentos processados da BRF e também mostraram uma melhora na liquidez de caixa que consideramos positiva para o estoque”, informaram em relatório.

A XP considerou os resultados do segundo trimestre da BRF mais fracos que o esperado. Uma das frustrações veio da margem Ebitda. Segundo a XP, isso ocorreu porque os custos continuam pressionando o frigorífico.

“Do lado positivo, as mudanças nos hábitos de consumo em função da pandemia ajudaram as vendas de alimentos processados no mercado interno, aumentando as margens e levando a receita líquida para R$ 9,1 bilhões”, reforça a equipe de análise em relatório.

Durante a teleconferência de resultados, Lorival Luz, presidente da companhia, destacou que os custos relacionados à pandemia de coronavírus provavelmente cairão com a maior parte das despesas não recorrentes do segundo trimestre.

“As despesas terão queda relevante nos próximos trimestres”, enquanto alguns custos persistirão até o fim da pandemia, apontou.

Conforme destacou a companhia, o aumento do absenteísmo e as medidas tomadas para evitar a Covid-19 levaram a um declínio na produtividade e a um mix de produção menos lucrativo para a indústria brasileira de frango.

Por outro lado, os níveis de produtividade se recuperaram e devem atingir níveis normais em setembro, disseram os executivos, que ainda apontaram que o risco de paralisação de unidades é visto como mínimo, limitado a cerca de 30% das unidades brasileiras.

Via Varejo (VVAR3, R$ 18,78, +3,41%)

A Via Varejo apresentou seus resultados do segundo trimestre de 2020 com forte no crescimento das vendas on-line.

O resultado das vendas no e-commerce veio forte, com alta de vendas brutas de mercadoria (GMV) de 279,6% totalizando R$ 5,08 bilhões no trimestre. “Entretanto, nas vendas gerais, o efeito da pandemia esteve presente, com receita bruta total com retração de 7,8%”, apontam os analistas da Levante.

O destaque positivo para a dona das marcas Casas Bahia, Pontofrio e Bartira se dá no ganho de 3,4 pontos percentuais na margem bruta atingindo 30,7%, mesmo excluindo efeitos não recorrentes de créditos tributários (241 milhões de reais), e a penetração das vendas no canal digital atingindo 70% das vendas gerais, o que aumenta os efeitos positivos da alavancagem operacional, apontam os analistas.

A companhia fechou o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 65 milhões. O resultado reverte prejuízo líquido de R$ 162 milhões registrado no mesmo período de 2019. Entretanto, o resultado operacional foi de prejuízo líquido de R$ 176 milhões, 40,6% menor que as perdas registradas no mesmo intervalo de 2019.

O canal online representou 70% das vendas da Via Varejo no trimestre. Em relação ao segundo trimestre de 2019, a alta é de 51,5 pontos porcentuais.

A Via Varejo calculou as vendas em mesmas lojas (que considera apenas as unidades abertas há mais de 12 meses) de duas formas. Na primeira, que considera apenas as lojas físicas reabertas no início de cada mês e que ficaram abertas o mês inteiro, ou 564 unidades, a alta foi de 15%. Na outra, que considera todas as lojas reabertas até o final de junho, independente do dia em que reabriram, o crescimento foi de 23%.

A companhia encerrou o segundo trimestre com caixa líquido, incluindo recebíveis não descontados, de R$ 2,902 bilhões. É uma alta de 1.841% no intervalo de um ano.

Conforme destaca o Credit Suisse, “ao se considerar as circunstâncias do trimestre, a Via Varejo conseguiu entregar resultados muito bons, defendendo a receita com boa performance online e melhorando significativamente as margens”.

Por outro lado, eles ressaltam que, do ponto de vista da competitividade, apesar da recente capitalização, a expectativa é de que a Via Varejo termine o trimestre com o menor poder de fogo entre os principais players do comércio eletrônico no Brasil e correndo contra o tempo para fechar as lacunas, principalmente no negócio de venda online, que é vista pelos analistas como fundamental para o crescimento estrutural como um ecossistema.

Para a XP Investimentos, os resultados mostraram um progresso importante da companhia no processo de digitalização das operações, com crescimento das vendas de comércio eletrônio e, ao mesmo tempo, melhor rentabilidade. “A melhora é fruto do rebalanceamento das condições comerciais da companhia, estoques renovados no período (a um câmbio mais baixo) e melhor gestão de categoria”, avaliaram em relatório a clientes. A equipe de análise manteve a sua recomendação de compra para o papel da Via Varejo, com preço-alvo de R$ 28 para o final do ano.

Na avaliação do Bradesco BBI, claramente, a mudança para o comércio eletrônico proporcionou alguns ventos favoráveis.

“Mas, para afirmar o óbvio, a Via Varejo opera em um e-commerce altamente competitivo e portanto, a empresa deve ser creditada por sua forte execução. É o caso tanto do GMV (que engloba diversos aspectos, como logística, experiência do usuário e preços), quanto das margens, que ficaram acima do esperado (tanto na margem bruta quanto de despesas gerais e administrativas). Acreditamos que a Via Varejo, portanto, entra no segundo semestre do ano com forte impulso, o que deve ajudá-la a continuar a recuperar o terreno perdido para os concorrentes ao longo de vários anos”, avaliam. A recomendação do banco é outperform, com preço-alvo de R$ 22.

Azul (AZUL4, R$ 22,01, -3,80%) 

Atingida em cheio pela pandemia do coronavírus, a companhia aérea Azul reportou um prejuízo líquido de R$ 2,9 bilhões no segundo trimestre de 2020, contra um lucro líquido de R$ 351,6 milhões em igual trimestre de 2019.

Desconsiderando ajustes cambiais, a empresa reportou um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,49 bilhão no segundo trimestre de 2020, ante lucro líquido ajustado de R$ 110,1 milhões um ano antes.

O Ebitda ficou negativo em R$ 324,3 milhões, contra um valor positivo de R$ 733,2 milhões um ano antes.

A empresa registrou uma receita líquida R$ 401,6 milhões no trimestre, redução de 84,7% na comparação anual, devido ao impacto da pandemia da covid-19 na demanda de passageiros.

Cargas e outras receitas reduziram 8,5%, totalizando R$119,1 milhões, “relacionado principalmente com a queda de 0,8% na receita de cargas comparado com o 2T19, apesar da redução de capacidade de 83%, e a diminuição de receitas da Azul Viagens, nossa operadora de turismo”, explicou o grupo, em nota.

Conforme ressalta a XP Investimentos, a Azul reportou dados abaixo das expectativas e do consenso. “A diferença para nossas estimativas se deu principalmente por uma receita unitária (PRASK) cerca de 17% abaixo do esperado, resultando em uma receita líquida consolidada 13% abaixo das expectativas. O resultado operacional e o lucro líquido foram pressionados por custos acima do esperado e um resultado financeiro pior que o esperado, reflexo da forte depreciação do real em relação ao dólar no trimestre. Por outro lado, os acordos fechados com os arrendadores (durante e após o segundo trimestre) resultaram em uma situação de alavancagem mais saudável que o que prevíamos inicialmente”, destaca a analisa Bruna Pezzin.

Contudo, aponta, embora os resultados operacionais tenham sido mais pressionados do que esperava, o trimestre atual ainda não deve forneça grandes insights sobre tendências futuras, sendo que o noticiário relativo ao ritmo de recuperação da demanda e a dinâmica cambial serão os principais drivers para a preço das ações. “Mantemos recomendação de Compra para as ações da Azul, com um preço-alvo de R$ 29 por ação, reforçando nossa visão de cautela para o curto prazo”, avaliam os analistas.

Já o Bradesco BBI ressalta que a Azul concluiu com sucesso as negociações com locadores, pilotos e tripulantes, reduzindo a expectativa de queima de caixa no segundo semestre. “Isso, combinado à confortável posição de caixa de R$ 3 bilhões, resulta em mais de 24 meses de operações. Enquanto isso, a demanda doméstica está se recuperando de forma mais rápida, enquanto a disciplina da gestão e o  acordo de codeshare com a LATAM devem acelerar a expansão da margem Ebitda nos próximos trimestres”, apontam os analistas, que possuem recomendação outperform para a ação.

Saiba mais sobre o resultado da Azul no vídeo abaixo: 

Ultrapar (UGPA3, R$ 18,55, -0,59%)

O lucro líquido da Ultrapar caiu 59% no segundo trimestre de 2020, para R$ 50 milhões, ante o mesmo período do ano passado. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, a queda foi maior, de 70%.

O Ebitda ajustado da companhia atingiu R$ 611 milhões entre abril e junho de 2020, queda de 10% em relação ao mesmo período de 2019. Já em comparação ao primeiro trimestre deste ano a queda foi de 31%.

A receita líquida da companhia chegou a R$ 15,876 bilhões no segundo trimestre deste ano, queda de 27% ante o segundo trimestre do ano passado e redução de 26% em relação a janeiro e março deste ano.

A Ultrapar informou que neste momento de crise gerada pela pandemia do novo coronavírus atuou em diversas frentes para assegurar a sua liquidez financeira e garantir que os serviços essenciais fossem mantidos para a população.

Segundo a empresa, apesar dos impactos relevantes que afetaram os resultados da Ipiranga, o desempenho do trimestre foi marcado pela resiliência do portfólio da Ultrapar, que viu seus demais negócios apresentarem resultados crescentes e robustos.

“As medidas de contenção de caixa, como contingenciamento dos investimentos e despesas, combinadas com uma melhora no capital de giro, possibilitaram uma forte geração de caixa e uma ligeira redução da nossa alavancagem financeira”, disse a Ultrapar na carta que acompanha os resultados.

Para o Credit Suisse, o resultado de Ipiranga decepcionou mas, para a Ultrapar em geral, foi um trimestre neutro. Em relação aos pares, apontam os analistas, a Ipiranga se beneficiou por não ter exposição à aviação. No entanto, a perda de participação de mercado da Ipiranga no período (queda de 1,1 ponto percentual no trimestre em postos) acabou compensando (negativamente) essa vantagem, avaliam. Os volumes caíram cerca de 16% no trimestre – até então, os volumes estavam apresentado tendência de alta.

Do lado positivo, Ultragaz, Oxiteno e os resultados dos demais negócios foram pouco impactados pela crise. Um destaque positivo no trimestre foi a leve redução sequencial na dívida liquida de R$ 326 milhões suportada pelo capital de giro. “No geral, entre surpresas positivas e negativas, o resultados foram neutros e nossos analistas veem esse trimestre como não recorrente com base na expectativa de uma recuperação no setor de distribuição de combustíveis daqui pra frente”, afirmam os analistas.

Já para Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, os resultados foram fracos, abaixo do esperado, e ainda há baixa visibilidade para os resultados da empresa no futuro próximo.

“Em primeiro lugar, embora acreditemos que o período de medidas mais rígidas de distanciamento social e restrição ao fluxo de pessoas tenha passado, ainda não está claro quanto tempo levará para uma normalização total das atividades e do fluxo de pessoas e serviços, que é de suma importância para a performance da unidade de negócios mais relevante da Ultrapar, a distribuidora de combustíveis Ipiranga. Também observamos que as margens da divisão foram fortemente pressionadas por impactos negativos de estoques relacionados à volatilidade dos preços das commodities (derivados de petróleo e etanol)”, aponta a XP.

Dito isso, ele destaca que o fraco desempenho da Ipiranga pode ser pelo menos parcialmente compensado por outras tendências positivas, como (1) os impactos positivos do câmbio mais depreciado sobre os resultados da Oxiteno e maiores vendas de linhas de produtos como Casa & Cuidados Pessoais (2) maior demanda no varejo de GLP na Ultragaz, embora as expectativas de menores resultados no segmento de atacado tenham se concretizado ao longo do segundo trimestre de 2020. A recomendação da XP é neutra, com preço-alvo de R$ 18.

MRV (MRVE3, R$ 17,90, +0,85%)

A MRV Engenharia, maior construtora residencial do País, obteve lucro líquido de R$ 124 milhões no segundo trimestre de 2020. O montante foi 34,6% menor que o do mesmo período de 2019.

A queda no lucro se deve a descontos nas vendas de imóveis, aumento nas despesas com juros e doações para causas sociais devido à pandemia.

A MRV passou a adotar uma política comercial mais agressiva nos últimos meses, com descontos em torno de 5% na venda dos imóveis, como forma de ganhar liquidez e reduzir os estoques. Por outro lado, isso levou a uma redução na margem bruta de 30,7% para 28,4% no período.

A companhia também registrou um resultado financeiro (saldo entre despesas e receitas com juros) positivo em R$ 15 milhões, que foi 64,8% menor, explicado pelas captações no trimestre, que somaram R$ 492 milhões.

A construtora informou ter destinado R$ 7,5 milhões para doações. Sem este desembolso, o lucro teria chegado a R$ 131,5 milhões – neste caso, o equivalente a um recuo de 30,7% em vez de 34,6%.

O balanço mostrou ainda que o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 232 milhões, queda de 9,9% na comparação entre os mesmos períodos. A margem Ebitda encolheu de 16,5% para 14,2%.

Por sua vez, a receita líquida totalizou R$ 1,639 bilhão, aumento de 5,2%, seu maior patamar de todos os tempos, ajudada pelas vendas recordes.

Conforme já divulgado, as vendas líquidas atingiram R$ 1,813 bilhão no segundo trimestre de 2020, alta de 37,4% na comparação anual. Já os lançamentos caíram 47,9%, chegando a R$ 942 milhões, por conta do fechamento do comércio provocado pela quarentena.

A MRV encerrou o trimestre com R$ 2,558 bilhões em caixa, leve alta de 3,2%. A empresa tem R$ 807 milhões em dívidas corporativas com vencimento nos próximos 12 meses.

Leia mais: CEOs de Marfrig, Eletrobras, MRV, Via Varejo e outras grandes empresas comentam os resultados do ano em lives no InfoMoney

A dívida total foi a R$ 3,659 bilhões, alta de 20,5%, por conta da captação já citada. E a dívida líquida atingiu R$ 1,039 bilhão, aumento de 99,1%.

A alavancagem (medida pela relação entre dívida líquida e patrimônio líquido) subiu de 10,5% para 19,3%.

O Credit Suisse classificou o resultado da MRV como neutro, apesar da receita recorde. Na avaliação dos analistas da instituição financeira, a construtora segue com a lucratividade pressionada.

“Mantemos nossa classificação “neutra” para a MRV, visto que continuamos a ver um ambiente de margens sob pressão e uma perspectiva comercial mais desafiadora assim que as condições especiais de financiamento da Caixa chegarem ao fim”, avaliaram, em relatório a clientes.

Para o Credit, o mercado não deve reagir à receita recorde porque ela já era esperada, uma vez que a empresa já havia divulgado a prévia operacional do segundo trimestre.

A XP Investimentos ressalta que a MRV postou fortes resultados referentes ao segundo trimestre, impulsionados pela linha de receita maior do que o esperado devido ao melhor desempenho de vendas durante o período.

“Como esperado, a margem bruta continuou pressionada dado que a companhia vem concedendo descontos em determinados empreendimentos. No entanto, as despesas comerciais, gerais e administrativas mais altas levaram a um lucro líquido mais fraco do que o esperado. No balanço patrimonial, a MRV registrou geração de caixa de R$ 213,9 milhões, o que levou a companhia a reportar uma dívida líquida/PL de 19,3%”, avaliam os analistas da XP.

A equipe de análise também ressalta que, apesar dos resultados positivos, mantém a recomendação neutra e preço-alvo de R$ 23 por ação, visto que os positivos resultados operacionais e financeiros já estariam precificados.

Eletrobras (ELET3, R$ 33,38, -6,94%;ELET6, R$ 35,15, -5,38%)

A Eletrobras teve lucro líquido de R$ 4,59 bilhões no segundo trimestre de 2020, queda de 17,3% em relação ao resultado do mesmo trimestre do ano passado, de R$ 5,56 bilhões.

O resultado foi impactado, principalmente, pelo efeito das revisões tarifárias das concessões de transmissão de energia, além de despesas financeiras e desvalorização do real.

Já o Ebitda foi de R$ 7,8 bilhões, 483% acima na base de comparação anual, principalmente impactado pelo efeito da remensuração do ativo de Rede Básica Sistema Existente (RBSE) e pela queda de 26% de despesas, com redução de custos com aluguéis, terceirizados e medidas relativas aos planos de demissão voluntária. Já o ajustado, ficou em R$ 2,413 bilhões, queda de 19%.

A receita bruta foi de R$ 12,5 bilhões, sendo R$ 5,5 bilhões referindo-se à remensuração do ativo de RBSE decorrente da revisão tarifária das concessões de transmissão renovadas.

Conforme destaca o Credit Suisse, a Eletrobras reportou fortes resultados do segundo trimestre impulsionados pela RBSE e bom controle de custos. Já o Ebitda foi positivamente impactado pela revisão tarifária no segmento de transmissão e com programas de eficiência que reduziram custos, apesar dos menores ganhos no mercado à vista.

A receita da Eletrobras refletiu principalmente os ganhos com recebíveis da RBSE e revisão tarifária no segmento de transmissão. Os custos e despesas totais (excluindo depreciação, amortização e construção) caíram 30,4% na base anual e ficaram 12% abaixo da estimativa do Credit.

Contudo, apontam os analistas, o principal catalisador para o papel continua sendo as notícias sobre o potencial de privatizações.

Movida (MOVI3, R$ 17,13, -1,04%)

A empresa de locação de veículos e gestão de frotas Movida apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 2,6 milhões no segundo trimestre do ano, um recuo de 93,7% na comparação com igual período de 2019.

A empresa alcançou uma receita líquida de R$ 1 bilhão, uma alta de 5,8% no comparativo trimestral. O Ebitda consolidado foi de R$ 151 milhões, alta de 51%.

Para manter o resultado positivo, a empresa acelerou as vendas de veículos na unidade de seminovos, que ajudaram a compensar a ociosidade dos veículos do segmento de aluguel.

Para o Credit Suisse, os resultados vieram acima do esperado, apesar dos efeitos negativos da pandemia do novo coronavírus no segmento de aluguel de veículos, mas que mostrou recuperação a partir de julho. “Os dados operacionais de julho indicam que a recuperação continua forte.”

Na mesma linha, o BBI aponta que os resultados mostraram que a Movida reagiu rapidamente à pandemia COVID-19, que resultou em: 1) uma confortável posição de caixa de R$ 1,7 bilhão, 2) margem Ebitda recorde na gestão de frotas devido a iniciativas de redução de custos e 3) boa Margem Ebitda em Seminovos com 18.465 carros usados vendidos. “Os números preliminares de julho de 2020 também confirmam que a Movida voltou a crescer no segundo semestre. Mantemos nossa recomendação outperform e preço-alvo de R$ 24 para 2020”, avaliam.

Alupar (ALUP11, R$ 23,93, -1,52%)

A Alupar divulgou lucro líquido de R$ 72,1 milhões no segundo trimestre de 2020, um recuo de 25% na comparação com igual período do ano passado.

Já a receita líquida atingiu R$ 1,027 bilhão entre abril e junho, uma alta de 25,6%. E o Ebitda foi de R$ 422,1 milhões, leve queda de 3,5% no comparativo anual.

Na avaliação do Credit Suisse, os novos ativos da concessionária compensaram uma geração mais fraca. No caso da receita, os analistas da instituição financeira destacaram que o “reajuste tarifário anual em algumas linhas foi parcialmente compensado pela redução de 50% na receita anual permitida em outras duas linhas (ERTE e ENTE) no ciclo 2019-2020 e uma atividade comercial mais fraca”.

Tupy (TUPY3, R$ 17,14, -2,56%)

A Tupy teve um prejuízo de R$ 82,8 milhões no segundo trimestre de 2020, revertendo o lucro de R$ 59,4 milhões em igual período do ano anterior. Já a receita caiu 54,1%, a R$ 644,8 milhões, sendo impactada pela paralisação das atividades de seus clientes por conta do coronavírus. O Ebitda ficou negativo em R$ 22,4 milhões.

De acordo com o Itaú BBA, o resultado foi pior do que o esperado, apesar da expectativa já por números fracos em razão da pandemia. Contudo, na avaliação dos analistas, o pior já passou.

“Mantemos nossa recomendação  outperform para a Tupy, com um preço-alvo de R$ 30 por ação ao final do ano. Antes da pandemia, a lucratividade estava no caminho certo e o mix de produtos da Tupy estava melhorando, impulsionado por uma maior contribuição de produtos usinados e peças feitas de CGI [ferro fundido cinzento, nodular e vermicular, material de elevada resistência mecânica]. Sendo assim, o principal motivo de termos gostado da Tupy foi a melhora da margem, já que não considerávamos um crescimento na época. Este será um ano desafiador devido à pandemia e os desafios consequentes envolvidos na capacidade de correspondência com um novo cenário de demanda com futuro incerto”, apontam os analistas.

Eles reforçam que, após uma recuperação em 2021, as premissas para crescimento da receita e ganhos incrementais de margem Ebitda são estáveis ​​e modestas, o que corrobora uma história de baixo crescimento. A gestão da companhia, por outro lado, fez um ótimo trabalho com liquidez e alavancagem, o que será crucial para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham e abrirá o caminho para a consolidação do Teksid, uma vez aprovado.

Metal Leve (LEVE3, R$ 17,89, -3,14%)

A fabricante de autopeças Metal Leve teve prejuízo de R$ 39,4 milhões no segundo trimestre de 2020, revertendo lucro de R$ 59,6 milhões em igual período de 2019. A receita, por sua vez, teve uma queda de 46%, a R$ 360,9 milhões.

Conforme destaca a Levante, o resultado do segundo trimestre de 2020 da Metal Leve foi fraco, bastante afetado pela quarentena da Covid-19, abaixo do esperado em termos de receita líquida, Ebitda e lucro líquido.

“A Metal Leve ficou com as suas operações industriais praticamente fechadas por dois meses (abril e maio) e foi bastante afetada pela forte queda de 50% na produção de veículos no mercado doméstico”, destacam os analistas. Eles ressaltam que o principal catalisador da Metal Leve é a recuperação na produção de vendas de veículos novos no mercado interno, que foi duramente afetado durante a pandemia.

Taesa (TAEE11, R$ 28,62, +1,02%)

A Taesa teve lucro líquido de R$ 437,8 milhões no segundo trimestre de 2020, 42% superior frente o mesmo trimestre do ano passado. A receita operacional líquida, por sua vez, foi de R$ 755,6 milhões, alta de 77%. O Ebitda totalizou R$ 440 milhões.

Conforme destaca o Credit Suisse, a Taesa reportou um bom resultado regulatório e acima das expectativas, com base em novos ativos adquiridos ainda não incorporados ao modelo do banco suíço.

A XP também ressalta que os números foram acima do esperado devido à combinação de um resultado operacional melhor do que o esperado e menores despesas financeiras líquidas do que o esperado.

A empresa anunciou uma distribuição total de dividendos e juros sobre o capital próprio de R$ 279,3 milhões (R$ 0,81 por unit ou um dividend yield de 2,86%). O pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio será em 26 de agosto de 2020, com base na posição acionária em 17 de agosto de 2020.

“Destacamos como positivo que a empresa manteve sua prática de distribuição de proventos nos patamares elevados, refletindo o forte potencial de geração de caixa da companhia e o menor perfil de risco do setor de transmissão de energia (…) Apesar de destacarmos que empresas de transmissão de energia são uma alternativa a investidores em tempo de volatilidade, acreditamos que tal fator está refletido na melhor performance relativa das ações comparadas ao Ibovespa no acumulado do ano”, avalia a XP, reiterando recomendação neutra para o ativo.

Tecnisa (TCSA3, R$ 10,65, -0,65%) 

O prejuízo líquido da Tecnisa caiu 72% no segundo trimestre, indo a R$ 40,3 milhões. A receita operacional líquida caiu de 29%, para R$ 33,8 milhões. Já o Ebitda ajustado negativo teve queda de 78%, a R$ 26,4 milhões.

“A Tecnisa apresentou mais um prejuízo líquido, conforme o esperado, com a ausência de lançamentos e consequente redução da receita. A aquisição de terrenos foi um destaque, com a empresa anunciando que entre junho e julho, adquiriu oito terrenos na cidade de São Paulo com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 957 milhões”, aponta o Itaú BBA, que possui recomendação neutra para o ativo.

Aliansce Sonae (ALSO3, R$ 27,70, -7,33%)

A Aliansce Sonae registrou lucro atribuível aos acionistas controladores de R$ 35,7 milhões, queda de 4% na comparação anual, enquanto a receita líquida subiu 29%, para R$ 172,3 milhões.

Conforme destaca a Levante, os números foram bastante afetados pela pandemia, mas vieram em linha com as expectativas, com destaque para a queda expressiva nos seus principais indicadores operacionais: redução de 85% nas vendas totais dos lojistas, pois os shopping centers estiveram abertos apenas 11% das horas disponíveis no trimestre.

O principal destaque negativo foi o aumento na provisão para devedores duvidosos (PDD) de R$ 18,4 milhões no trimestre, quase 3 vezes superior ao montante do mesmo período de 2019. Ainda nessa linha, houve aumento da inadimplência para 8,7% (1,3% no segundo trimestre de 2019).

Assim como no primeiro trimestre de 2020, a companhia realizou um ajuste de aluguel linear. Mesmo com esse ajuste de R$ 126,9 milhões no trimestre, o lucro operacional dos shoppings (NOI) atingiu R$ 4,8 milhões.

O destaque positivo, assim como no trimestre anterior, foi a menor despesa financeira, que caiu 58,6% devido à menor taxa de juros vigente, destacam os analistas.

“Os principais catalisadores para as ações do setor são: duração da quarentena nos grandes centros, bem como o ritmo de recuperação na confiança do consumidor e nas vendas do varejo físico.  Especificamente para as ações ALSO3, o desenvolvimento dos projetos envolvendo seu banco de terrenos podem destravar bastante valor ao acionista no médio e longo prazo”, afirmam.

Vale destacar que a empresa também forneceu informações mais detalhes sobre seus projetos envolvendo seu enorme banco de terrenos de 4,4 milhões de metros quadrados. Enquanto o maior potencial construtivo envolve empreendimentos no entorno do Parque D. Pedro Shopping em Campinas, São Paulo, a empresa também possui projetos de curto prazo (6 com contratos assinados e 12 em negociação).

Locaweb (LWSA3, R$ 52,90, +2,36%)

A Locaweb viu seu lucro subir 41% no segundo trimestre, passando para R$ 5,2 milhões. Já a receita totalizou R$ 117,3 milhões, alta de 24,7%.

Conforme aponta a XP Investimentos, a Locaweb reportou fortes resultados, acima do esperado. O destaque positivo foi a operação de commerce (45% do Ebitda), que mostrou a maior expansão trimestral de novas lojas virtuais da história da companhia, tendo inclusive acelerado em julho (alta de 347% versus a média do quatro trimestre). “Por outro lado, a rentabilidade da operação de Be Online / SaaS foi negativamente afetada por despesas pontuais”, apontam.

Já o lucro líquido ajustado de R$ 12 milhões foi 20% acima da expectativa da XP de R$ 10 milhões, apresentando um crescimento de 150% na comparação anual. “Mantemos nossa recomendação de compra com preço-alvo de R$ 55,00 ao final de 2020. Apesar da pressão na rentabilidade no segmento Be Online / Saas, os números reportados vieram acima das nossas estimativas e do consenso de mercado. Acreditamos que o foco dos investidores permanecerá na forte aceleração da operação de Commerce”, apontam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.